domingo, 28 de abril de 2013

Seleta Piauiense - Jamerson Lemos


armadilha

Jamerson Lemos (1945 - 2008)


a música escorre pela noite
como estreito regato
igualmente minha mente
escorre pela noite.

isso ou aquilo, antes, depois,
uma rua tortuosa,
pequena cidade a ferver
distante.

Quanto tempo fui tolo?
A música escorre pela noite,
pulsa como um coração.

Caro poeta Chico Miguel,

Ao abrir ontem o seu importante blog cultural e literário, fui surpreendido com a informação de que o Jamerson Lemos havia falecido. Era um poeta de muito talento, que trazia a poesia à flor da pele e da alma. 

Durante muito tempo fui seu amigo assíduo. Sempre nos encontrávamos, ocasião em que conversávamos longamente sobre a vida e sobre poesia. Em diversas ocasiões fui a seu sítio do Gameleira, onde tomava banho num riacho, que o cortava, serpenteando entre palmeiras e árvores frondosas, muitas das quais se debruçavam sobre o córrego. 

Ali havia uma pequenina ilha, que me lembrava as ilhas do Tesouro, da Fantasia e da Utopia. O poeta mergulhava nas frias águas, escarafunchava o fundo do riacho, e de lá voltava com um pequeno búzio, em que talvez ouvisse o murmúrio e o marulho do mar de sua terra natal. 

Muitas vezes, o poeta, com o seu sotaque pernambucano e o seu gestual de ator e intérprete de seus poemas, recitava-me seus belos versos, com muita emoção e encantamento. Às vezes, eu me "vingava", e revidava com um poema de minha autoria, apenas para variar, porquanto em nada me diminuía ficar como uma ave muda a ouvir o mestre e encantado Uirapuru, de mágico gorjeio. 

Seus versos eram cantantes, de-lirantes, musicais, cheios de ricos ritmos e de sólido conteúdo. Em algumas oportunidades, o vi e ouvi pedir uma caneta e um guardanapo de papel, e imediatamente escrever um poema, que já nascia perfeito, sem uma mácula, pronto para ser dado à estampa da publicidade. Era escrito num verdadeiro “repente” esferográfico, sem pausas, vacilações ou titubeios. Sua excelente matéria lhe fez justiça. 

Sentirei saudade desse grande bardo piauiense nascido no Pernambuco de Manuel Bandeira e Carlos Pena Filho. Sentirei saudade, sim, mas sempre poderei reler os seus versos, e ao relê-los, lembrar-me-ei de sua pessoa e de sua voz, a cantar lindas melodias e a recitar os belos poemas que sempre me encantaram.

Elmar Carvalho

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