sábado, 3 de agosto de 2013

LEMBRAR NOVAMENTE

Miguel e Rosália

LEMBRAR NOVAMENTE

Carlos Said

No livrete “Retratos de Minha Mãe”, o consagrado Elmar Carvalho (José Elmar de Mélo Carvalho: Campo Maior, Piauí, 1956), distinto acadêmico da Academia Piauiense de Letras, sodalício fundado no dia 30 de dezembro de 1917, transcreveu singelos singelos versos de imorredoura saudade: “Ainda assim acredito / Ser tempo tempo tempo / Num outro nível de vínculo”.

Necessária é a explicação concernente à presença do poeta Antero do Quental (Antero Tarquínio do Quental: Ponta Delgada, Açores, 1842-1891). Pertencente à geração dos intelectuais portugueses da Universidade de Coimbra, escreveu o livro de sonetos: “Odes Modernas”, publicado em 1892, um ano após a sua dolorosa morte. Num dos excepcionais sonetos: “Raios de Extinta Luz”, sublimou a frase que é o facho luminoso da expressão justificadora dos após morrer: “Na mão de Deus, na sua mão direita”. Evidentemente, Elmar buscou o formidável Antero como exemplo da fé cristã, uma vez que devemos entregar o corpo da pessoa querida aos cuidados da mãe terra. Tal como acentua a escritora Carson McCullers (Columbus, Estados Unidos, 1917 – Nyack, Estados Unidos, 1967): “Eu vivo com as pessoas que criei”.

Assim, brotou no coração do Elmar Carvalho a semente do eterno amor pela adorada mãe Rosália Maria de Mélo Carvalho. Daí, poeta convocando poeta, eis Antônio Sampaio Pereira (Esperantina, 1923), surgindo com tanta espontaneidade. Na ajuda (sic) a fim de Elmar memorizar para sempre o nome daquela que lhe deu o ser, Sampaio justificou os seus exuberantes versos: “Como eu, quanta gente existe, / Que quase não resiste / À cruel fatalidade” (…) “Lamento que já não possa / Matar o meu desejo / De dar em minha mãe um beijo / De amor e de ternura”.

O proveitoso apego do literato campomaiorense pela beleza da vida, mostra-nos quão é proveitoso retratar os instantes felizes dum passado sustentado por recordações familiares inexcedíveis. Diante do exposto, não nos importa a crônica d' agora ser ou não aprovada. O conteúdo prenhe de inspirações faz por onde lembremos as ocasiões de peregrinação e paz, fortalecimento do espírito e do respeito pelos que ainda vivem condicionados à roda da fortuna (sorte) ou não tê-la nos empreendimentos da jornada terrena. Consequentemente, não devemos debochar da dor que atormenta a gente que, após traumas, ainda acredita numa felicidade sem fingimentos.


O exemplo do José Elmar de Mélo Carvalho é digno de aplausos. Descrever o trabalho da querida mãe Rosália Maria (quando viva), talvez nem todos saibam: é o convencimento do filho retribuindo generosamente o calor materno tantas vezes servindo de agasalho. Multiplicando explicações: família é como o orvalho da manhã que caindo revigora a planta e o perfume das flores que virão, reacendo no futuro o que a terra mãe e santa nos oferece. 

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