segunda-feira, 25 de março de 2013

IPIRANGA DO PIAUÍ – JOÃO BORGES CAMINHA



Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

O título do artigo de hoje é marcado por dois nomes que se ligam pela geografia e pelo acendrado amor à terrinha berço. É sobre “IPIRANGA DO PIAUÍ, com o subtítulo “Recordações da cidade e do campo”, de autoria João Borges Caminho, advogado, professor universitário e escritor desenvolto. A acreditar na sinceridade de sua escrita, e não há como desacreditar, não há no mundo pessoa mais ligada à sua terra de nascimento, precisamente “FURTA-LHE A VOLTA”, povoado do município de IPIRANGA DO PIAUÍ. João Borges Caminha é um historiador meticuloso, pesquisador honesto e sempre carregado de emoção quando fala (ou escreve) sobre seu passado, sua família, sua terra. De início, as passagens que mais me chamaram a atenção foram aquelas que se referem a FURTA-LHE AVOLTA. Por quê? Talvez, por causa do vigor que João Borges Caminha põe. Agora passo a citá-lo: - “No final do século XVIII, precisamente a partir de 1780, começou a ser denominado de FURTA-LHE A VOLTA, um sítio aprazível, localizado nas nascentes do riacho Engano, na bacia hidrográfica do rio Corrente, afluente do Canindé, do município de Ipiranga do Piauí, na época integrando o município de Oeiras. (...) Conforme a tradição oral transmitida pelos antepassados, à qual adicionamos as nossas constatações, o inolvidável sítio, agora cognominado de “FURTA-LHE A VOLTA”, originariamente pertencia quase todo ao Capitão-mor João Gomes Caminha. Este Capitão mor libertou a vila maranhense de PASTOS BONS do jugo português. Com a morte deste, ditas terras passaram ao seu filho, Tenente e depois Capitão José Gomes Caminha, residente na fazenda Laranjeira, situada a um quilômetro da acolhedora vertente de água doce que corria, e ainda corre plácida e serena dos brejais abaixo, até desembocar no riacho Engano. A fazenda Laranjeira era constituída de terras frescas, compostas de buritizais, próprias ao cultivo de cana de açúcar, e de baixões. Afora os cidadãos da terra já citados, entre os mais antigos moradores de “FURTA-LHE A VOLTA”, de que se tem notícia, por sua respeitabilidade e serviços prestados, destacam-se Manoel dos Anjos, os Marinheiros italianos, Capitão Joaquim José Brandão e poeta Manoel Caminha, filho do Capitão José Gomes Caminha”.

FURTA-LHE A VOLTA” era uma passagem difícil, por onde os tropeiros teriam que passar fazendo uma volta distante. Depois dos primeiros, outros começaram a trilhar o difícil, que se tornou fácil, ou talvez lhe tenham feito uma rústica ponte ou coisa desse tipo. A passagem que “furtava a volta, para diminuir o caminho”. Mas giram outras lendas sobre “FURTA-LHE A VOLTA”. E, como sabemos, as origens, especialmente de nomes geográficos, explicam muito da história. Seria um pouco difícil o porquê do nome original e esquisito.  As versões mais conhecidas têm origem na passagem dos tropeiros de vários lugares em busca da cidade de Oeiras. E, ao que me parece, a que mais agrada aos “ipiranguenses do Piauí” seria a de que, como escreve João Borges Caminha, tem base no final do depoimento de seu primo Genésio Borges Caminha, de 31.7.1994, residente no povoado “FURTA-LHE A VOLTA”, pelo qual já foi vereador na cidade de IPIRANGA DO PIAUÍ:

Outra versão do nome FURTA-LHE A VOLTA é a que indica circunstâncias aconchegantes do lugar e de seus habitantes, traduzidos pelos recuados caminheiros que por lá passavam ou ficavam. Por essa lenda, portanto, foi dado ao lugar o nome de Furta-lhe a Volta, para significar que muitos dos visitantes ou transeuntes, atraídos, resolviam não mais voltar aos seus lugares de origem, a fim de passarem a desfrutar, também, da aprazibilidade da terra e do seu povo”.

Bem, mas basta de transcrever, quem quiser saber mais é só ir ao livro. Lá encontrará uma soma enorme de informações sobre a cultura, o modo de vida e a história política e social da cidade. Escrever a história de sua cidade e seu município é muito proveitoso para deleite e envaidecimento dos que lá residem, mas também como documentação. No Brasil os documentos sobre que se fundam a história desaparecem muito rapidamente. O escritor João Borges Caminha está de parabéns por mais este seu livro, por sua paixão pela verdade de sua terra e pela emoção de colocar em agradável estilo tudo o que pesquisou. Isto não tem pagamento.  A obra em comento é importantíssima para a geografia, a história, a sociologia e demais setores do conhecimento humano, inclusive para as pesquisas e descobertas arqueológicas. É patente a valorização que João Borges Caminha dá à educação, as artes em geral e até a poesia, valendo-se das “MEMÓRIAS”, de Joel Borges, publicadas na revista “DE REPENTE”, em vários capítulos. Mas, de modo muito especial, Caminha focaliza a vida, o trabalho e as dificuldades do homem da roça, que tanto sofre. O Prof. Caminha, especialista em Direito Agrário, sabe muito bem da vivência deles, por experiência própria, e da luta desses sertanejos. Parafraseando Euclides da Cunha, dizemos que “o sertanejo, depois de tudo, ainda é um forte”.

Tenho afirmado e reafirmado que quem não ama sua terra e sua gente não ama ninguém nem nada, e não sabe quanto é gostoso e faz bem à alma. Com este livro, João Borges Caminha faz coro ao famoso dito de León Tolstói, tão acolhido por milhares de escritores clássicos, de que quem quer ser universal tem de ser primeiro em sua terra. João Borges Caminha mostra seu acendrado amor à terra e à gente de IPIRANGA DO PIAUÍ. Parabéns, Caminha, por mais este feito.

2 comentários:

  1. O Dr Caminha é o Pai do Marco Aurélio e do Túlio? Se for o mesmo, somos amigos, sua eposa é de Campo Maior.Grande cidadão.

    ResponderExcluir
  2. Caro Simão,
    Respondo sim à sua indagação. Fui colega de Marco Aurélio na condição de acadêmico do curso de Direito. Caminha foi meu professor na disciplina Direito Agrário e é meu colega nas caminhadas da Raul Lopes.

    ResponderExcluir