Poeta Alcenor, na charge de Fernando di Castro |
Elmar e Anita |
27 de junho Diário Incontínuo
A MORTE DA CADELA DO POETA
A MORTE DA CADELA DO POETA
Elmar Carvalho
De manhã cedo, recebi um comovente e-mail do Alcenor
Candeira Filho e de sua esposa Ana Lúcia (Aninha), dando-me a
notícia de que a sua cadelinha Bela havia morrido. Alcenor, como
todos sabemos, é um dos maiores poetas e críticos da Literatura
Piauiense, além de ser um dos mais respeitados professores dessa
disciplina. Cultivamos uma amizade de três décadas e meia, que
remonta aos meus primórdios parnaibanos.
O
seu bilhete eletrônico foi vazado nos seguintes termos:
“Eu
e Ana Lúcia acabamos de reler o seu comovente texto "Anita".
Acabo de reler também o famoso capítulo sobre a morte da cachorra
Baleia, em "Vidas Secas".
O interesse neste momento pela releitura desses dois grandes textos se deve à recente morte de nossa cadelinha "Bela". Aos seis anos de idade. Problema de plaqueta baixa e crise hemorrágica. A saudade é imensa. A leitura que acabamos de fazer calou fundo na nossa alma, fazendo um enorme bem.”
O interesse neste momento pela releitura desses dois grandes textos se deve à recente morte de nossa cadelinha "Bela". Aos seis anos de idade. Problema de plaqueta baixa e crise hemorrágica. A saudade é imensa. A leitura que acabamos de fazer calou fundo na nossa alma, fazendo um enorme bem.”
Triste
com a notícia da morte da cachorrinha, mas contente com as palavras
que ele disse sobre meu texto, enviei-lhe a seguinte resposta
internética:
“Lamento
muito a morte de sua cadelinha. Fiquei comovido com suas palavras
sobre o texto a respeito da Anita. Posso dizer que foi um dos maiores
elogios que um autor piauiense poderia receber. Li um texto, no
Navegação de Cabotagem, em que o Jorge Amado disse que deixou de
criar animais para não mais sofrer com a morte deles. É um dilema,
que a gente tem de resolver. Criar ou não criar. A tristeza com a
morte deles é grande. Fica um grande vazio, preenchido apenas pela
dor.”
O
meu texto, referido pelo poeta Alcenor, titulado Anita,
encontra-se disponível nos mares internetianos. Tem comovido alguns
leitores. Tenho notícias de lágrimas derramadas por algumas
leitoras mais sensíveis. Nele eu falo da beleza inefável e fofa de
nossa cachorra, de suas graças, amuos e chiliques. E sobretudo falo
de um envenenamento que ela sofreu, em que eu e minha família
pensamos que ela fosse morrer, o que nos causou preocupações e
sofrimentos.
Felizmente
ela continua viva, embora seja hoje uma anciã. Por vezes temos que
suportar os seus achaques e enjoos. Mas ela nos compensa e cativa com
a sua graça e afeição. Creio que após as mortes da Anita e da
Belinha, que espero demorem muito ainda, não mais iremos criar esses
animais, para não termos de amargar a dor da perda, assim como
fizeram Jorge Amado e Zélia Gattai. Quanto ao texto de Graciliano
Ramos, dispensa comentários. É uma das maiores páginas em prosa da
literatura brasileira e universal. Embora seja o capítulo de um
romance, pode ser lido como um conto, de forma independente. Texto
magnífico, merece ser lido ou relido por quem acaso me esteja
honrando com a sua leitura.
Em
vários poemas, crônicas e contos, muitos publicados na grande rede,
tenho tratado dos sofrimentos e maus-tratos que o ser humano vem
causando aos animais. Já escrevi sobre cachorros, jumentos, urubus,
bem-te-vis, sabiás, rolinhas, mucuras, preguiças, e até sobre
lobisomens, mistura mítica de lobo e de homem. Os jumentos
tornaram-se, digamos, obsoletos, e hoje vagam, abandonados, pelas
beiras das estradas, a morrer e a matar em acidentes de trânsito.
Tenho dito que enquanto o homem maltratar os bichos, ele terá muito
ainda que evoluir espiritualmente. Talvez seja mais do que o momento
de se criar a Lei Áurea da libertação dos animais, os nossos
irmãos menores.
De fato, nos apegamos a tudo que nos afeta. Ora, se sentimos a falta até daquilo que nos prejudica, quanto mais daqueles que retribuem o carinho que dispensamos. Diante disso, acabo de visualizar um esquema mental. Vejo essas relações de apego como a água percorrendo vários tipos de terreno. Em alguns, transcorre sem molhá-los muito, ou seja, sem deixar muito de si, mas, a outros solos, chega a encharcá-los, pois deixa muito de si.
ResponderExcluirEntendo o afeto sentido pelos animais de estimação como um desses terrenos alagados. Afinal, são "regados" por muitos dias. (Nelson Rios)
Caro Nelson,
ResponderExcluirvc além de um mestre da Física e da Matemática, está enverando também pela filosofia, e terminou fazendo uma parábola à Cristo.