28 de junho Diário Incontínuo
UM CASO DE ADULTÉRIO
Elmar Carvalho
Estava conversando, faz poucos dias, com um amigo sobre
assuntos diversos e aleatórios, quando, por associação de ideias,
ele me contou um caso interessante de que ele fora protagonista.
Serei fiel à sua narrativa, porém omitirei nomes de pessoas e
lugares, de sorte a dificultar a identificação dos fatos que me
foram revelados como sendo verdadeiros.
A trama se passou em outro estado, onde residiu esse meu
amigo. Quando ele tinha apenas 21 ou 22 anos de idade, e morava numa
cidade interiorana, fixou residência em um condomínio. Certo dia,
sobraçava ele algumas fitas de filmes, à esperava do elevador,
quando se aproximou uma deslumbrante mulher casada, que ele vira
algumas vezes. A senhora o cumprimentou, e perguntou se os filmes
eram bons. O rapaz, um tanto acanhado, respondeu que não sabia, vez
que ainda não os vira.
Um ou dois dias depois, o jovem ouviu tocar a campainha.
Ao abrir a porta do apartamento, para sua total surpresa, deparou-se
com a bela e jovem senhora que lhe perguntara sobre os filmes. Ela
estava com uma roupa, que mais realçava que escondia as suas
atraentes curvas. Sem rodeios, disse que viera assistir aos filmes
com o meu amigo. Para não entrar em enfadonhas delongas e nem fazer
desnecessários suspenses e mistérios, que isso deixarei para os
romancistas e contistas, direi logo que eles não apenas viram
filmes, mas fizeram uma verdadeira encenação cinematográfica
pornô.
A mulher, talvez para se justificar, revelou que era
casada com o delegado regional do município, com o qual tinha um
filho; que ele era homossexual, e que se casara apenas para manter as
aparências; que frequentemente viajava para a capital do estado,
onde era sócio de uma casa comercial. Era por ocasião dessas
viagens que ele deveria encontrar-se com o seu parceiro. Ele lhe
exigira, na época das núpcias, que ela levasse uma vida discreta, e
jamais se envolvesse em escândalos, mas sem lhe revelar, contudo, a
sua condição de gay.
A mulher começou a amiudar os encontros, chegando ao
cúmulo de procurar o amante nos bares em que ele se encontrava a
beber com amigos, pelo que este lhe repreendeu a atitude. Começou a
fazer cenas de ciúme, o que causou preocupação ao rapaz. Por tais
motivos, o meu amigo, em busca de conselho, contou o caso a um seu
amigo, já cinquentão e casado. Este aproveitou a oportunidade para,
sem a menor cerimônia ou constrangimento, pedir ao confidente, que
lhe conseguisse a irmã da adúltera, que por sinal era outro
“pitéu”, quase ainda uma ninfeta, não menos bela e nem menos
sensual.
A irmã da mulher do xerife, graças à intermediação
desta, passou a ter um caso com o velho dom Juan. E na parte que diz
respeito a meu amigo, a história, se não teve um final feliz, ao
menos não teve um epílogo trágico, com tiros, mortes e suicídio.
Simplesmente, ele se mudou para outra cidade, e não mais reviu a
bela, sensual e ardente mulher do senhor delegado regional de...
Melhor pingar o ponto final e ser discreto, para o bem de todos e
felicidade geral dos envolvidos.
A forma como se vê um fato do qual se é protagonista, depende, dentre outras coisas, do tempo, ou seja, certamente, na época em que viveu o romance, provavelmente, seu amigo suasse a testa na hora em que lembrava do delegado, mas hoje, ele lembra com saudades, vaidade e alívio. Cá entre nós, se revirarmos os baús das nossas memórias, todos temos alguma história que nos arranca alguns risinhos safados. Faz parte da nossa natureza.
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