G.
G. MÁRQUEZ – MESTRE DO REALISMO FANTÁSTICO
Francisco
Miguel de Moura*
De
vez em quando, volto a meu diálogo com os mortos. No meu último
artigo este foi o assunto. Mas o morto d’agora permanece mais vivo
do que nunca: Gabriel García Márquez – o querido Gabo.
-
Por que você, querido G.G.Marquez, não continua escrevendo e
mandando, de onde estiver, para os jornais e editores, suas incríveis
histórias de Macondo, país especial de sua ficção como se
configurasse todo o continente a partir do México à Argentina,
passando pela América Central e pelo Caribe? - Nosso diálogo
começaria assim.
E
justifico que sua demência não impedirá de lembrar o nosso passado
– que nada mudou – entre latino-americanos. Sua amizade com Fidel
faz parte do seu estoque de pessoas que lhe serviram para construir
sua verdadeira ficção. Logo ele sentiu a derrota a que qualquer
posição ideológica levará a população de Macondo. A ilha de
Cuba sentiu e está sentindo na carne. Pela ideologia, ela se fez tão
caracteristicamente parte do país de Macondo e da família Buendia.
Gabriel
Garcia Márquez, nasceu na Colômbia, em Aracataca, em 6 de março de
1927, e faleceu na Cidade do México, em 17 de abril de 2014. Prêmio
Nobel de Literatura, em 1972, antes de falecer, respondendo aos
jornalistas, diz: “A GRANDE VANTAGEM DO PRÊMIO NOBEL É QUE NUNCA
MAIS SEREI CANDIDATO, O QUE ME DÁ UMA TRANQUILIDADE EM TODOS OS
MESES DE OUTUBRO”. E no seu meio humor já senil, emite a
pergunta: “Que é que vocês estão fazendo aqui? Vão embora!”.
Num texto seu, inédito, lê-se: “Não chores porque já terminou,
sorria porque aconteceu”. Era como se adivinhasse que breve sairia
deste para outro mundo melhor e poderiam escrever, na sua sepultura,
essa frase como epitáfio.
Criado
por seu avô materno, que foi um herói da “Guerra dos Mil Dias”,
dele recebeu histórias fantásticas que lhe ficaram na cabeça de
menino e depois repassaria especialmente para “Cem anos de
solidão”, livro que lhe deu grande notoriedade e lhe deu também a
fama de ter sido o criador do “realismo mágico” ou “realismo
fantástico” como também chamam os críticos e ensaístas
literários. A respeito, García Márquez não gostava nada disso,
declarando, certa dia, que “meu realismo é só realismo, a
realidade é que é mágica. Não invento nada. Não há um linhas
nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação”.
Certamente
era uma ironia daquele que criou e escreveu tantas obras importantes.
Estreou com “Relato de um náufrago”, 1955; em seguida, lançaria
“Ninguém escreve ao coronel”, 1961; depois, o já mencionado
“Cem anos de solidão”, 1967; e “O amor no tempo do cólera”,
1985, livro da especial preferência de Gabo. Muitos outros
poderíamos citar, por exemplo: “O outono do patriarca”, Os olhos
do cão azul” e “Memória de minhas putas tristes”, se não
fosse cansar o leitor.
Até
certo ponto, G.G. Márquez tem razão. A literatura fantástica ou
mágica sempre existiu desde que existem escritores. Então, como
viria a ser classificado o livro “Mil e uma noites”? E “A
metamorfose”, de Franz Kafka”? Poderíamos citar dezenas.
Escolhemos estes dois porque foram os citados por ele, Gabo, como
influenciadores de sua arte. O escritor Todorov, em sua
“Introdução à literatura fantástica”, acredita que “A
LITERATURA FANTÁSTICA NADA MAIS É DO QUE A MÁ CONSCIÊNCIA DO
SÉCULO XIX POSITIVISTA.” Depois ele mesmo diz que não há
como compreender ou explicar Kafka, pois suas narrativas dependem,
ao mesmo tempo, do estranho e do maravilhoso - dois gêneros
aparentemente incompatíveis.
No
Brasil, país de tradição e língua diferentes dos demais
latino-americanos, diz-se que não há escritores do gênero. E eu
pergunto: Onde enquadrar o Monteiro Lobato de suas histórias
infantis? De qualquer forma, está assentado que nosso primeiro
escritor do “realismo fantástico” foi Murilo Rubião, com o seu
“O ex-mágico”, de 1947. Porém, Nilto Maciel, cearense que mora
em Fortaleza, considerado justamente contista e romancista alinhado
ao “realismo fantástico”, aponta em seu recente livro “Sôbolas
manhãs”, 2014, outros brasileiros como também da mesma linha,
entre os quais Álvares de Azevedo e Machado de Assis.
Voltando
a Garcia Márquez, não podemos deixar de referir a sua atividade
jornalística, onde era mestre. Trabalhou em Roma, nos Estados Unidos
(New York), Barcelona, Caracas e Havana.
Por
enquanto, Gabriel García Márquez é famoso por “CEM ANOS DE
SOLIDÃO”, para o grande público, embora seja uma obra complexa,
que merece muita paciência e percuciência para ser absorvida em sua
inteireza e originalidade. É d’agora em diante que sua obra será
reeditada e distribuída para mais leitores e maior satisfação de
quem curte a grande literatura. “Cem anos de solidão” vai ficar
como se fosse o “Dom Quixote” moderno, atual. E eterno como o de
Miguel Cervantes de Saavedra.
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*Francisco
Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras,
Teresina-PI (Brazil) e da International Writers and Artists
Association, Toledo - OH - Estados Unidos.
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