José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
A
eleição do Papa Francisco puxa um fio histórico que remonta a oito
séculos, quando a Igreja atravessava um período de decadência,
semelhante a que enfrenta, em alguns aspectos, na atualidade.
Nascido
em 1182, Francisco de Assis abandonou o luxo, a boemia e a generosa
fortuna paterna, para viver a pobreza evangélica ao extremo. Jesus
Cristo era pobre, Francisco de Assis, miserável. Jesus nasceu em uma
gruta, não porque José não dispusesse de dinheiro para pagar
hospedagem, mas por falta de vagas. Jesus recolhia dinheiro para seu
sustento e dos apóstolos, banqueteava-se, bebia vinho, vestia uma
túnica inconsútil, disputada pelos soldados no Calvário.
Paradoxalmente, Francisco escolheu uma cabana, depois uma velha
pocilga abandonada para seus primeiros frades, vestia túnica surrada
de camponês, misturava água ao vinho e cinza à comida, para
disciplinar a temperança. Francisco enojava dinheiro, considerava-o
excremento. Ao fundar a Ordem Franciscana, sua constituição proibia
receber e acumular dinheiro dos benfeitores, em vez de outras doações
básicas.
Francisco
e seus primeiros frades(12) dirigiram-se a Roma para aprovação da
constituição da Ordem. Sujos e vestidos
pobremente, foram ridicularizados pela corte do Papa Inocêncio III,
que se aborrecceu com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa
e impraticável, e fossem pregar entre os porcos. Do chiqueiro
próximo, cobertos de lama, voltaram para o papa, que, refletindo um
momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se
lavassem. Francisco e seus companheiros se prepararam para outro
encontro, conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa.
Papa
Inocêncio III teve um sonho, onde viu a Basílicaca de São Pedro
prestes a desabar. Um pobre religioso, que ele interpretou como sendo
Francisco, tentava sustentá-la. Inocêncio, finalmente, autorizou a
Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto ao grupo. Apenas
permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas
acrescentando que, se eles conseguissem frutos de seu trabalho,
voltassem, para que sua situação fosse completamente regularizada.
A Igreja atravessava momentos de pomposidade e disputas internas de
poder.
A
Ordem Franciscana cresceu rapidamente e ganhou freiras lideradas por
Clara, nobre burguesa de Assis. O papa, finalmente, aprovou os
estatutos.
O franciscanismo, na pobreza e
simplicidade de vida, espalhou-se rapidamente. No final da vida,
Francisco vivia atribulado, sem autoridade para brecar os que
infrigiam a rígida pobreza. Daí as divisões internas. Surgiram
Franciscanos, Capuchinhos, Conventuais e a Ordem Terceira(leigos),
além de divisões entre as Clarissas.
A
Igreja Católica contemporânea, como tantas outras instituições
humanas, atravessa momento delicado de condutas avessas a princípios
éticos. A eleição do Papa Francisco acende uma luz de retorno ao
Cristo dos evangelhos: simplicidade de vida meio ao materialismo e
instintos selvagens do século. O sonho do "Povello de Assis"
ainda pode salvar as torres abaladas da Basílica de São Pedro.
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