sábado, 5 de outubro de 2013

Francisco de Assis em Teresina



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Majestoso templo de São Benedito, esplêndida Avenida Frei Serafim, dois cartões da identidade de Teresina. Coração de Teresina. Impossível não os integrar à presença e atividade franciscana na capital. Nem o pomposo nome de Getúlio Vargas, que construiu enorme hospital na avenida, na década dos anos de 1940, pegou como denominação da via. A população foi seduzida pela simplicidade dos capuchinhos, desde os primórdios da cidade. Portanto, 4 de outubro,  dedicado a Francisco de Assis, um reconhecimento ao trabalho da comunidade franciscana e suas várias vertentes missionárias.

Em 1874, a minúscula Teresina, fundada em 1852, acabava no rústico cemitério de negros e expurgados, no Alto da Jurubeba, hoje Igreja de S. Benedito, inspirado no santo frade leigo, nascido na Sicília, Itália, de pais etíopes e escravos. Dali estendia-se a Estrada Real, futura Avenida Frei Serafim, cercada de florestas e sítios até o Rio Poti, de onde escravos extraíam pedras e areia para construção da igreja.

Frei Serafim de Catânia, Itália, nascido em 1811, chegou a Teresina em 1874, depois de longas missões pelo Nordeste, e iniciou a construção do templo. Gente simples frequentava o templo, ao contrário da Igreja do Amparo, dos socialmente privilegiados, inclusive sepultados no Cemitério S. José. Concluída a construção, em 1886, o frade regressou à Itália e morreu no ano seguinte. Não havia ainda comunidade de frades, só vigário.

Em 1939, a pedido e doações do arcebispo D. Severino, capuchinhos instalaram-se numa casa, na Chácara Tabajara, atual Convento de S. Benedito. Frei Heliodoro construiu parte do convento, em 1941. Depois, ergueu, no fundo, escola primária, salão paroquial e Pia do Pão dos Pobres de Santo Antônio. D. Severino ainda ampliou a paróquia até a Piçarra, onde os frades construíram a capela de São Raimundo Nonato. Nos anos 50, o vigário Frei Eliézer edificou o atual templo em substituição à capela. Em 1967, os capuchinhos entregaram a administração da paróquia de S. Raimundo aos frades franciscanos, vertente da mesma Ordem.

Capuchinhos popularizaram-se em Teresina, a partir do frade Frei Serafim, pioneiro missionário da capital. O baixinho Frei Heliodoro era conhecido pelo cognome de paizinho. Ninguém tinha pecado ao confessar-se. O frade, viciado em torrado de fumo, conseguia tudo a cada aspirada. Frei Mariano, início dos anos 70, transformou parte térrea do convento no colégio público e misto S. Francisco de Assis. Abocanhou 2 mil alunos da melhor sociedade, desesperando escolas religiosas, que se viram obrigadas a adotar o sistema misto. Frei Mariano modificou a forma arredondada da Igreja de S. Benedito, no fundo, para retilínea e retirou candelabros históricos e clássicos. A Justiça exigiu correção ao estilo original. Quanto aos belíssimos candelabros, segundo se comentava, foram parar em privilegiadas mansões. O vigário, nacionalmente conhecido na mídia, Frei Memória, prestigiado no meio político, reformou o fundo do templo à forma original, ergueu belo altar e estátuas de madeira, mas não conseguiu resgatar os preciosos candelabros.

Neste dia 4 de outubro, imagino aquele menino de outrora, que aproveitou a distração do sacristão, subiu as escadas do templo e se aproximou dos sinos e da imagem de S. Benedito. Do alto das torres, arrepiado, contemplou a cidade de ponta a ponta. Esta e outras aventuras, acompanhando frades. O franciscanismo plasmou a capital do Piauí. 

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