quarta-feira, 23 de maio de 2012

O MARIDO VOYEUR


Foto meramente ilustrativa

23 de maio   Diário Incontínuo

O MARIDO VOYEUR

Elmar Carvalho

Narrei a um tenente, amigo meu, um caso que foi contado, muitos anos atrás, a um outro amigo, por um velho marinheiro aposentado. O caso era um tanto escabroso, inusitado e tinha algo de tara bizarra. Mal terminei de contar essa história, algo chocante, o tenente disse:
- Tenho algo muito mais interessante para contar, e que aconteceu comigo mesmo.
Como eu tenha duvidado, o tenente reafirmou que o seu caso era mais inacreditável, e contou-me o que passarei a relatar. Talvez algum dia eu crie coragem para escrever sobre o caso acontecido com o velho marinheiro e sua mulher.

Quando o tenente, então sargento, servia em outro estado, antes de regressar definitivamente ao Piauí, sua terra natal, foi a uma festa na capital dessa unidade federada. Para seu contentamento, uma mulher, muito bonita e muito bem trajada, com roupas que lhe assentavam divinamente, começou a olhar para ele com certa insistência. O tenente é do tipo paquerador, e tratou de corresponder ao flerte da madame. Ela veio até ele e o convidou para dançarem. O meu amigo, lógico, não se fez de rogado. Não demorou e já estavam aos beijos, abraços e amassos.

A mulher convidou o bravo militar para que fossem até sua casa, a pretexto de que lá estariam em segurança, e teriam conforto e um bom uísque. O tenente desta feita ficou muito desconfiado, temendo algum tipo de cilada. Fez algumas perguntas, entre as quais se ela era casada. A mulher disse que ele não se preocupasse, pois o maridão viajara para o exterior, a serviço, e só voltaria dali a alguns dias. O meu amigo continuou arisco, afinal era, como dizem, “muita areia para o seu caminhãozinho, e muita carne para o seu açougue”. Por outro lado, matutou o militar, quando a esmola é grande, o cego desconfia. Mas a mulher o tranquilizou, e ele seguiu no carro dela.

Foram logo, como dizem os escritores castiços e antiquados, para o tálamo conjugal, ou, como falam os irreverentes e debochados, para o abatedouro. O tenente se esbaldou. A mulher fez de tudo para agradá-lo, inclusive deu-lhe um completo banho de gato, que culminou em um felatio, feito com esmero e muito tempero, minúcia e rara competência, como se fora praticado por uma profissional do sexo ou uma sacerdotisa do amor. A mulher parecia estar a exibir-se, para invisível plateia ou para oculto olho eletrônico, tanto nas poses como nos urros e sussurros. Duas ou três horas e várias inusitadas posições depois, quase diria performances artísticas de dois acrobatas circenses, e já encerrado o terceiro round, o nosso heroi partiu para o justo e merecido repouso do guerreiro.

Eis que senão quando, de forma inesperada, mas de maneira suave, a porta se abriu, deixando surgir a figura de um homem forte, alto, bem apessoado, e de aparência máscula, viril. O tenente temeu o pior, talvez um duplo homicídio, dele e da parceira, quem sabe seguido de um suicídio, ou, na melhor ou pior hipótese, ser ele sacrificado com uma curra, sob a nada convincente, mas coercitiva ameaça de uma pistola. Procurou erguer-se do leito, para tentar ao menos esboçar alguma forma de defesa, mas foi impedido pela mulher, que calma e delicadamente disse para ele não se preocupar, que a chegada do seu marido já estava combinada com ela. A seguir, sussurrou em sua orelha que o seu marido só fazia sexo com ela, após vê-la transar com outro homem.

Passado o descomunal susto, o nosso heroico tenente notou que o homem esboçava um leve sorriso, quando lhe disse da maneira mais gentil:
- Espere-me na sala, que depois lhe deixarei em sua casa. Pode tomar a bebida que você quiser. Não se acanhe, o bar é todo seu...
Quarenta minutos depois, o homem deixou o quarto e veio até a sala. Parecia muito feliz e relaxado. Perguntou se o meu amigo desejaria ir logo, ao que ele assentiu. No carro, o marido da bela matrona ainda lhe deu uma polpuda gratificação. Apenas, em troca, pediu que ele não contasse o caso para ninguém, pois era executivo de uma poderosa empresa, e não queria saber de escândalo. Como o tenente não tem o hábito de contar potocas, dou o caso como verdadeiro, e aqui encerro este conto da vida dita real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário