sábado, 7 de junho de 2014

O Mundo e o Brasil: um páreo duro


Cunha e Silva Filho

1)     O MUNDO


           Fiquei perplexo com o que li na seção internacional da Folha de São Paulo de domingo  passado. O conteúdo  das notícias que li  me deixaram decepcionado. A esperança que tínhamos, nós ocidentais,  da “Primavera Árabe” se esfumou. As manifestações,  os gritos de clamor dos povos, as vidas perdidas nos embates contra as forças  policiais dos governos  truculentos das nações onde a esperança  parecia  que  ia ser concretizada pela troca de governos  autoritários por governos  democráticos, os desejos  justos   contra  a opressão e a barbárie  praticamente não resultaram em muita coisa.  
 Basta  mencionar   os exemplos da Argélia,  Tunísia, Líbia, Egito,  Síria, Arábia  Saudita, Iraque e Iêmen. Os que realizaram eleições (?)  colocaram no poder  ditadores. Assim, os exemplos da Argélia, do Egito, este último   hoje  governado  por um  presidente  interino; a Síria, que vai  realizar eleições(?) em 3 de junho próximo já conta como  vitorioso o genocida  e ditador Bashar al-Assad; a Arábia Saudita, uma monarquia,  conduz o povo com mão de ferro; o Iraque,  desde a  invasão dos EUA em 2003,   enfrentou  um “ciclo” de violências, onde xiitas  e sunitas  não se entendem, realizou eleições. Resta saber se legítimas ou fraudadas,. Só Deus sabe...
Hoje,  ditadores,  autocratas  falam que,em seus governos,  há democracia, o que nos permite  deduzir que “democracia” no sentido mais lídimo do termo, passa  a ter uma metamorfose  semântica e, o que é mais grave,  de teor pejorativo ou  hilariante.Vai ver que Fidel Castro, Maduro e outros  assemelhados  se definem como  democratas. Como pode haver democracia onde há censura cerrada ou velada?
Tenho observado, em entrevistas de cientistas políticos ou  de pessoas  familiarizadas com  a questões de política internacional, que há um  certa concordância  de entendimento  do que  está acontecendo com  os governos  de algumas nações do  Oriente, do Leste Europeu, da América do Sul e  de alguns países africanos no sentido de que está se revelando ou  constatando  uma estranho   comportamento  político de cunho autoritário respaldado  pelas  suas populações. O povo, assim, aceita o governo  discricionário, elege  os candidatos  a presidentes   com esse perfil  de ditador, naturalmente  pensando – e erradamente,  é claro  – que uma nação precisa de ser  administrada  por  esse tipo de governante.
Esse comportamento dos povos  é preocupante, porquanto   dessa espécie de acordo  silencioso  entre o governo e os seus cidadãos arrisca-se  uma nação  em cair na armadilha  do totalitarismo.
De acordo com uma análise de Roula Khalaf, do Financial  Times, publicada na mencionada  edição  de domingo da Folha de São Paulo, o conhecido  líder militar, Abdel Fattah al-Sisi, tem certa a sua eleição e, conforme disse o analista,   .”.. com aprovação popular esmagadora.” E mais,  até um canal de TV patrocinado  pelos sauditas, retirou do ar Bassem Youssef,  um conhecido  comediante do Egito. Isso para impedi-lo de evitar influenciar   a orientação dos eleitores e a opinião  pública.”   Essa “comédia de uma noite de verão” é o retrato  mais  deprimente  da contrafação política  orquestrada  para  dar vitória a um candidato. O analista, num trecho  do artigo,   chega a  citar  essa opinião , segundo ele, de “muitos egípcios”  “É de um líder forte que o país precisa.”
O que está, na verdade,  acontecendo com  os povos  do mundo? Estão enlouquecendo e pondo, assim, a própria   cabeça  à decapitação?  Para onde estão  lançando os  mais  autênticos  postulados da democracia da Grécia  antiga?


2) O BRASIL
          
           Agora,  leitor,  penetremos  no país do carnaval, sede da bem próxima  Copa Mundial  de  Futebol,  delícias dos fanáticos  matadores   de outros fanáticos  numa  simbiose  que, entra ano, sai ano,  aumenta  a estatística  dos crimes  relacionados a um esporte outrora bem mais  humano, bem menos  milionário, máquina atual  de fazer  uns poucos  jogadores craques   de primeira grandeza e, depois,  transformados  em  businessmen do império  dos cartolas.           
            A pior notícia que ouvi  esta noite  foi a de uma  energúmeno, uma capeta em  forma de humano, que havia arrancado    uma vaso sanitário de um dos banheiros  femininos de um  estádio  de futebol  brasileiro e do alto do estádio o  arremessara em direção a um jovem, possivelmente  torcedor de time  rival, que estava  passando lá embaixo na calçada. O objeto  atingiu  o jovem em cheio e o matara  instantaneamente.
           Em pouco tempo,  o governo  da Dilma, agora na condição de pré-candidata à reeleição,  gastou  rios de dinheiro  construindo  estádios de futebol  pelo país afora,  não se importando  com o estado  escangalhado  dos hospitais  públicos, do transporte  em petição de miséria, da educação pública  em frangalhos,    deixando um povo sofrido e ao deus-dará,  sobretudo em São Paulo,  a cidade mais importante do país, angustiada ainda mais com a escassez de água  para a população  paulistana e a escalada de violência  jamais  vista na história do país, violência que se alastra por toda a nação,  com  pivetes  matando  inocentes de todas as idades e, o que é pior,  sem serem punidos,  sem terem a maioridade penal reduzida.
A falta de controle dos órgãos de segurança  já está levando a um  outro grave problema  criminal: os linchamentos, a lei  feita  por populares,  muitas vezes,  até  matando  inocentes como  foi  o exemplo  de uma jovem senhora  em São Paulo, se não me engano, sacrificada por mãos de populares  ensandecidos tal como  já aconteceu  nos tempos da faroeste  americano, sob a alegação de que ela  seria uma mulher que  sequestrava  crianças para serem  instrumentos de sacrifícios ritualísticos.  A mulher  em questão  era inocente e havia sido  confundida  com a verdadeira criminosa,  cujo paradeiro  ainda se desconhece.O erro foi duplo,  alguém  postou na internet um retrato   falado de uma mulher provavelmente com  alguma  semelhança  com a  inocente  que deixou a família arrasada  para sempre.
        Com tantos gritantes problemas  a serem  minimizados,  o  país ainda  assiste ao escândalo  da compra bilionária  de uma  refinaria  em Pasadena, EUA,  num imbróglio detetivesco que atinge os alicerces da política  petista. E os jornais já andam  falando em outra  compra  cheirando a fraude  envolvendo, se não  incorro em erro,  homens da Petrobrás e o governo. Essas transações,   que não deram  nenhuma   vantagem  aos brasileiros, mas só prejuízos ao Erário  Público,  ainda não foram  bem  justificadas  pelo  governo  em Brasília.
     E, diante de todos esses “malfeitos”, vocábulo do campo semântico petista, assim como o tratamento  cerimonioso   ‘presidenta”  saído das bocas dos aduladores e áulicos   palacianos, como  vai  a pré-candidata, amiga do  “Esse é o cara,” se justificar diante da   opinião  brasileira e nos debates  das campanhas  na corrida presidencial pela televisão e comícios nos quatro cantos  da pátria  amada?

      Estou quase acreditando que o Brasil está  se enfileirando  no mesmo time   dos  “gloriosos”  candidatos-ditadores  que estão  substituindo  a “Primavera Árabe”  por novos  algozes  com pretensões  de  czares  da velha  Rússia  de  Dostoiévski. E me pergunto mais uma vez: quem será, no país, que   deverá ser  calado  para  não cair na mesma  situação  do  comediante  egípcio? Fica no ar a pergunta.     

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