quarta-feira, 9 de abril de 2014

AS FANTASIAS DE UMA MULHER CASADA


AS FANTASIAS DE UMA MULHER CASADA

Antonio Gallas

A matéria que seria para circular nessa edição deste periódico, trazia o título de A TERRA DOS GOVERNADORES e versava sobre os filhos de Barras que foram governadores. Fazia também comparações com a cidade da Parnaíba que já tem o seu quarto filho ilustre como governador do Piauí. Enviei a mesma para a apreciação e ou publicação no blog do poeta, escritor e magistrado Elmar Carvalho como às vezes o faço quando acho interessante um trabalho de minha lavra. Assim o fiz, e momentos depois recebo telefonema do escritor Elmar explicando-me a razão de Barras ser denominada de “a terra dos governadores” e apontando alguns equívocos por mim cometidos no referido trabalho. Barras não apenas deu filhos governadores no Piauí, mas também em outros estados como Amazonas e Pernambuco. Agradeço a atenção do ilustre poeta e escritor. Vou fazer nova pesquisa sobre o assunto e refazer o trabalho para posterior publicação.

Porém, para não perder o fio da meada, ou seja, para não perder esta edição do Jornal Norte do Piauí, resolvi transcrever partes de um conto da professora Vera Lucia Menezes de Oliveira e Paiva, no qual a autora trabalha com as palavras de uma forma bem humorada, o que na minha opinião, agrada ao leitor. A autora é professora titular de línguas estrangeiras da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do CNPq. Atua na Graduação e na Pós-Graduação, nas linhas de pesquisa em “Ensino/Aprendizagem de línguas estrangeiras” e em Linguagem e Tecnologia. É ainda autora de livros didáticos de língua inglesa como o Power English e o Alive. Do seu conto “As Fantasias de Uma Mulher Casada” extraí apenas a parte que fala do professor de matemática, do carteiro e do capitalista. Deixei a do professor de inglês e a do linguista para outra oportunidade. Ei-lo:

AS FANTASIAS DE UMA MULHER CASADA

Com o professor de matemática, o triângulo amoroso foi um resultado não calculado. O produto de olhares sincronizados, durante aquele curso de especialização, foi o tesão. A soma de tantos desejos subtraiu-lhes a repressão, multiplicou-lhes as fantasias e deixou-os divididos em uma equação de amor. Na cama, formavam um par coeficiente. Na horizontal ou na vertical, tiravam o máximo gozo comum de uma dança impar de eixos coordenados. A conversa fracionada - assim?/ - é.../ /te gosto/ - te amo/ - pode?/ - pode.../ - vem.../ - me abraça/ - me aperta/ - te adoro/ - deixa!?/ - hum, hum.../ - elevava ao cubo aquele momento de gozo. Ela jamais calculara que pudesse ser tão feliz. Os dois corpos, em linhas retas ou curvas, traçavam ângulos de vários graus, formando um teorema do amor.

Com o carteiro, a conversa foi telegráfica. Antes trocaram olhares em um correio tipo mala direta.
- Quer?
-Quero
- Quando?
- Agora.
- Agora?
- É
- Aonde?
- Aqui.
- Aqui?
- É.

No quarto, postaram-se frente a frente e beijaram-se aereamente. Puseram logo as cartas na cama e selaram aquele momento de prazer. Carimbados pelo amor, os dois, ali naquela cama, pareciam um cartão postal carimbado por Eros.

Com o capitalista, dividiu toda a sua afetividade. Resgatou as dívidas de prazer que contraíra consigo mesma ao longo daquele casamento falido e aplicou todo o seu amor naquela sociedade anônima. Suas carências nunca mais ficaram a descoberto. Aquele homem era uma apólice de prazer resgatável em um prazo fixo de cada sete dias. Ele hipotecava juros de amor e o seu desempenho na cama era adicionado a carícias que rendiam infindáveis dividendos. Duplicavam-se os telefonemas durante o resto da semana. Cada telefonema era um cheque em branco em que ela colocava a quantia de felicidade que desejasse. Nunca tivera uma relação afetiva tão lucrativa. Quanto aos orgasmos, às vezes ele ficava em débito, mas prometia-lhe outros, em duplicata, ao curto prazo de uma semana. Ela sempre lhe dava crédito, pois sabia que os jogos de amor são como as bolsas de valor: há dias de alta e dias de baixa. Havia também os dias de inflação de orgasmos que lhe dava a impressão de estar saciada para sempre. Aquele homem rendeu-lhe muito prazer. Enquanto durou, ela contabilizava cada momento, somava os beijos e os abraços e depositava na alma todas as palavras doces.  

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