quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O INSONDÁVEL DESTINO DOS LIVROS

Flagrante da solenidade de lançamento, vendo-se Dílson Lages  Monteiro, Homero Castelo Branco, Elmar Carvalho, Reinaldo Torres e Antenor Rego Filho 

Elmar Carvalho, Antenor Rego Filho e Joaquim Neto

14 de novembro   Diário Incontínuo

O INSONDÁVEL DESTINO DOS LIVROS

Elmar Carvalho

Desde muito tempo, na medida do possível e sem radicalismo, tenho procurado seguir o velho ditado: “boa romaria faz quem em sua casa fica em paz”. Mormente nos dias de hoje, em que os ladrões agem, muitas vezes, com desnecessária e descomedida violência (e em que o trânsito se torna cada vez mais conturbado e perigoso). Mas até quando o homem de bem deve ficar às ocultas e recluso, e o ladrão solto e às claras?

Contudo, mesmo estando sentindo incômodos efeitos colaterais da radioterapia, resolvi atender convite do poeta, escritor e professor Dílson Lages Monteiro, que relevantes serviços presta às letras piauienses, através do magistério e de seu excelente portal Entretextos, e fui assistir ao lançamento de seu livro O rato da roupa de ouro, que além do ótimo texto ostenta as belas ilustrações de Ângela Rêgo.

O evento aconteceu na livraria Entre Livros, na noite da última sexta-feira. Logo à chegada, deparei-me com os velhos amigos Antenor Rego Filho e Homero Castelo Branco, com os quais entretive agradável palestra. Como o lançamento acontecia no interior de uma livraria, em que eu me encontrava cercado de livros por todos os lados, caí em tentação consumista e resolvi adquirir o livro A mística do parentesco – uma genealogia inacabada (volume 5): Os Castello Branco e seus entrelaçamentos familiares no Piauí e no Maranhão, da autoria de Edgardo Pires Ferreira.

Esse livro não interessa apenas aos membros das famílias enfocadas, mas a todos os interessados em história, porquanto todos os títulos em que a obra se divide são iniciados por textos, que dizem respeito à História do Piauí. Alguns membros da ilustre estirpe foram contemplados com verbetes, alguns de mais alongado conteúdo, mormente os que se destacaram no empreendedorismo, na política, nas profissões liberais e nas artes, sobretudo a literária.

Fui apresentado por Dílson Lages ao poeta Joaquim Neto, que não conhecia. Revelou-me ele que já lera grande parte de meus poemas, através de livros que se encontravam em poder de Maria, uma amiga nossa, principalmente de meu filho João Miguel e da Fátima. Disse-me ele que costumava se hospedar com os pais de Maria, residentes na zona rural de Esperantina, quando de passagem por esse município. Fiquei mais uma vez surpreendido com os caminhos misteriosos pelos quais os livros chegam ao conhecimento de uma pessoa, sobretudo se levarmos em consideração as pequenas tiragens de nossas obras literárias, e a sua precária distribuição em nosso estado, que quase sempre ocorre apenas entre amigos, familiares e literatos.

Algumas décadas atrás, o poeta Rubervam Du Nascimento me deu a notícia de que encontrara uma socióloga em Paulistana, onde ele se encontrava em serviço de fiscalização do Ministério do Trabalho, que havia lido um livro de minha autoria em Recife, cidade onde ela estudara e residia. Nunca enviei nenhum livro de minha autoria para a capital pernambucana, de modo que fiquei deveras intrigado sobre como essa socióloga, numa cidade de mais de um milhão de habitantes, fora ali encontrar um livro deste modesto autor. Parecem ser insondáveis e surpreendentes os caminhos de um livro.

Em minha juventude, li um texto do escritor e historiador uruguaio Eduardo Galeano em que ele dizia que escrever um livro seria como colocar uma mensagem numa garrafa e atirá-la ao mar; a possibilidade de que alguém a recolhesse e a lesse era muito remota. Pois a socióloga, contactada pelo Rubervam em Paulistana, por cúmulo de grande coincidência, porquanto muito raramente ele se deslocava a essa cidade, realizou a façanha, algo milagrosa, de encontrar e ler um livro de minha autoria na bela Veneza Brasileira, que cantei em versos de minha adolescência, quando lá estudei durante o período de três meses, nos idos de 1974.

E o poeta Joaquim Neto, como se fosse o destinatário de uma mensagem lançada ao oceano, encontrou os meus livros numa casa humilde da zona rural de Esperantina. Fico feliz de, através desses encontros improváveis, ter levado algo, que espero tenha sido bom e útil, a alguém que não conhecia, e cujos fatos vieram a meu conhecimento por inesperadas coincidências e circunstâncias.      

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