sexta-feira, 12 de abril de 2013

Profeta Malaquias e a "Profecia dos Papas"



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com


Deus não se discute. Experimenta-se. Buscar a presença do espírito divino, diariamente, fecha-se uma aliança, um pacto. Não há tesouro mais valioso. Com o tempo, abrem-se as cortinas do mistério. Deus revela sinais de sua presença, através de dons gratuitos a serviço do próximo. Muita gente busca experiência com Deus só para pedir bens materiais, e o Mestre adverte: "Buscai, acima de tudo, o reino de Deus e sua justiça. O resto se acrescenta."
Curar é um dom gratuito de Deus, e não se vende. Profetizar é um dom gratuito de Deus, também não se vende. O exercício da generosidade, do desapego ao material e da conduta ética atrai o espírito santo de Deus, independente de religião.
Profecia não é adivinhação, mas interpretação da linguagem e vontade divinas. Profeta veste batina, farda, jaleco, exerce qualquer atividade do bem. O pecado bloqueia a presença de Deus e sua manifestação. Corruptos e metidos a sabichões não conseguem decifrar os mistérios divinos, e pagam com a prática do mal.
Profetas da Bíblia e da História sempre me despertaram curiosidade, desde a adolescência. Um dos quais, Malaquias, monge irlandês, nascido em 1094, canonizado santo pelo Papa Inocêncio III. Não o confundir com o profeta Malaquias da Bíblia.
O monge Malaquias pertencia à Ordem dos Templários, uma organização cristã de caráter militar em defesa da Igreja, depois perseguida, por defender o gnosticismo. Para não ser perseguido e morto, viveu discretamente entre monges católicos, depois consagrado bispo, admirado pela santidade e dons proféticos. Morreu em 1148, a caminho da França.
Malaquias celebrizou-se pela famosa Profecia dos Papas, escrita em 1139, numa estada em Roma. Trata-se de uma lista com 111, outros dizem 113, nomes de papas, identificados não pelo nome, mas por um dístico latino. Sobre o Papa João XXIII, escreveu: "Pastor et Nauta"( pastor e navegador). João XXIII fora cardeal de Veneza, cidade de ruas inundadas). Sobre o Papa Pio IX, o dístico dizia: "Crux de Cruce"(cruz originada da cruz). Pio IX sofreu, século 19, dura perseguição da Casa de Savoia, em cuja bandeira figurava a cruz. Sobre o Papa João Paulo II: "De labore sole"(do sofrimento do sol). Atribui-se à sua atividade em favor do povo oprimido pelo regime comunista de seu país e demais vizinhos. Ou do atentado sofrido em plena praça. Sobre Bento XVI, número 111 da lista: "Gloria oliviae"(glória da oliveira). Talvez, referência ao ramo de oliveira levada pelo pombo à arca de Noé, anunciando esperança e fim do dilúvio. A lista acaba em 113, que trata de "Petrus Romanus, qui pascet oves in multis tribulationibus...finis"(Pedro Romano, que apascentará as ovelhas com muitas tribulações... será o fim). Improvável a referência ao Papa Francisco. A profecia não afirma que haverá papa com nome de Pedro II, pois em nenhum dístico aparece o nome de pontífice.
A Profecia dos Papas obteve sucesso só depois de publicada, em 1595, pelo historiador beneditino Arnold Wyon. Naquele ano, forjaram a lista, acrescentando um dístico para beneficiar a coroação de um cardeal a Papa. O infeliz sobrou. Venceu outro.
Críticos se dividem sobre a autenticidade e interpretação dos dísticos da Profecia. Verdade ou não, observando -se cada dístico e associando-o a cada papa, chega-se a quase perfeição. O mesmo ocorre com as profecias bíblicas, como a do final dos tempos: tenta-se suavizar os últimos dias de sofrimento planetário com falsas e suaves interpretações. Só os que experimentam a aliança com Deus conseguem sabedoria para entender os avisos do céu. Sabedoria é mais um dom gratuito de Deus aos seus amados. Cuidado, porém, com os falsos profetas do papel moeda da fé.

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