terça-feira, 22 de maio de 2012

Eu quero Tchu... Eu quero Tcha... Eu quero chutchatcha…


Aracy e Guimarães Rosa

José Maria Vasconcelos, cronista
josemaria001@hotmail.com

Como tantos outros rebolados, rebolations, "eu tô maluco", eletrizantes e sensuais, tão fugazes e meteóricos, logo desaparecem. "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha..." é da hora, invade o planeta, jogadores famosos festejam o gol, em requebros para a plateia. Restará aos autores da espasmódica canção e mixuruco texto e gingado apelativo, uma montanha de dinheiro e fama transitória.
Condenam-se tais rebolados. Piores do que os pinotes e malabarismos escandalosos de gestores? Sacaneiam a opinião pública, até o nome Deus. Dançam, gingam, tripudiam, sem tapa-sexo, sem dignidade: "Eu quero mais...muito mais...e tcham, tcham, tcham para otários éticos." Parlamentar sacoleja a pança, rebola-se como secretário, esfregando a vergonha, há décadas, com obesos contracheques, sem nunca ter pisado no emprego de banco estatal. A mulher se esbalda em luxuriantes 20 mil paus, como procuradora do Estado, nunca piscou o olho para o trabalho. Na dança irreverente de contracheques, filhos e irmãos se derretem e compõem o ritmo da malandragem. Bananas e maior-de-todos para a moral cristã, para a infância e velhice abandonadas nos hospitais, para as obras inacabadas.
Francisco Cambraia, irmão de ex-prefeito de Fortaleza, acaba de me enviar documentário sobre a bela Aracy Guimarães Rosa. Separada do marido, foi morar com a tia na Alemanha, nos anos 30. Dominando alemão, Aracy conseguiu emprego no consulado brasileiro de Hamburgo. João Guimarães Rosa, também separado da esposa, antes de sair do Brasil, foi servir no consulado de Hamburgo. Conheceu Aracy, casaram-se. Uma circular do Itamaraty proibia vistos de saída a judeus para o Brasil. Aracy driblava as autoridades, permitindo vistos àquele povo perseguido pelo nazismo. Guimarães Rosa sabia do ato humanitário e arriscado da esposa, permitindo os vistos. Aracy salvou centenas de judeus do holocausto. O governo de Israel, mais tarde, homenagearia a benfeitora, em memorial de Jerusalém, onde constam nomes de 18 diplomatas que salvaram judeus da carnificina nazista.
Guimarães Rosa morreu em 1967. Aracy nunca mais se casou, nem se assoberbou de viúva do imortal escritor. Acolheu perseguidos políticos do governo militar, acolhendo-os na Alemanha, entre os quais cantor Geraldo Vandré.
Em 1985, a heroína dirigiu-se a Israel para condecoração, bem como a Washington, pelo governo americano. Faleceu em 2011, aos 103 anos. Nenhuma homenagem do governo brasileiro. Aqui se homenageiam esposas, filhos, parentes, distribuem-se, servilmente, títulos de cidadania. Essa gente segue códigos egoístas de "Mateus, primeiro os meus." E ainda tripudia a opinião pública, dançando, nus de vergonha na cara, o rebolation, a ginga do Tcham na boquinha da garrafa. Quantas boquinhas imorais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário