17
de julho Diário Incontínuo
ERROS
FUTEBOLÍSTICOS OU EM DEFESA DE MIM MESMO
Elmar Carvalho
Vindo
passar uns dias de minhas férias em Parnaíba, tomo conhecimento de
que eu teria cometido erros graves em meu trabalho Craques do Futebol
Parnaibano. Irei aqui fazer um mea culpa, em que tentarei justificar
ou mesmo fazer a expiação de meus supostos ou verdadeiros
equívocos.
Quando
o escrevi, no começo deste século XXI, fiz questão de enfatizar
que me fundamentava na memória prodigiosa de meu amigo Genésio da
Silva Costa. Fiz uso de recurso da chamada história oral, que é
sempre suscetível de falhas, pois como todos sabemos a memória é
muitas vezes frágil e enganosa. Evidentemente, lancei mão de
eventuais artigos ou registros e anotações a que tive acesso, além
de consulta a algumas outras pessoas. Publiquei-o em sites e jornais,
com a esperança de que alguém me enviasse eventuais retificações
ou mesmo me desse novos subsídios, que pudessem enriquecer o meu
modesto ensaio historiográfico. Todavia, não recebi nenhuma carta
ou e-mail com reclamações, retificações ou sugestões, de forma
que o considerei digno de publicação em livro.
Por
conseguinte, o enfeixei no opúsculo O Pé e a Bola (publicado em
2003), que traz excelente prefácio do intelectual e comentarista
esportivo Carlos Said, cujo nome dispensa qualificativos, por ser uma
legenda da crônica futebolística piauiense. A obra, que tem como
subtítulo “Craques do futebol campomaiorense e parnaibano”, é
divida nas seguintes seções: a) O Pé e a Bola, que é um ensaio
sociológico sobre o futebol, mormente o amador ou dos campinhos de
várzea, e as suas sociabilidades; b) Craques do futebol
campomaiorense; c) Craques do futebol parnaibano e d) Memória
iconográfica.
Nas
partes b e c fiz uma síntese histórica do futebol em Campo Maior e
em Parnaíba, e relacionei os principais atletas, na avaliação de
meus informantes (Genésio da Silva Costa e Zé Duarte, além de
outros). Minha intenção primordial ao publicar essa obra foi
relembrar o nome de grandes craques, que já se encontravam em quase
completo esquecimento. Ressaltei que não tinha a pretensão de
esgotar o assunto, e que outros poderiam fazer mais e melhor do que
eu. Deixei bem claro que em todas as listas de melhores, sempre
alguém poderia apontar alguma inclusão indevida ou alguma indevida
exclusão. Mas, como disse, não tinha eu o objetivo de exaurir a
matéria.
Quando
publiquei o meu livro em 2003, fiz pequenas alterações, de modo que
alguns dos erros apontados já foram corrigidos. Por exemplo, na
página 29 do meu livreto está dito que um dos introdutores do
futebol foi Septimus Clark, de ascendência inglesa (e não James
Clark), de modo que o reparo já foi solucionado. No texto anterior
eu tinha optado por atualizar a grafia do nome do Parnahyba, mas no
livro resolvi manter a grafia original, ou seja, conservei o nome
como sendo Parnahyba Sport Club, de sorte que esse outro “erro”
também já fora sanado, desde 2003.
Outro
senão que me imputaram foi o de não saber o significado da palavra
escrete. Na verdade, as palavras têm o sentido denotativo e
conotativo. No meu texto, dei a essa palavra a conotação de time, e
não de seleção. De qualquer sorte, alguns dicionários registram
esse vocábulo como tendo também o significado de time. Por
conseguinte, tanto no sentido denotativo como no conotativo, eu não
estaria errado. Assim, a censura teria foro de preciosismo
linguístico, que não tentei seguir, mesmo porque sei que a
semântica está sempre sendo enriquecida, com as palavras adquirindo
outras e novas significações, tornando-se, às vezes,
plurissignificantes.
Quanto
a antigos dirigentes que citei, esclareço que eu não disse terem
sido presidentes, mas que teriam exercido cargo na direção, e não
exatamente na presidência do time. De qualquer modo, a informação
me foi passada oralmente, e é possível que o meu informante possa
ter se equivocado. Foi o meu amigo Genésio Costa quem me informou
que foram disputados campeonatos em campo de futebol localizado onde
hoje se ergue a Praça Santo Antônio, o que não impede que outros
torneios possam ter sido praticados em outros locais. Eu não disse,
em momento algum, que o Ginásio São Luiz Gonzaga já existisse no
tempo em que o empresário Zeca Correia criou o seu campo de futebol;
disse apenas que ele foi instalado em local perto de onde (hoje) se
ergue esse educandário.
Conheci
Mário Carvalho, e lhe tinha respeito, admiração e amizade,
principalmente porque ele era colaborador do Jornal Inovação, do
qual fiz parte, com muita honra para mim. Não lhe omiti a
participação no episódio referido na crítica. Aliás, ele é o
primeiro nome relacionado no meu livro O Pé e a Bola, conforme pode
ser visto na página 30, quando eu afirmo: “No início da década
de 60, os proprietários quiseram desativar o estádio [do
International], dando-lhe outra destinação, o que gerou uma
acirrada revolta popular, com vários manifestantes, em cuja linha de
frente estavam Mário Carvalho e Mário Pereira (...)”.
Quanto
ao nome de Jesum Messias já corrigi o equívoco no original do
texto. Realmente Galdino foi ourives, desportista e líder
comunitário, mas não foi escritor e nem compositor; quem me deu
essa informação deve ter se equivocado, ou então o equívoco foi
meu, quando fiz a sua anotação manuscrita. Com relação ao atleta
Genésio, escrevi o seguinte: “nossa principal fonte informativa,
Genésio da Silva Costa, o Geruca (Guarani e Ferroviário),
meia-direita e centroavante, invicto nos campeonatos de 1943 e 1944”.
Acredito ter sido fiel ao que ele me disse, e que imediatamente
anotei. Contudo, no dia 16/07/2013 o velho atleta desfez seu engano,
e me disse que a invencibilidade ocorreu apenas no ano de 1943. Já
fiz a devida correção.
Peço
ao leitor de meu livro que me perdoe por esses erros (que
infelizmente acontecem quando se recorre à história oral), que
tentei justificar. Esforcei-me para fazer o melhor que podia. Não
tive o desiderato de exaltar ou escamotear de forma injusta o brilho
e o mérito de ninguém. Entretanto, acrescento que na época em que
o escrevi não existia nenhum livro sobre o futebol parnaibano, ao
menos do meu conhecimento, e ao qual pudesse ter acesso. Ressalto que
publiquei o meu opúsculo com o objetivo de resgatar a memória dos
grandes craques do futebol campomaiorense e parnaibano, que se
encontravam imersos em quase absoluto esquecimento, e penso que o
atingi. Em resumo: alguns erros apontados já estavam corrigidos,
quando publiquei o livro em 2003, e os outros já estão retificados
no original.
Encerro
esses esclarecimentos, com o seguinte trecho do aludido livreto:
“Sem
dúvida, as belas e caprichosas jogadas de grandes craques
rapidamente caem no esquecimento. Diria mesmo que essas jogadas de
arte, verdadeiros malabarismos, verdadeiras coreografias e balés,
têm uma glória magnética e eletrizante, mas tênue, passageira,
comparáveis a belas esculturas executadas com neve, tão mais
precárias quanto mais delicadas.
Desejo
também registrar que a glória dos estádios muitas vezes é fugaz e
traiçoeira, pois não raras vezes um craque, após uma jogada de
gênio, comete logo a seguir um lance infeliz, como um passe para o
adversário, ou mesmo o suicídio melancólico de um gol contra. A
torcida, implacável, transforma os aplausos em apupos e vaias, o
êxtase em sofrimento, ainda mais quando o atleta atua na posição
ingrata de goleiro, em que uma falha é quase sempre fatal.”
(*)
Em minha juventude, joguei futebol, tendo atuado preferencialmente na
posição de goleiro. Remeto o leitor, caso tenha interesse, para as
crônicas "Quem te ensinou a voar?" e "Despedida de
Goleiro", ambas publicadas em vários blogs e portais.
Mestre,
ResponderExcluir“Noves fora” (como diria um amigo), a fúria inexorável da cronologia que em mim extirpa a comodidade e pachorrencia, eu diria que toda crítica deveria partir, a priori, daqueles que efetivamente contribuem com o assunto exposto às criticas.
Seria leviano de minha parte fazer qualquer juízo de valor a cerca de quem ou de onde vieram tais considerações infelizes.
Fui modestamente seu colaborador ao entrevistar alguns dos personagens que são citados no seu opúsculo O pé e a bola, como também sou testemunha do critério e rigor com que você pautou todo o processo de construção da citada obra. Portanto, quero lhe dizer que receba tais críticas não como denotativas ou coisa afim, mas como incentivo a outras empreitadas desafiantes. O desafio faz parte de sua trajetória vencedora e admirável e é sobre esse aspecto que desejo encerrar as minhas considerações.
Saúde, vida longa e produtiva.
Caro Zé Francisco,
ResponderExcluirObrigado por sua compreensão e justas ponderações, e sobretudo obrigado pelo precioso "adjutório" que o amigo me deu quando fiz pesquisas para a elaboração de meu modesto opúsculo.
Abraço,
Elmar Carvalho
Dr Elmar no futebol não tem lógica e sim lances então um craque para uma pessoa pode ser "perna de pau" , para outra essas criticas devem vir de alguém que não aceita que o chamem de Poeta maior. Abraço Lusmanell
ResponderExcluirCaro Dr. Lusmanell,
ResponderExcluirGostei do "poeta maior", embora não merecendo essa classificação, pois é sinal de amizade e apreço.
Como em tudo na vida, o futebol permite diferentes pontos de vista, como você bem observou.
Abraço,
Elmar