7 de novembro
O DIA DE FINADOS E OS “MEUS” CEMITÉRIOS
Elmar Carvalho
Sabendo que não iria a nenhum cemitério no Dia de
Finados, decidi reler a crônica de Clodoaldo Freitas intitulada O
Dia de Finados, enfeixada no livro Em Roda dos Fatos. Nela estão
contidas profundas reflexões sobre a morte humana, de caráter
religioso, filosófico e histórico. Não irei, neste breve registro,
fazer reflexões sobre esse tema, para alguns tão cheio de medos e
mistérios, mas apenas retomarei umas ideias que já defendi em outra
oportunidade, creio que neste mesmo diário. Essa matéria foi
publicada na internet, em alguns sítios eletrônicos.
Ainda no inicio de minha adolescência, estive em
cemitério algumas vezes, movido mais por curiosidade intelectual e
artística, para ver as linhas arquitetônicas dos túmulos e a
beleza das esculturas de anjos e santos, e também para ler as
lápides, em busca de descobrir figuras históricas ou simples
conhecidos e parentes. Em alguns casos, fazia um rápido cálculo
mental, para saber quantos anos o morto tinha vivido. Segundo as
inscrições, todos haviam sido bons e deixado saudades.
Estive sobretudo nos cemitérios velhos de José de
Freitas e de Campo Maior. Neste, descobri, quando tinha 16 anos de
idade, o túmulo do poeta Moisés Eulálio, que terminou me rendendo
uma crônica, publicada no jornal A Luta, a pedido de meu pai. Foi um
de meus primeiros textos a ganhar publicidade em letra de forma. Era
um dos diretores do periódico Octacílio Eulálio, irmão do poeta.
Tempos mais tarde, já no final dos anos 80, ou começo
dos 90, ciceroneado por Carlos Rubem Campos, escritor e promotor de
Justiça, conheci o cemitério velho de Oeiras. Na oportunidade,
conheci o túmulo do grande poeta Nogueira Tapety, em cuja lápide
consta que ele amou o bem e o belo. Antes, eu havia escrito uma
crítica literária sobre o autor de Senhora da Bondade, soneto
antológico, por muitos recitado de cor. Instigado pelo advogado
Talver Mendes de Carvalho, escrevi uma ode a esse vetusto campo
santo, que é tão histórico e valioso quanto os demais.
Recentemente, defendi a ideia de que o velho campo santo
de Campo Maior fosse restaurado e transformado numa espécie de museu
a céu aberto. Para isso, deveria haver projeto de arquiteto
experimentado em restaurações. Na minha proposta, haveria algumas
pequenas intervenções, como a criação de alamedas, jardins e
caramanchões, a colocação de esculturas alegóricas, a construção
de um monumento/memorial e de um espaço ecumênico, em que as
pessoas pudessem se reunir para cultos ou mesmo palestras temáticas.
Além do aspecto da preservação histórica e cultural, esse projeto
serviria para que as pessoas melhor aceitassem a morte, que é uma
consequência da própria vida, ou o portal para uma outra vida.
Acredito que essa obra de conservação e restauração,
tal como estou defendendo, seria única, se não no Brasil, pelo
menos o seria no Piauí. Os cemitérios em nossas cidades, depois de
desativados para sepultamentos, são praticamente abandonados, ou
passam a ser mais mal cuidados do que já eram antes. Alguns são
estupidamente destruídos, para a construção de algum logradouro,
seja rua ou praça. No modo como estou propondo, haveria conservação
e restauração, sem prejuízo das intervenções, que seriam feitas
de forma cuidadosa, criteriosa e como parte de um projeto de
arquitetura.
A obra que estou a defender creio seria única, ao menos
no Piauí, e preservaria a história, a cultura, o respeito aos
mortos e à sua memória, além de que seria, como disse, um museu e
um local para reflexão, passeio e reuniões, em que se discutiriam
temas apropriados. Certamente, seria um local aprazível e belo, pois
nele haveria muitas árvores, alamedas, caramanchões, jardins,
monumento/memorial e esculturas. Tornar-se-ia o velho cemitério
campomaiorense um lugar mais comprometido com a vida do que apenas
com a ideia de morte. A morte seria apenas um detalhe, embora óbvio.
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