terça-feira, 6 de maio de 2014

G. G. MÁRQUEZ – MESTRE DO REALISMO FANTÁSTICO



G. G. MÁRQUEZ – MESTRE DO REALISMO FANTÁSTICO

Francisco Miguel de Moura*

De vez em quando, volto a meu diálogo com os mortos. No meu último artigo este foi o assunto. Mas o morto d’agora permanece mais vivo do que nunca: Gabriel García Márquez – o querido Gabo.
- Por que você, querido G.G.Marquez, não continua escrevendo e mandando, de onde estiver, para os jornais e editores, suas incríveis histórias de Macondo, país especial de sua ficção como se configurasse todo o continente a partir do México à Argentina, passando pela América Central e pelo Caribe?  - Nosso diálogo começaria assim.

E justifico que sua demência não impedirá de lembrar o nosso passado – que nada mudou – entre latino-americanos. Sua amizade com Fidel faz parte do seu estoque de pessoas que lhe serviram para construir sua verdadeira ficção. Logo ele sentiu a derrota a que qualquer posição ideológica levará a população de Macondo. A ilha de Cuba sentiu e está sentindo na carne. Pela ideologia, ela se fez tão caracteristicamente parte do país de Macondo e da família Buendia.

Gabriel Garcia Márquez, nasceu na Colômbia, em Aracataca, em 6 de março de 1927, e faleceu na Cidade do México, em 17 de abril de 2014. Prêmio Nobel de Literatura, em 1972, antes de falecer, respondendo aos jornalistas, diz: “A GRANDE VANTAGEM DO PRÊMIO NOBEL É QUE NUNCA MAIS SEREI CANDIDATO, O QUE ME DÁ UMA TRANQUILIDADE EM TODOS OS MESES DE OUTUBRO”.  E no seu meio humor já senil, emite a pergunta: “Que é que vocês estão fazendo aqui? Vão embora!”.  Num texto seu, inédito, lê-se: “Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu”. Era como se adivinhasse que breve sairia deste para outro mundo melhor e poderiam escrever, na sua sepultura, essa frase como epitáfio. 

Criado por seu avô materno, que foi um herói da “Guerra dos Mil Dias”, dele recebeu histórias fantásticas que lhe ficaram na cabeça de menino e depois repassaria especialmente para “Cem anos de solidão”, livro que lhe deu grande notoriedade e lhe deu também a fama de ter sido o criador do “realismo mágico” ou “realismo fantástico” como também chamam os críticos e ensaístas literários. A respeito, García Márquez não gostava nada disso, declarando, certa dia, que “meu realismo é só realismo, a realidade é que é mágica. Não invento nada. Não há um linhas nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação”. 

Certamente era uma ironia daquele que criou e escreveu tantas obras importantes. Estreou com “Relato de um náufrago”, 1955; em seguida, lançaria “Ninguém escreve ao coronel”, 1961; depois, o já mencionado “Cem anos de solidão”, 1967; e “O amor no tempo do cólera”, 1985, livro da especial preferência de Gabo. Muitos outros poderíamos citar, por exemplo: “O outono do patriarca”, Os olhos do cão azul” e “Memória de minhas putas tristes”, se não fosse cansar o leitor. 

 Até certo ponto, G.G. Márquez tem razão. A literatura fantástica ou mágica sempre existiu desde que existem escritores. Então, como viria a ser classificado o livro “Mil e uma noites”?  E “A metamorfose”, de Franz Kafka”?  Poderíamos citar dezenas. Escolhemos estes dois porque foram os citados por ele, Gabo, como influenciadores de sua arte. O escritor Todorov, em  sua “Introdução à literatura fantástica”, acredita que “A LITERATURA FANTÁSTICA NADA MAIS É DO QUE A MÁ CONSCIÊNCIA DO SÉCULO XIX POSITIVISTA.”  Depois ele mesmo diz que não há como compreender ou explicar Kafka, pois suas narrativas dependem,  ao mesmo tempo, do estranho e do maravilhoso - dois gêneros aparentemente incompatíveis.

No Brasil, país de tradição e língua diferentes dos demais latino-americanos, diz-se que não há escritores do gênero. E eu pergunto: Onde enquadrar o Monteiro Lobato de suas histórias infantis? De qualquer forma, está assentado que nosso primeiro escritor do “realismo fantástico” foi Murilo Rubião, com o seu “O ex-mágico”, de 1947. Porém, Nilto Maciel, cearense que mora em Fortaleza, considerado justamente contista e romancista alinhado ao “realismo fantástico”, aponta em seu recente livro “Sôbolas manhãs”, 2014, outros brasileiros como também da mesma linha, entre os quais Álvares de Azevedo e Machado de Assis.

Voltando a Garcia Márquez, não podemos deixar de referir a sua atividade jornalística, onde era mestre. Trabalhou em Roma, nos Estados Unidos (New York), Barcelona, Caracas e Havana.

Por enquanto, Gabriel García Márquez é famoso por “CEM ANOS DE SOLIDÃO”, para o grande público, embora seja uma obra complexa, que merece muita paciência e percuciência para ser absorvida em sua inteireza e originalidade. É d’agora em diante que sua obra será reeditada e distribuída para mais leitores e maior satisfação de quem curte a grande literatura. “Cem anos de solidão” vai ficar como se fosse o “Dom Quixote” moderno, atual. E eterno como o de Miguel Cervantes de Saavedra. 
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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, Teresina-PI (Brazil) e da International Writers and Artists Association, Toledo - OH - Estados Unidos.     

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