segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Aniversário de Teresina pelas torres da S. Benedito



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

O garoto aproveitou a distração do sacristão, abriu a porta, subiu a escada arredondada e estreita de madeira. Postou-se no último degrau, próximo à imagem de São Benedito. Vento gelado soprava entre as torres, tremer canelas e temor da queda. Era 1960, Teresina 108 anos.
Do alto das torres, descortinava-se a modesta Teresina de 145 mil habitantes e prédios baixos. Só se destacavam as torres das igrejas, os oito andares do INPC(INSS) na Praça João Luís. A capital não passava dos rios Parnaíba e Poti. Podiam-se contemplar as extremidades facilmente: ao sul, acabava no Bairro Vermelha, de barro e poeira vermelhos; Avenida Barão de Gurgueia, única saída da cidade para o sul do Estado. Ao norte, acabava no aeroporto. Logo mais, vazio tomado de vegetação, até à Vila do Poti. Bairro Buenos Aires, vila isolada, distante da Praça do Marquês.
Do antigo Seminário Arquidiocesano, na Avenida Frei Serafim, seminaristas desciam a ladeira, onde hoje fica a Agespisa, iam tomar banho no Poti. A implantação da Ponte Juscelino Kubitschek, ligando a Avenida Frei Serafim à Zona Leste, incentivou a construção do Clube do Jóquei e o balneário do Clube dos Diários. Na saída da ponte, na entrada para a Av. N.Senhora de Fátima, funcionava o Posto Fiscal. Grupos de matutos, como eram chamados agricultores do interior, montados em jumentos e cavalos, acompanhavam noivos trajados de branco, acampavam nos arredores do Posto, festivos e fogueteiros, para casamento na cidade. Daí o Bairro dos Noivos.
Na Zona Leste, multiplicaram-se belas residências e cultivo de pomares em extensos lotes. À noite, a temperatura caía em mais de 5 graus em relação ao Centro. Toda a faixa da Catarina e Monte Castelo coberta de florestas, dominadas de macacos e animais silvestres. "Onde você mora?" ao que se ouvia: "Moro na Floresta", hoje Alegria, pelos bailes comuns da caboclada, naquela região pós Catarina.
Os sinos da Igreja São Benedito badalavam às 4 da madrugada, para missa dominical das cinco. Ouvia-se o bimbalhar em quase toda a cidade, bem como o apito bucólico da Usina Elétrica(Cepisa), às 9 da noite.
A "alta sociedade" deleitava-se no Iate e Jóquei, especialmente nos bailes de debutantes, reveillons, eleição de misses, exigindo passeio completo. Os Diários, mais populares, refrescava a juventude aos domingos, após encontros noturnos até às 9, na Praça Pedro II ou no cinema. Vida noturna findava por volta da meia-noite. Bar Carnaúba, chique e bom-gosto, todo de carnaúba, ao lado do Teatro 4 de Setembro. Dois irmãos argentinos, no comando, revolucionaram a gastronomia local com pratos e bebidas finas.
Manhã de domingo, coroas do Parnaíba e Poti lotadas de areia branca e gente bonita, desconhecia poluição. Teresina se abraçava, todos se conheciam e se temiam na moralidade. Moças demais divertidas espantavam rapazes, exceto para "empinar"(amassos). Perder virgindade, caía no mundo, desembocando nos cabarés, às vezes, ainda adolescentes e expulsas da família.
Do alto daquelas torres, o garoto não imaginava que, um dia, nos 160 anos de Teresina, 1 milhão de habitantes, rodeada de favelas, estimuladas pela ambição política e irresponsável de gestores e candidatos, arruinariam o cinturão verde da capital, avançariam nos impostos para doação de telhas, barro, areia e votos. O menino não imaginava quase uma dúzia de pontes, belas avenidas e praças iluminadas, centenas de gigantes de concreto, nem Parque Lagoas do Norte, nem asfalto (só aeroporto tinha), nem tanta safadeza de gestores públicos, nem rios poluídos, nem imprensa avançada, nem futebol peba, nem fartura, diversão e gente bonita nos shoppings, nem badalação noturna de segunda a segunda, nem empreendedorismo, especialmente de jovens, nem droga, violência e assassinatos diários. Aquele garoto ama pra burro esta mesopotâmica capital, cheia de desafios, como subir a uma torre por escada íngreme.

Um comentário:

  1. Nos anos 60 ainda rapazote residindo no bairro Piçarra, sempre ia ao centro de Teresina com minha tia Eduvirgem vender redes e por curiosidade adentrei uma vez na igreja de São Benedito e esta imagem ficou retida na minha memória.

    Importante templo católico construído pelo missionário italiano Frei Serafim>>>>>Avenida Frei Serafim cartão de visita da minha querida verde cap.


    são paulo, h.lima

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