sábado, 23 de março de 2013

Francisco de Assis escandalizou e acudiu a Igreja abalada




José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com



A eleição do Papa Francisco puxa um fio histórico que remonta a oito séculos, quando a Igreja atravessava um período de decadência, semelhante a que enfrenta, em alguns aspectos, na atualidade.
Nascido em 1182, Francisco de Assis abandonou o luxo, a boemia e a generosa fortuna paterna, para viver a pobreza evangélica ao extremo. Jesus Cristo era pobre, Francisco de Assis, miserável. Jesus nasceu em uma gruta, não porque José não dispusesse de dinheiro para pagar hospedagem, mas por falta de vagas. Jesus recolhia dinheiro para seu sustento e dos apóstolos, banqueteava-se, bebia vinho, vestia uma túnica inconsútil, disputada pelos soldados no Calvário. Paradoxalmente, Francisco escolheu uma cabana, depois uma velha pocilga abandonada para seus primeiros frades, vestia túnica surrada de camponês, misturava água ao vinho e cinza à comida, para disciplinar a temperança. Francisco enojava dinheiro, considerava-o excremento. Ao fundar a Ordem Franciscana, sua constituição proibia receber e acumular dinheiro dos benfeitores, em vez de outras doações básicas.
Francisco e seus primeiros frades(12) dirigiram-se a Roma para aprovação da constituição da Ordem. Sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela corte do Papa Inocêncio III, que se aborrecceu com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa e impraticável, e fossem pregar entre os porcos. Do chiqueiro próximo, cobertos de lama, voltaram para o papa, que, refletindo um momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. Francisco e seus companheiros se prepararam para outro encontro, conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa.
Papa Inocêncio III teve um sonho, onde viu a Basílicaca de São Pedro prestes a desabar. Um pobre religioso, que ele interpretou como sendo Francisco, tentava sustentá-la. Inocêncio, finalmente, autorizou a Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto ao grupo. Apenas permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas acrescentando que, se eles conseguissem frutos de seu trabalho, voltassem, para que sua situação fosse completamente regularizada. A Igreja atravessava momentos de pomposidade e disputas internas de poder.
A Ordem Franciscana cresceu rapidamente e ganhou freiras lideradas por Clara, nobre burguesa de Assis. O papa, finalmente, aprovou os estatutos.
O franciscanismo, na pobreza e simplicidade de vida, espalhou-se rapidamente. No final da vida, Francisco vivia atribulado, sem autoridade para brecar os que infrigiam a rígida pobreza. Daí as divisões internas. Surgiram Franciscanos, Capuchinhos, Conventuais e a Ordem Terceira(leigos), além de divisões entre as Clarissas.
A Igreja Católica contemporânea, como tantas outras instituições humanas, atravessa momento delicado de condutas avessas a princípios éticos. A eleição do Papa Francisco acende uma luz de retorno ao Cristo dos evangelhos: simplicidade de vida meio ao materialismo e instintos selvagens do século. O sonho do "Povello de Assis" ainda pode salvar as torres abaladas da Basílica de São Pedro.


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