sábado, 31 de janeiro de 2015

Corso, desfile de muitos significados


Corso, desfile de muitos significados

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Quando se aproxima o carnaval, Teresina engalana-se para o corso, hoje considerado mais numeroso e festejado do mundo. Pouca gente, porém, especialmente a galera jovem, que se rebola nos caminhões e no asfalto da Avenida Raul Lopes, desconhece as origens do termo e seus múltiplos significados. Vale a pena uma viagem no corso da História.

         Córsega, ilha de 170 km de litoral, no centro do Mediterrâneo, milhares de anos de história, dominada por povos invasores. Atualmente, pertence à França. Corso, quem nasce em Córsega. Napoleão Bonaparte era corso. A famosa ilha de deslumbrante natureza e intenso turismo, construía navios de guerra com madeira de suas florestas, que partiam, enfileirados, contra navios mercantes e piratas. Começa bem aqui o significado de corso: pilhagem, pirataria, e, por analogia, desfile de carros. Significa também raça de cachorros Cane Corso, rara no Brasil, excelentes guardiães e protetores.

         No final do século XIX, começaram a aparecer os primeiros blocos carnavalescos no Brasil, já comuns na Europa. Populares, fantasiados e irreverentes, desfilavam nas ruas e formavam cordões e corso (forma afrancesada de courso). No início do século XX, a filha do presidente Rodrigues Alves desfilou, vaidosamente de automóvel, na avenida lotada de foliões, dirigiu-se ao palanque do pai. Pronto, nascia a moda do corso com carros alegóricos.

         Em Teresina, o corso com automóveis e caminhões lotados de foliões, vem desde a década de 1950, quando os poucos endinheirados possuíam carro de passeio. O corso não antecipava o carnaval; integrava os dias demomo. O exibicionismo começava na Rua Paissandu, circulava a Praça de São Benedito, seguia a Frei Serafim, à direita, retornando pela Rua Coelho Rodrigues. Pobres agrupavam-se nos blocos de sujos e desfilavam a pé, sem quebra-quebra. Apenas a tolerante aspersão de pós, ovos e urina, sem briga, nos carros que desfilavam.

         Belas prostitutas dos finos cabarés da Paissandu incorporavam o corso, ocupavam carrocerias de caminhões e participavam da festa. Marmanjos ricos e fiéis fregueses patrocinavam a festa por trás da hipocrisia social.

         Corso lembra a fúria dos guerreiros de Córsega contra navios piratas. Lembra raça de cães. A atual cultura do corso, se não disciplinada pelo prazer sadio, sem drogas e excessos no beber, pode resultar em trágica experiência. No corso de Teresina, início dos anos 70, uma garota desequilibrou-se no jipe aberto, na curva de São Benedito, caiu, indo a óbito. Ainda hoje, parentes da moça não mais se deleitam em carnaval. O universitário Iwahsi, São Paulo, participou de corso, 2010, em seguida, encontrado morto em córrego, por coma alcoólico. No corso de 2014, em Teresina, a polícia registrou queda de folião exaltado da carroceria de caminhão. Em fevereiro de 2012, em São Paulo, 14 estudantes universitários foram indiciados pela morte do estudante Bruno Cristiano, durante corso. Não relato trágicos episódios com propósito de estragar festa popular e democrática. Todavia festejar como canes corsos ou piratas indomáveis, a conta do prazer sai cara como a vida.      

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