HUMBERTO
DE CAMPOS
Reginaldo Miranda
Presidente da Academia Piauiense de
Letras
“Não cheguei muito
alto nem muito perto, de modo a ombrear com os mais notáveis
escritores do meu País, porém, percorri maior caminho do que eles,
porque vim de muito baixo e de muito longe”,
rememorava o escritor Humberto de Campos Veras, e que foi
recentemente lembrado pelo também escritor Murilo Mello Filho, da
ABL, em singela homenagem.
Ele entrou pela vida no
dia 25 de outubro de 1886, em Miritiba,
“uma soturna vila olhando um rio sem vapor nem ponte”,
plantada nos confins do Maranhão e que hoje ostenta o nome de
Humberto de Campos, em homenagem ao filho mais ilustre. Ficou órfão
de pai aos seis anos de idade. Nesse mesmo tempo deixou a pacata vila
de seu nascimento e foi enfrentar “o
doido lutar em terra alheia”,
primeiro em Parnaíba, no Piauí, onde viveu os anos iniciais de sua
adolescência. Depois passando para São Luís do Maranhão, onde
trabalhou como auxiliar do comércio. Mais tarde, aos 17 anos de
idade, muda-se para Belém do Pará, onde passou a trabalhar como
colaborador e redator dos jornais Folha
do Norte
e, mais tarde, da Província
do Pará.
Nessa capital amazônica estréia em livro no ano de 1910, publicando
uma coletânea de versos intitulada Poeira.
Era sua estréia literária, aos 24 anos de idade. Em 1912, “pega
um ita no norte”
e muda-se para o Rio de Janeiro, passando a trabalhar no jornal O
Imparcial,
ao lado de ilustres nomes da cultura nacional, como Rui Barbosa, João
Ribeiro, José Veríssimo, Goulart de Andrade, Salvador de Mendonça,
Júlia Lopes de Almeida, Vicente de Carvalho e tantos outros, sendo
uns redatores, outros meros colaboradores. Todavia, foi uma
oportunidade para sedimentar sólidas e importantes amizades e para
projetar seu nome no centro cultural do País. Em 1923, já era
responsável pela coluna de crítica do conceituado Correio
da Manhã.
Autodidata, mas sempre
ávido de conhecimento, em pouco tempo intensifica sua produção
literária, divulgando uma série de contos e crônicas, primeiro com
o pseudônimo de Conselheiro XX, depois adotando outros, como
Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli,
Batu-Allah, Micromegas e Hélios. A desvantagem financeira não o
impediu de projetar-se na cena política e literária nacional.
Cronista primoroso, escritor notável, sua ascensão foi meteórica.
O reconhecimento foi imediato. Em 30 de outubro de 1919, foi eleito
para a Academia Brasileira de Letras. Esse sucesso literário não
ficou alheio ao povo do Maranhão que num momento de felicidade, em
1920, o elegeu deputado federal, permanecendo no Parlamento até a
Revolução de 30, quando foi nomeado inspetor do ensino e diretor da
Casa de Rui Barbosa.
Humberto de Campos nos
legou duas dezenas de obras, entre as quais: Da
seara de Booz
(1918), Mealheiro
de Agripa
(1921), Carvalhos
e roseiras
(1923), A
bacia de Pilatos
(1924), Grãos
de mostarda
(1926), O
monstro e outros contos (1932),
À
sombra das tamareiras
(1934), Sombras
que sofrem
(1934), Um
sonho de pobre
(1935), Destinos
(1935), Lagartas
e libélulas
(1935), Notas
de um diarista
(séries 1935 e 1936), Reminiscências
(1935), Sepultando
os meus mortos
(1935), O
arco de Esopo
(1943), A
funda de Davi (1943),
Gansos
do capitólio
(1943) e Fatos
e feitos
(1949).
Todavia, dentre sua
vasta obra, destacamos as Memórias,
um depoimento pungente sobre os primeiros dias de sua existência.
Sobre elas disse o escritor: “Escrevo
a história da minha vida não porque se trate de mim; mas porque ela
constitui uma lição de coragem aos tímidos, de audácia aos
pobres, de esperança aos desenganados, e, dessa maneira, um roteiro
útil à mocidade que a manuseie. Os vícios que a afeiam, os erros
que a singularizam e que proclamo com inteira tranquilidade de alma,
os rochedos em suma, em que bati, mesmo esses me foram proveitosos, e
sê-lo-ão, talvez aos que me lerem. Conhecendo-os, saberão aqueles
que vierem depois de mim, que devem evitá-los, fugindo aos perigos
que enfrentei, e, conseguintemente, procurando, na viagem, caminhos
mais limpos e seguros. Como nas cargas de cavalaria de Napoleão em
Waterloo, os cavaleiros que vão na frente, na Vida, devem soterrar o
fosso para a passagem vitoriosa dos que vêm atrás”.
Com essas notas
desejamos realçar o nome aureolado de Humberto de Campos, um dos
mais populares escritores do Brasil. Saiu de cena em 5 de dezembro de
1934, no Rio de Janeiro, aos 48 anos de idade, quando muito ainda
poderia contribuir para com o desenvolvimento cultural de seu País.
Partiu muito cedo, mas sua obra permanece como testemunho inaudito de
sua passagem por esse teatro da vida.
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