José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Na
televisão, ele é craque em anunciar venda de automóveis. Membro do
conselho paroquial, o jovem marqueteiro encontrou-me no shopping. O
papo desembocou em questão bíblica. O rapaz entende bem de Jesus
Cristo, mas baseado na literatura cinematográfica e de ficção.
Há
anos, episódios históricos têm servido de inspiração a obras de
caráter ficcional, como romance. O real manipulado. O feijão com
arroz condimentado com molho apetitoso. Relação afetuosa de Jesus
Cristo para com Maria Madalena, segundo os evangelistas, apimentada
de paixão sexual por romancistas. Judas, tesoureiro, ladrão das
ofertas, traidor e suicida, conforme relato do evangelista João,
virou herói em defesa do Mestre, na imaginação de escritores.
Muita
gente põe fé em "O CÓDIGO DA VINCI", na "ÚLTIMA
TENTAÇÃO DE CRISTO", no MANTO DE CRISTO, mas não lê os
quatro evangelhos canônicos. Sequer estuda um livro da Bíblia. Vive
antenada à literatura do fantástico e imaginário. Uma espécie de
tribo nerd, apaixonada por desenhos animados, filmes de realismo
mágico, avatares e ficção científica. E se comportam como
existissem.
O
livro "O CÓDIGO DA VINCI", lançado em filme, cativou a
atenção de milhões de leitores, enricou o autor. Uma excitante
história de incursão pela Europa, em que personagens procuram a
verdadeira identidade de Jesus Cristo, começando pela tela, "A
Ceia", de Leonardo da Vinci. O livro provocou uma onda de
turistas aos locais narrados, utilizados para ficção.
Jesus,
gerado sem intervenção masculina, encantava pelo intenso afeto a
indigentes, leprosos, cegos, prostitutas e excluídos da opinião
pública, inclusive autoridades romanas e pagãos. Deixou-se tocar
("Quem me tocou?") por uma senhora com câncer no útero, e
foi curada. Recebeu o beijo indigno de Judas. Fitou o covarde Pedro,
que "chorou amargamente". Tocou numa falecida adolescente
e ressuscitou-a. Lavou os pés dos apóstolos("Que vos ameis uns
aos outros"). Abraçou crianças. Permitiu que Maria(que não se
tratava de Madalena, mas a irmã de Lázaro), lavasse-lhe os pés com
raro perfume. Madalena não é a prostituta condenada a
apedrejamento. Evangelhos não a retratam prostituta, porém dela
Jesus expulsara sete demônios. Na ficção inescrupulosa de
romancistas, serve de inspiração carnal e marital a Jesus Cristo.
Apóstolos
e mulheres, entre as quais três marias, acompanhavam Jesus e o
serviam nas longas viagens de curas e pregação. Maria Madalena (e
outras mulheres) assistiu o Mestre até o Calvário, preparou-lhe o
sepultamento. Dois dias depois, saiu com Maria, mãe de Tiago, e
Salomé, a fim de comprar unguentos para embalsamar o corpo de Cristo
(Marcos, 16). João, 20, descreve Maria Madalena, sozinha, frente a
frente a Jesus ressuscitado. Feliz, grita:"Rabôni!"(Mestre!),
corre para abraçá-lo, ouve enigmática advertência: "Não me
toques!" As igrejas católica, luterana e ortodoxa festejam-na
Santa Maria Madalena.
Jesus,
belo, afetuoso ao extremo, tocava, beijava e curava, parece mandar um
recado à maldade e irreverência com o sagrado: "Não me
toques, não me usem como produto comercial de ficção!"
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