Fonseca Neto
NÉ-EVANGELISTA:
este nome é uma marca muito distinta na atividade comercial entre
Maranhão e Piauí nas últimas oito décadas.
Manoel
Evangelista de Sousa (seu nome completo) é, hoje, o comerciante mais
idoso de Teresina, tendo completado 100 anos neste sábado, dia 19 de
janeiro de 2013. A vida comercial da capital do Piauí tem nele uma
referência de respeitabilidade, assim também em relação ao
cidadão e ao pai de família, de prole numerosa, enleada no mundo
mercantil local e em vários outros fazeres da vida social
teresinense.
Claro
que a história de um homem assim é exemplar e faz bem seja
divulgada para que tenha muitos seguidores. Né Evangelista é filho
sanguíneo de Narcisa Pereira da Costa e Torquato Evangelista de
Sousa, sitiantes e moradores da Malhada d’Areia, município de São
João dos Patos, Maranhão, a pouca distância do rio Parnaíba.
Nasceu numa fazenda nova-iorquense dos avós maternos, chamada
Mucambinho, vizinha da Malhada, para esta vindo aos trinta dias de
vida –era costume as filhas irem “descansar” sob o abrigo da
casa de suas mães.
1913,
anos anteriores e posteriores:pela navegação a vapor, o rio
Parnaíba é, nesse tempo, um fator de dinamização da economia
local e do próprio Piauí. É o ambiente macro dos primeiros anos de
Né. O ambiente micro é o curral, as quintas, além do alfabetizador
Heitor Barreto que o desasnou. Faz o Primário na sede municipal
patoense. E diga-se que essas são experiências que parece viver ele
com grande intensidade– inclusive ensaia-se como professor –, uma
vez que, aos 19 anos é, já, um empreendedor comercial autônomo,
após emprego na firma de Cristino Castro, na cidade vizinha de
Floriano. Esta cidade do Piauí, então, era o núcleo interiorano
mais avançado do Médio-Alto Parnaíba, um centro de importação de
todo produto manufaturado do comércio mundial, inclusive de
caminhões, e outros automóveis (anos 30), os quais eram montados em
oficina especializada, dali partindo os primeiros deles que rodaram
por aqueles sertões.
A
montante de Floriano, e antes dos encachoeirados da Boa Esperança,
outro ponto de animação de trocas comerciais se constituíra e
prosperara por aquele tempo, o Porto Seguro, no município da velha
Nova Iorque – submerso nos anos 1960. O lugar desse porto fluvial
será justamente a base do Né empreendedor comercial e seu movimento
certamente enseja-lhe conhecer por completo o circuito mercantil do
tempo, valendo lembrar que somente após 1930 seriam abertas as
estradas de rodagem.
Entre
os anos 30 e 40, baseado no Porto Seguro, depois na Várzea do Meio,
e Poço Verde, Né se torna um dos mais prósperos negociantes da
região, casando a tradição da produção primária com a atividade
do comercio de exportação/importação, não sem uma força motriz
essencial naquele tempo que antecede o transporte em massa por
caminhão: uma tropa de jumentos e mulas, somando às dezenas de
cabeças. É uma espécie de fazendeiro de nova cepa, algo moderno,
detentor de uma compreensão mais abrangente do fenômeno da criação
e circulação da riqueza no corpo da nação e do mundo. Ele
compreende perfeitamente o fenômeno agregador de valor aos bens
primários, no Parnaíba subindo os “secos” da produção
industrial e descendo os “molhados” das lavras sertanejas, e
criações animais, incluindo produtos extrativos, tipo borracha de
maniçoba, bagas de babaçu, entre outros.
Naquelas
três/quatro primeiras décadas do século passado, já o dissemos,
acima, esse grande rio potencializa negócios e Né aproveita as
oportunidades, inclusive de descer o seu curso e, em pouco tempo,
como se verá, estabelecer-se na capital piauiense – criada, no
Oitocentos, tendo em vista exatamente a economia dos fluxos
comerciais. Conhece por então, por lá, outra figura de negociante,
de perfil algo parecido com o seu, representante comercial naqueles
ermos, chamado Sérgio Fernandes do Rego Neto, o “Neto Rego”.
Este, já conhecedor da respectiva praça de negócios – além de
Floriano –, convence o malhadino a se estabelecer em Teresina,em
sociedade com ele.
Neto
e Né estarão, a partir de 1946, fixados na capital do Piauí e aqui
protagonizariam outros capítulos de suas laboriosas vidas.
(Voltaremos ao assunto).
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