quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A Pedra Negra da Terra dos Carnaubais



Orisvaldo Mineiro (*)

Pedra Negra (Teresina, Editora Nova Aliança, 2012) é a mais recente obra do jovem escritor campomaiorense (PI) Halan Silva; romance curto, de linguagem original e leitura agradável, é daqueles que levam o leitor a consumi-lo “de uma só tacada”.
A obra apresenta como característica literária uma mistura do realismo histórico do século 19 - principalmente pelo regionalismo e pela ficção urbana - com o fantástico/fabuloso - pela presença da cobra preta: personagem do folclore nordestino que, na calada da noite, suga o leite de animais e também de mulheres recém-paridas.
A sequência narrativa é não linear, marcada pelo flashback, técnica que consiste numa interrupção da ação do presente a fim de apresentar eventos do passado. Com isso, o autor cria uma situação narrativa com dois planos temporais: um no presente e outro no passado. Em Pedra Negra, o romance termina onde começou: o enterro do major, caracterizando o que se chama de romance fechado em círculo.
O enredo é ambientado na cidade de Campo Maior da primeira metade do século XX, com destaque para os cabarés da Rua Santo Antônio (Zona Planetária e Zona das Virtudes), “a pouco mais de uma quadra e meia da Igreja do Rosário e da Matriz de Santo Antônio”.
A trama se desenvolve em torno das escaramuças entre dois personagens bastante influentes na cidade: Padre Hermínio, pároco da Igreja de Santo Antônio, e major, homem rude, fazendeiro e produtor de cera de carnaúba.
Outros eventos dão volume à trama e enchem de nostalgia a almas dos leitores que se identificam diretamente com os fatos e lugares relatados: a concupiscência do religioso e sua descrença nos ritos litúrgicos e nos sacramentos da Igreja Católica, relatos e referências a fatos históricos: Batalha do Jenipapo, Coluna Prestes e Ciclo da cera de carnaúba; fatos pitorescos e cotidianos dos habitantes, valores e costumes da época.
A temática abordada resgata a memória de uma sociedade conservadora, fortemente influenciada pela religiosidade do catolicismo, mas também aberta às mudanças provocadas pelo avanço da economia e pelas inovações tecnológicas.
A característica do romance fechado em círculo e o drama do padre com a gestação da rapariga identificam a boa influência sofrida pelo o autor de dois grandes representantes da literatura luso-portuguesa: Eça de Queiroz (O crime do Padre Amaro) e Machado de Assis (Memórias Póstumas de Braz Cubas).
Todos esses ingredientes formam um interessante convite aos amantes da boa literatura, ao tempo em que proporcionam aos campomaiorenses o resgate de elementos formadores de sua identidade.  BOA LEITURA!
Halan Kardeck Ferreira Silva é natural de Campo Maior, Piauí, 17/02/1970, e formado em Filosofia e Direito. É autor de outras obras: 16 poemas (Edições Des Livres, 1995); As formas incompletas: apontamentos para uma biografia (Oficina da Palavra/Instituto Dom Barreto, 2005); Representação e identidade cultural do vaqueiro no cinema novo (Editora Nova Aliança, 2010); e Cambacica (Editora Nova Aliança, 2011).

(*) Orisvaldo T. Mineiro: Auditor Fiscal da SEFAZ-PI, Mestre em Letras.

Fonte: Portal Entre-textos

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