Espírito, a joia pouco avaliada

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail

Se eu escolhesse um título mais apetitoso, do tipo MANGA FAZ BEM AO CORAÇÃO ou EMAGREÇA COMENDO CHUCHU, outras mil receitas de saúde corporal, decantadas à exaustão por nutricionistas e cultores do corpo sarado e longevo, juro que dobraria o número de leitores. Só observar academias e calçadões da cidade lotados de jovens e adultos preocupados com os níveis de glicemia, colesterol e bocado de elementos que compõem a estrutura corporal. A saúde de ferro.

O comer e praticar atividades físicas viraram sedução de viver mais tempo e feliz. Nada a reprovar. Afinal, não se vive a Idade Média, quando se proibia até banho corporal para não motivar tentações e degradação do espírito. Paradoxalmente, a civilização atual já beira o exagero e a hipocondria. Uma simples irritação da pele causa alvoroço e corrida ao consultório médico. E tomem exames de unhas e ventrículos, monumental indústria laboratorial e farmacêutica.

Materialismo e cientificismo contemporâneos ignoram a força do espírito, joia preciosa, mas não avaliada, para a saúde do corpo. Filósofos da Antiguidade denominavam ataraxia o equilíbrio entre prazeres sensíveis e estados de satisfação espiritual. Hoje, com os avanços científicos nessa área, já se abrem espaços de valorização da atividade espiritual na cura de doenças. Algumas faculdades americanas de medicina incluem nos currículos cursos de espiritualidade para cura de pacientes. A técnica é simples, segue tradicionais práticas cristãs de oração, toques das mãos. Cirurgiões entram em estados de concentração, antes dos procedimentos médicos de rotina. Nada tem a ver com curandeirismo barato e bruxaria. Os resultados são fantásticos.

Uma vez, ministrando palestra para um grupo de enfermeiras, ensinei-lhes ungirem-se da presença curadora de Deus ao tocarem os pacientes, certas de cura mais fácil.

Se o corpo, que é perecível, carece de cuidados especiais para mantê-lo saudável, imagine-se o espírito que é incorruptível. Questão de acreditar ou não. Se o corpo pede cuidado com atividades e alimentação disciplinada, do mesmo modo o espírito exige bastante atenção e tarefas saudáveis. E quais são? As virtudes, especialmente o amor, a dedicação ao silêncio, às obras generosas, ao desapego exagerado ao material e cultivar a presença de Deus. O espírito evolui na prática da ética, no respeito ao próximo, enfim, no exercício dos dez mandamentos. O mundo retornaria ao paraíso primitivo, se o espírito recebesse tanta atenção quanto os corpos nas academias. Haveria maior interesse por temas que não fossem somente mangas, chuchus, folhas e raízes milagrosas.