ETERNO
RETORNO
Elmar Carvalho
memória:
lâmina
de desassossego
cornucópia
insana insaciável
a
jorrar o passado
que
não morre nunca
sempre
ressuscitado
no
eterno regresso
a
nós mesmos.
ó
emoções redivivas
e
ampliadas
das
sensações
de
nervos expostos
nas
carnes pulsantes
de
um passado
sempre
lembrado.
recordações
que
dão e são vida
de
becos escuros, sem saída
de
amores
hoje
boleros
bolores em flores
de
ilusões perdidas
que
se fazem dores
na
florida ferida da saudade.
evocações
de
dribles esquecidos
de
gols frustrados e acontecidos
de
um jogo que nunca termina
de
uma malsinada sina sinuosa
de
lágrimas caudalosas
incontidas,
vertidas
das
vertentes profundas
do
peito – porto
sem
tino e sem destino
feito
somente de desatino.
as
mulheres amadas
na
juventude fugaz
não
envelhecem
não
se corrompem
não
morrem jamais
preservadas
intactas e belas
na
câmara ardente
incandescente
da memória.
recordações
de fantasmas
que
já nos abandonaram
de
amigos mortos
que
nos acompanham
cada
vez mais vivos
de
sustos e gritos
de
proscritos e malditos
de
agouros e assombrações
de
desdouros e sombras vãs, malsãs,
oriundos
dos porões escavados
nos
subterrâneos dos sobrados
subterfúgios
e refúgios
da
memória.
O
passado poderoso e renitente
retorna
e continua vívido e presente
se
contorcendo se retorcendo
e
se reacontecendo.
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