26 de fevereiro Diário Incontínuo
NA TOCA DO VELHO MONGE
Elmar Carvalho
No dia 15, domingo,
recebemos, no Sítio Filomena, Várzea do Simão, uma comitiva integrada pelos
amigos José Hamilton Furtado Castelo Branco, Antônio Alves, Francisco de
Canindé Correia e Paulo de Tarso Mendes de Souza. Já se encontravam presentes
Fátima, minha mulher, o tenente Nonato Freitas (Natim) e a professora Conceição
Teles.
No alpendre da casa,
passamos a praticar leve libação e rápida degustação, antes de nos deslocarmos
até a margem direita do rio Parnaíba. Um pouco mais tarde, chegaram Vicente de
Paula Araújo Silva (o nosso historiador e amigo Potência), e seu irmão
Crisóstomo, acompanhado de sua esposa.
O Zé Hamilton foi um
dinâmico prefeito de Parnaíba, em suas três gestões. Fez importantes obras
públicas, mormente nas áreas da Educação, da Saúde e do desenvolvimento urbano,
tendo construído e ampliado vários colégios, postos de saúde, hospitais,
rótulas, ruas, avenidas e pavimentação de vias públicas. Manteve o serviço
público em regular funcionamento e promoveu vários eventos culturais.
Edificou ainda praças,
galerias e casas populares. Travamos relação de amizade muitos anos antes de
seu primeiro mandato (1993-1996). O Canindé Correia, inteligente e probo, foi
um ótimo secretário da Educação, em seu primeiro governo. Hoje, é membro do
Conselho Municipal dessa área administrativa. O professor universitário e
advogado Paulo de Tarso foi assessor jurídico do prefeito Zé Hamilton. É ainda
notável articulista e contista.
Após o pontapé inicial
desse domingo de confraternização, conversa e cultura, nos deslocamos até perto
das barrancas do “rio de águas barrentas”, o “rio grande dos tapuias”, onde
inauguramos a Toca do Velho Monge. Trata-se de um ponto de apoio rústico que
criamos, para melhor observarmos a beleza da paisagem proporcionada por esse
curso d’ água. A mesa de pedra quase bruta, rodeada de bancos de carnaúba, fica
à sombra de imenso e frondoso tamboril, em cujo tronco foi afixada uma talha de
madeira, confeccionada pelo artesão Barradas, amigo de meu irmão César Carvalho
(Neném).
Quando, em companhia do
Neném, encomendei essa talha ao mestre Barradas, expliquei-lhe que ela ficaria
exposta à beira do Parnaíba. Também lhe disse que o excelso poeta Da Costa e
Silva apelidou esse rio de Velho Monge porque, ao que se supõe, de certo local
da sua bela Amarante, ao olhar para determinado ponto dele, talvez a sua
confluência com o Canindé, a paisagem parecia desenhar o perfil de um monge,
cujas espumas seriam as barbas brancas desse asceta. Por isso, na talha foi
esculpido o perfil de um rosto, cujas barbas aos poucos se transformam em um
rio. No meu discurso, expus essas circunstâncias explicativas e lamentei a
degradação do Parnaíba.
José Hamilton, sentado
num dos bancos, apreciou a beleza da paisagem, mas nem por isso deixou de notar
o quanto esse rio se encontrava largo e raso, com imensas coroas e bancos de
areia expostos, evidentemente por causa dos desmatamentos e queimadas, fora
outras mazelas, como a redução de seu volume d’ água por motivos diversos.
Prometeu que tão logo assuma o mandato de deputado estadual, cargo esse que foi
exercido por seu pai, coronel Epaminondas Castelo Branco, em várias
legislaturas, levantará sua voz em defesa do Parnaíba. Quase todos os
presentes, cujos nomes já foram referidos nesta crônica, discursaram na Toca do
Velho Monge.
Em seguida, fomos
inaugurar o Cantinho do Poeta, situado num dos alpendres da casa do Sítio
Filomena. Ali, com muita arte, beleza e perfeição, sem necessidade de régua nem
esquadro, portanto à mão livre, o homem de sete instrumentos, também conhecido
como faz-tudo ou artista de mil e uma utilidades, ou simplesmente o
flamenguista Zico, desenhou o nome desse espaço etílico-lírico-degustativo-cultural.
Nele se encontravam afixadas, em molduras metálicas, duas excelentes charges do
também flamenguista Gervásio Castro.
Numa foi estampado o
meu poema Bar do Augusto e as figuras inesquecíveis de Dom Augusto da Munguba,
dono do bar Recanto da Saudade, e o carnavalesco e boêmio Dourado, que já
partiram para o reino infinito. Na outra charge, elaborada há alguns anos, o
Gervásio parece me ter antevisto como aposentado, porquanto estou quase deitado
numa cadeira de praia, à sombra de um coqueiro, sorvendo um coco gelado; envergo
uma camisa flamenguista, tendo ao lado a gloriosa bandeira do Mengão. Houve
vários discursos, inclusive o meu, em que enalteci todos os amigos presentes.
Em seguida, fomos até o
Grupo Escolar João Simão (João Rodrigues de Sousa), situado logo em frente, do
outro lado da estrada. O Zico pintou em sua fachada, perto do nome da unidade
escolar, o retrato de seu patrono. Em minha fala, discorri sobre seu pai, o
velho Simão Pedro, um dos pioneiros na povoação da localidade, que nela se
fixou há mais de um século. Falei do empreendedorismo de meu sogro, mormente no
auge do extrativismo vegetal, nos áureos tempos da cera de carnaúba, da
maniçoba, dos tucuns e do cultivo do algodão, mas também em sua atividade de
produtor agropecuário.
Acrescentei que outro
filho do pioneiro Simão Pedro – Severiano Neves – é considerado o fundador de
São Félix do Araguaia – Mato Grosso, tendo sido seu primeiro prefeito. José
Hamilton, Natim Freitas (neto do homenageado), Canindé Correia e Paulo de Tarso
Mendes de Souza também fizeram uso da palavra.
O Natim, ao enaltecer
as qualidades de seu avô, João Simão, se emocionou e comoveu todos os
presentes. Em seguida, retornamos ao Cantinho do Poeta, onde encerramos a feliz
confraternização, com mais uma sequência de brindes e discursos relâmpagos.
Prezado Amigo,
ResponderExcluirVejo que já estás preparado para o longo e merecido período de ócio criativo que terás pela frente. O belo sítio às margens do Velho monge será um ambiente ideal para a produção de muito mais para a sua já conhecida e vasta obra literária. Bons sonhos, poeta!
Ainda a propósito do texto acima: mas, como nada nesse mundo é perfeito, talvez ficasse melhor a bandeira do Fluzão na belíssima charge.
ResponderExcluirCaro José Pedro,
ResponderExcluirAté poderia concordar em que o verde da flâmula do Fluminense possa se harmonizar mais com a natureza, principalmente com as palmas do coqueiro, sob o qual estou, e estou muito bem... Mas deixemos mesmo a bandeira do Mengão!
Abraço,
Elmar Carvalho
Está certo. Ficamos combinados assim. Agora, o trabalho está uma perfeição e merece ser emoldurado. Sombra, água fresca, uma bela paisagem e uma espreguiçadeira, é tudo que um vate precisa para expor o que lhe vai na alma. Bom proveito!
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