quinta-feira, 3 de julho de 2014

Imagina!



Imagina!

Edmar Oliveira

Complexo de Vira-Lata: O velho Nelson Rodrigues inventou o termo e o definia como “a inferioridade com que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. E ele voltou repaginado nesta Copa no Brasil. Misturou-se o esporte com a reclamação política de uma classe média que se acha ameaçada pela melhora econômica do povo da periferia. E por temor de nunca passar às elites, a classe média confundiu-se, voluntariamente, com elas na divulgação do bordão: “Imagina na Copa!”. Os que conhecem o exterior sempre se comparam inferiormente com o que veem lá fora. Tudo lá é bom, aqui tudo é ruim. Então na Copa iríamos passar vergonha com as visitas importantes que chegariam. O que estamos vendo é um encantamento com nossa gente, com a nossa receptividade, com os nossos estádios, com os aeroportos, com nossas cidades. Aqui em Copacabana instalou-se uma verdadeira “torre de babel” nos idiomas, mas com todo mundo se comunicando na boa vontade, na festa, na animação. E alguns visitantes tão deslumbrados que nos invejam, invertendo o complexo. Que tal se a Copa nos curar deste mal depressivo? Claro que também teve superfaturamento, corrupção de praxe nas obras para a Copa, promessas de mobilidade urbana que não foram executadas. Imagina se nos livrarmos também deste mal cleptomaníaco? Por isso é de bom tom que não sejamos Neo-Pachecos nesta Copa. Pacheco era o camisa 12 da Gillette na Copa de 82, patriotada dos estertores da ditadura. 

Teoria da Conspiração: os paranoicos sempre estão espreitando uma conspiração. Muito deles acham que a Copa está armada para favorecer um latino-americano. O futebol europeu está sendo prejudicado pela arbitragem. As chaves intencionaram tirar os melhores logo no início. Tem até os que acham que a Copa foi pensada para favorecer o governo brasileiro, do qual o Felipão é membro escondido. Como dizia um conterrâneo: “aí também já é demais também”. Prefiro a tese do técnico da Inglaterra: com o futebol globalizado, o jogador vira mercadoria de exportação e quem tem mais grana compra os melhores para jogar nos seus gramados. Os jogadores locais são preteridos. Vemos a Espanha com o melhor futebol de clubes do mundo e um fiasco na Copa. Vale também para a Inglaterra como defendeu seu lúcido técnico. Alguns estão seduzindo a nacionalização dos importados para defender a camisa nacional. Não com a mesma garra dos uruguaios, que se classificaram na chave da morte com unhas e dentes, literalmente.

Big-Brother: Ver mais que nossos olhos a tecnologia aplicada ao futebol. Bobagem algum jogador tentar esconder alguma coisa. O juiz pode não ver, mas as câmaras denunciam. Foi assim com o vampirismo do Soarez, ou a maldade com que nosso Neymar mirou com o olhar a braçada no pescoço do croata. O Balotelli aplicou um golpe de MMA no uruguaio na denúncia da câmera que o juiz não viu. A pegação dentro da área tá mais para as “boites” que eles frequentam no escuro. Mas futebol sempre foi assim. O Pelé era craque em irritar os adversários: gostava de enfiar o dedo no fiofó do marcador e cuspia na cara do adversário. Diziam!, porque se o juiz não via, não tinha a tecnologia na época para dedo-durar!

Pitacos: escrevo estas linhas antes dos jogos Chile X Brasil e Uruguai X Colômbia. Vocês estão lendo depois destes resultados. E durante o resto da Copa o Piauinauta estará no espaço sideral sem poder corrigir estes palpites. Aviso até que vou retardar a próxima edição para não coincidir com a final. Mas vamos lá: acho o Chile passável, temo mais o Uruguai ou a Colômbia e mais ainda a Alemanha (ou França), se lá chegarmos. Do outro lado das quartas está mais fácil, na minha humilde avaliação: a minha bola de cristal enxerga a Argentina na final, com uma névoa que ameaça a chegada da Holanda. As duas não estarem nas semifinais é muita zebra. Do lado de cá é matar um leão por jogo ou ser morto por ele. Morrer pro Chile é uma tragédia que vocês nem estarão lendo isso aqui. Perder pro Uruguai é antecipar o “Maracanazo” pras quartas e a tristeza antecipada. A injusta punição ao Luizito pode influir no resultado. Se for contra a Colômbia vai ser tão difícil quanto. Perder para Alemanha nos colocaria em terceiro. Brasil e Argentina é o nosso sonho de ganhar com mais emoção. Perder seria o segundo “Maracanazo” mudando de país. Mas seria uma grande final se o jogaço for Alemanha e Argentina. Pode também ser Holanda e Alemanha para curar nossos paranoicos. Mas fico aqui na torcida dos Hermanos contra a nossa Pátria de Chuteiras. Claro que a França e a Bélgica podem surpreender essa caixinha mágica do futebol. A magia do futebol é que o pior pode ganhar o melhor, que pode jogar pior num dia ruim. E ainda tem a roleta dos pênaltis. Boa Copa para todos nós!    

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