quinta-feira, 11 de outubro de 2012

PUNIÇÃO EXEMPLAR



10 de outubro

PUNIÇÃO EXEMPLAR

Elmar Carvalho

Numa rápida folga dos serviços eleitorais, um militar, instigado por um comentário que fiz sobre os maus-tratos que se cometem contra os animais, me revelou que quando era criança presenciou uma cena que ainda lhe está muito nítida na memória. Ia ele passando por uma rua de Teresina, quando viu um pequeno jumento a puxar, com muita dificuldade e esforço, uma carroça, que levava pesada carga. O carroceiro, para estimulá-lo, rodava o chicote sobre o lombo do animal e, às vezes, dava-lhe algumas vergastadas.

Como se não fosse o suficiente a carga desproporcional, ainda ia ele em cima da viatura rudimentar, todo ancho e pachola. Quando chegaram a uma esquina, os pneus da carroça ficaram retidos numa valeta que havia. Em virtude de o asno não ter força suficiente para mover o veículo de carga, o carroceiro irritou-se, como se o pobre bicho tivesse alguma culpa, e começou a chicoteá-lo de forma violenta. De uma mesa, a tomar calmamente, sua cerveja, um homem observava a cena desumana.

Como as imprecações e as chibatadas do carroceiro continuassem, de forma estúpida e inútil, já que o jegue não conseguia mesmo movimentar a carroça, o homem que bebia a cerveja falou para o outro:
– Espere, que vou lhe mostrar como se deve fazer, pois também sou carroceiro...
Quando chegou ao local da ocorrência bárbara, o espancador lhe entregou o chicote.

Imediatamente, sem lhe dar a menor chance de defesa, o cidadão vibrou duas ou três violentas chibatadas contra o agressor do jumento, a ponto de ele se contorcer de dor e empreender imediata fuga. Após essa primeira providência, o defensor do jerico o desatrelou da carroça, e o levou a uma sombra, onde o deixou a pastar o verde e tenro capim que havia no local. Em seguida, foi calmamente tomar outra garrafa de cerveja. Talvez a comemorar, feliz da vida, a bela ação que praticara.

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