Fonseca Neto
Outro dia esteve em
Teresina o deputado federal Aldo Rebelo, ministro do Esporte. Em
coletiva, fez uma alusão à sua primeira vinda a esta terra, quando
“o Osmar Júnior era presidente do DCE da Ufpi”.
Vou fazer aqui um reparo à recordação do valoroso camarada, não para pegar em seu pé alagoano, mas para homenageá-lo. Entendo que ele não tem a obrigação de recordar, em detalhes, datas e pessoas com as quais partilhou experiências em sua tão já extensa caminhada militante.
Aldo veio aqui pela primeira vez em 1980; o presidente do DCE/Ufpi era o alinhavador desta memória - fui presidente dessa entidade no mandato livre de maio de 1980 a maio de 1981. No mandato anterior, 79/80, o DCE ainda vinculado à burocracia ufpiana, já nosso grupo político fora eleito e o dirigira – quando, por decisão do Cepex, fui compulsoriamente substituído pelo vice, o estudante de Medicina, Luís “Paulista”.
Em maio de 79 fomos a Salvador para o Congresso de reconstrução da UNE e lá conhecemos Aldo, já uma liderança proeminente, meses depois escolhido em eleições diretas para Secretário Geral da UNE, pela chapa Mutirão, gestão 79/80, à frente o estudante Rui César Costa Silva, presidente do DCE da Ufba. Aproximando-se o final desse mandato, num contexto de racha na Diretoria, para as eleições de novembro de 1980, saíram duas candidaturas: a do Aldo, chapa Viração, e outra, encabeçada por Marcos Galvão, o “Kalói”, chapa Voz Ativa, esta apoiada pelo presidente Ruy. Ganhou a Viração, do Aldo. E foi a articulação dessa chapa que o trouxe aqui pela primeira vez. Esse racha era, antes de tudo, um racha no PCdoB, do ponto de vista de sua inserção no Emeé: parte de nossa própria Diretoria, aqui, ficou então com Kalói e outra com o Aldo. E é bom recordar que esse debate, rachas e eleições acaloradas, ocorreram sobre uma fogueira em labaredas vivas no mundo da esquerda, traduzida na criação, naquele ano, do Partido dos Trabalhadores. Conjuntura de clara fragilização da Ditadura, economia em frangalhos e a grande imprensa empresarial abrindo algum espaço à contestação do regime.
Força hegemônica no DCE do Piauí, os estudantes organizados no GEG (Grupo de Estudos Gerais, atuando na esfera eleitoral como espécie de “corrente”, a Travessia), ainda em 78, estabelecemos ligações com o DCE da Bahia, na gestão de Valdélio Silva, da tendência Viração, aos quais seguiríamos até o Congresso de Salvador e com quem votaríamos as propostas em deliberação. Fora nossa principal referência nesses passos iniciais do DCE/Ufpi. Vandilson Costa, um dedicado militante comunista, esteve conosco mais de uma vez nos atos preparatórios do Congresso.
Nessa primeira vinda do Aldo ele foi meu hóspede. E em minha mente um episódio ilustrativo. Ao deixarmos a sede do DCE, entre dez e onze da noite, rumo à minha casa, onde jantaríamos, pediu passássemos numa Banca para comprar o Estadão, porque, disse-me, não conseguiria dormir sem ler o Caderno de Esportes. Acelerei rumo à praça Pedro II, aventurando encontrar aberta a revistaria do Joel. Estava fechada, mas ainda com as frestas acesas, sinal de gente dentro do quiosque. Chamei mais de uma vez e um atendente nada humorado respondeu dizendo para voltar no dia seguinte. Expliquei e passei a imploração ao próprio Aldo, que o convenceu a abrir o balcão, entregar o exemplar e receber o pagamento. Tocamos para casa. Lá, jantamos, o Aldo foi apresentado ao quarto em que dormiria, pedindo para ficar na sala, lendo, até mais tarde. De fato, ficou. Pelas duas e meia p. três da madrugada, minha mãe percebeu que ele não deitara e então foi pedir que o fizesse. Disse-me depois que lera o dito Caderno, o jornal todo e mais alguma coisa.
Depois contei o fato aos companheiros e todos ficamos pasmos com essa paixão dele por futebol. Para nós, um jovem comunista não poderia se preocupar com isso, coisa de alienado, trauma da geração do Tri, evento da propaganda Médici. Ficou essa boa lição de Rebelo, agora significada em sua atuação à frente do Esporte brasileiro.
Vou fazer aqui um reparo à recordação do valoroso camarada, não para pegar em seu pé alagoano, mas para homenageá-lo. Entendo que ele não tem a obrigação de recordar, em detalhes, datas e pessoas com as quais partilhou experiências em sua tão já extensa caminhada militante.
Aldo veio aqui pela primeira vez em 1980; o presidente do DCE/Ufpi era o alinhavador desta memória - fui presidente dessa entidade no mandato livre de maio de 1980 a maio de 1981. No mandato anterior, 79/80, o DCE ainda vinculado à burocracia ufpiana, já nosso grupo político fora eleito e o dirigira – quando, por decisão do Cepex, fui compulsoriamente substituído pelo vice, o estudante de Medicina, Luís “Paulista”.
Em maio de 79 fomos a Salvador para o Congresso de reconstrução da UNE e lá conhecemos Aldo, já uma liderança proeminente, meses depois escolhido em eleições diretas para Secretário Geral da UNE, pela chapa Mutirão, gestão 79/80, à frente o estudante Rui César Costa Silva, presidente do DCE da Ufba. Aproximando-se o final desse mandato, num contexto de racha na Diretoria, para as eleições de novembro de 1980, saíram duas candidaturas: a do Aldo, chapa Viração, e outra, encabeçada por Marcos Galvão, o “Kalói”, chapa Voz Ativa, esta apoiada pelo presidente Ruy. Ganhou a Viração, do Aldo. E foi a articulação dessa chapa que o trouxe aqui pela primeira vez. Esse racha era, antes de tudo, um racha no PCdoB, do ponto de vista de sua inserção no Emeé: parte de nossa própria Diretoria, aqui, ficou então com Kalói e outra com o Aldo. E é bom recordar que esse debate, rachas e eleições acaloradas, ocorreram sobre uma fogueira em labaredas vivas no mundo da esquerda, traduzida na criação, naquele ano, do Partido dos Trabalhadores. Conjuntura de clara fragilização da Ditadura, economia em frangalhos e a grande imprensa empresarial abrindo algum espaço à contestação do regime.
Força hegemônica no DCE do Piauí, os estudantes organizados no GEG (Grupo de Estudos Gerais, atuando na esfera eleitoral como espécie de “corrente”, a Travessia), ainda em 78, estabelecemos ligações com o DCE da Bahia, na gestão de Valdélio Silva, da tendência Viração, aos quais seguiríamos até o Congresso de Salvador e com quem votaríamos as propostas em deliberação. Fora nossa principal referência nesses passos iniciais do DCE/Ufpi. Vandilson Costa, um dedicado militante comunista, esteve conosco mais de uma vez nos atos preparatórios do Congresso.
Nessa primeira vinda do Aldo ele foi meu hóspede. E em minha mente um episódio ilustrativo. Ao deixarmos a sede do DCE, entre dez e onze da noite, rumo à minha casa, onde jantaríamos, pediu passássemos numa Banca para comprar o Estadão, porque, disse-me, não conseguiria dormir sem ler o Caderno de Esportes. Acelerei rumo à praça Pedro II, aventurando encontrar aberta a revistaria do Joel. Estava fechada, mas ainda com as frestas acesas, sinal de gente dentro do quiosque. Chamei mais de uma vez e um atendente nada humorado respondeu dizendo para voltar no dia seguinte. Expliquei e passei a imploração ao próprio Aldo, que o convenceu a abrir o balcão, entregar o exemplar e receber o pagamento. Tocamos para casa. Lá, jantamos, o Aldo foi apresentado ao quarto em que dormiria, pedindo para ficar na sala, lendo, até mais tarde. De fato, ficou. Pelas duas e meia p. três da madrugada, minha mãe percebeu que ele não deitara e então foi pedir que o fizesse. Disse-me depois que lera o dito Caderno, o jornal todo e mais alguma coisa.
Depois contei o fato aos companheiros e todos ficamos pasmos com essa paixão dele por futebol. Para nós, um jovem comunista não poderia se preocupar com isso, coisa de alienado, trauma da geração do Tri, evento da propaganda Médici. Ficou essa boa lição de Rebelo, agora significada em sua atuação à frente do Esporte brasileiro.
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