quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O DIA DE FINADOS E OS “MEUS” CEMITÉRIOS



7 de novembro

O DIA DE FINADOS E OS “MEUS” CEMITÉRIOS

Elmar Carvalho

Sabendo que não iria a nenhum cemitério no Dia de Finados, decidi reler a crônica de Clodoaldo Freitas intitulada O Dia de Finados, enfeixada no livro Em Roda dos Fatos. Nela estão contidas profundas reflexões sobre a morte humana, de caráter religioso, filosófico e histórico. Não irei, neste breve registro, fazer reflexões sobre esse tema, para alguns tão cheio de medos e mistérios, mas apenas retomarei umas ideias que já defendi em outra oportunidade, creio que neste mesmo diário. Essa matéria foi publicada na internet, em alguns sítios eletrônicos.

Ainda no inicio de minha adolescência, estive em cemitério algumas vezes, movido mais por curiosidade intelectual e artística, para ver as linhas arquitetônicas dos túmulos e a beleza das esculturas de anjos e santos, e também para ler as lápides, em busca de descobrir figuras históricas ou simples conhecidos e parentes. Em alguns casos, fazia um rápido cálculo mental, para saber quantos anos o morto tinha vivido. Segundo as inscrições, todos haviam sido bons e deixado saudades.

Estive sobretudo nos cemitérios velhos de José de Freitas e de Campo Maior. Neste, descobri, quando tinha 16 anos de idade, o túmulo do poeta Moisés Eulálio, que terminou me rendendo uma crônica, publicada no jornal A Luta, a pedido de meu pai. Foi um de meus primeiros textos a ganhar publicidade em letra de forma. Era um dos diretores do periódico Octacílio Eulálio, irmão do poeta.

Tempos mais tarde, já no final dos anos 80, ou começo dos 90, ciceroneado por Carlos Rubem Campos, escritor e promotor de Justiça, conheci o cemitério velho de Oeiras. Na oportunidade, conheci o túmulo do grande poeta Nogueira Tapety, em cuja lápide consta que ele amou o bem e o belo. Antes, eu havia escrito uma crítica literária sobre o autor de Senhora da Bondade, soneto antológico, por muitos recitado de cor. Instigado pelo advogado Talver Mendes de Carvalho, escrevi uma ode a esse vetusto campo santo, que é tão histórico e valioso quanto os demais.


Recentemente, defendi a ideia de que o velho campo santo de Campo Maior fosse restaurado e transformado numa espécie de museu a céu aberto. Para isso, deveria haver projeto de arquiteto experimentado em restaurações. Na minha proposta, haveria algumas pequenas intervenções, como a criação de alamedas, jardins e caramanchões, a colocação de esculturas alegóricas, a construção de um monumento/memorial e de um espaço ecumênico, em que as pessoas pudessem se reunir para cultos ou mesmo palestras temáticas. Além do aspecto da preservação histórica e cultural, esse projeto serviria para que as pessoas melhor aceitassem a morte, que é uma consequência da própria vida, ou o portal para uma outra vida.

Acredito que essa obra de conservação e restauração, tal como estou defendendo, seria única, se não no Brasil, pelo menos o seria no Piauí. Os cemitérios em nossas cidades, depois de desativados para sepultamentos, são praticamente abandonados, ou passam a ser mais mal cuidados do que já eram antes. Alguns são estupidamente destruídos, para a construção de algum logradouro, seja rua ou praça. No modo como estou propondo, haveria conservação e restauração, sem prejuízo das intervenções, que seriam feitas de forma cuidadosa, criteriosa e como parte de um projeto de arquitetura.

A obra que estou a defender creio seria única, ao menos no Piauí, e preservaria a história, a cultura, o respeito aos mortos e à sua memória, além de que seria, como disse, um museu e um local para reflexão, passeio e reuniões, em que se discutiriam temas apropriados. Certamente, seria um local aprazível e belo, pois nele haveria muitas árvores, alamedas, caramanchões, jardins, monumento/memorial e esculturas. Tornar-se-ia o velho cemitério campomaiorense um lugar mais comprometido com a vida do que apenas com a ideia de morte. A morte seria apenas um detalhe, embora óbvio. 

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