quinta-feira, 10 de abril de 2014

POLÍTICA & política



10 de abril   Diário Incontínuo

POLÍTICA & política

Elmar Carvalho

Nunca fui candidato a cargo político, nem tampouco fui filiado a nenhum partido, de modo que me sinto à vontade para discorrer com isenção sobre o tema que me disponho a enfrentar. Em contrapartida, não me considero “apolítico”, porquanto sou um cidadão, e sei perfeitamente que todas as decisões importantes e de interesse geral da sociedade, mormente a elaboração e a execução das leis, passam necessariamente pela política.

Aliás, se os cargos políticos fossem exercidos da forma correta, sem outro interesse senão o de servir à sociedade, a política seria um verdadeiro sacerdócio, e os políticos seriam simplesmente servos ou servidores do povo, que seria o seu mandante ou “patrão”. Contudo, os desvios de conduta e de finalidade são uma constante, na forma do que constatamos a todo o momento através da mídia.

Não compartilho da crença de que todos os políticos sejam maus, de que todos os políticos sejam corruptos; quase toda generalização é eivada de injustiça. Entretanto, tenho a convicção de que, no Brasil, os POLÍTICOS, com maiúsculas, são minoria, cada vez mais restrita. Tenho observado que os homens de bem vêm se afastando da política, como se estivessem fugindo de uma doença fatal e contagiosa. Ora, quando a luz é afastada ou se apaga, as sombras vão ocupando todos os espaços. Na verdade a sombra (ou a treva) nada mais é do que a ausência da luz. Logo, torna-se necessário que os homens virtuosos voltem a concorrer aos cargos públicos eletivos.

Todavia, por razões que não irei expor neste singelo e conciso registro, uma campanha política tornou-se astronomicamente cara. Muitos cidadãos não têm dinheiro para enfrentá-la. Outros teriam condições financeiras para tal, mas como não pretendem “assaltar” o erário e nem travar relações espúrias com doleiros e empresários desonestos, e assim se ressarcir dos gastos da campanha, preferem não disputar nenhum cargo político. Desse modo, muitas pessoas de boa formação moral se omitem da política, o que deixa um vasto campo aberto aos aventureiros, arrivistas e inescrupulosos. Como disse antes, quando a luz se afasta, as trevas tomam de conta.

Conta-se que um magistrado, filho de certa cidade maranhense, salvo engano, teria dito a seus amigos que só acreditaria que um homem não pudesse ser honesto na política se ele próprio fosse prefeito de sua cidade e não pudesse exercer o cargo com probidade. Seus amigos, ante essa afirmativa, se propuseram a trabalhar por sua eleição, caso ele viesse a candidatar-se. O juiz pediu exoneração de seu cargo, filiou-se a um partido político, como exige a legislação eleitoral, e candidatou-se.

Eleito, assumiu as funções de prefeito de seu município. Um mês depois renunciou ao cargo. Sentiu que seria difícil exercer as suas funções com honestidade. Confidenciou que os próprios parentes, amigos e correligionários lhe faziam pedidos de benesses indevidas e ilegítimas. Não querendo desgastar-se e tornar-se inimigo dessas pessoas preferiu dar “às de Vila Diogo”, e deixou as funções para as quais fora eleito. Submeteu-se a novo concurso, e retornou à judicatura. Talvez pensasse como Voltaire: “Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu.”

Penso que reeleições infindáveis facilitam a criação de relações espúrias entre os políticos e os eleitores, entre os políticos entre si e principalmente entre estes e os empreiteiros que buscam vantagens indevidas, inclusive na partilha do orçamento e na destinação de verbas públicas. Não houvesse reeleição, o político saberia que logo voltaria à condição de cidadão comum, e procuraria fazer boas leis e bem administrar a coisa pública.

E talvez não houvesse tempo nem condições para a formação de compadrios, amizades do interesse pessoal e outros conluios para a prática de maracutaias. Pior ainda quando, na chefia do Poder Executivo, a pessoa pleiteia ser reeleita no pleno exercício do seu cargo. Acredito que se não houvesse reeleição ou se, no máximo, fosse permitida apenas uma, muitas mazelas eleitorais e mesmo de desvio de verbas públicas não aconteceriam, ou, ao menos, seriam bastante reduzidas.

Na seara das reeleições, uma coisa não consigo entender: por que um presidente da República, que é a mais alta e a mais poderosa autoridade do país, pode concorrer a uma reeleição sem deixar o seu cargo, enquanto um secretário municipal, para disputar um cargo de vereador, tem que renunciar à pasta que ocupa? Se o secretário poderia usar o seu cargo para facilitar a sua eleição, entendo que o chefe do Poder Executivo poderia mais ainda.

Não havendo incontáveis reeleições e, por conseguinte, diminuindo o número de políticos profissionais e candidatos natos, as campanhas se tornariam menos caras. Isso talvez ensejasse a possibilidade de que um maior número de pessoas corretas pleiteasse cargos políticos, o que certamente contribuiria para a renovação de lideranças e para o necessário arejamento político, com novas e mais opções. Como dizem os pareceristas, é este o meu entendimento, salvo melhor juízo.

Entretanto, mesmo essa possível tentativa de solução seria desvirtuada, se as virtudes não dominarem a alma humana, pois sempre o mau busca modos e meios de fraudar as melhores leis. Como disse o poeta, patriota e grande líder angolano Agostinho Neto: “Não basta que seja pura e justa a nossa causa. / É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.”       

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