quarta-feira, 29 de julho de 2015

Olha pro céu, meu amor!


Olha pro céu, meu amor!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Semana de Lua Nova. Ou será que você não vislumbra o mágico firmamento? Uma simples fase lunar traz fenômenos, que nossos ancestrais não perdiam, contemplando os efeitos na agricultura, na vida animal, na navegação, nas reações mentais. Não é em vão que o termo lunático incorpora sentido de atitudes tresloucadas.  A Lua Nova provoca aquecimento do ar e do oceano, aumento de umidade, formação de nuvens e prováveis chuvas. Período fértil para germinação, floração, partos ou eclosão dos ovos.

Teresina, nesta quarta-feira, 22/7, amanheceu coberta de nuvens. Caiu uma chuvinha passageira, típica da fase lunar. E repetiu à noite, para floração das mangueiras e cajueiros.

Sou do tempo em que até as crianças se divertiam, contemplando o céu, especialmente à noite. Luar, milhares de estrelas, asteroides à deriva, espaço sideral repleto de mistérios e indagações. Supersticiosos não apontavam  estrela, que provocava verruga no dedo. Todo mundo sabia, de cor, nomes e posições das Três Marias, Cruzeiro do Sul, Sete Estrelas, Via Láctea, Sírio, a mais brilhante do firmamento, entre as mais próximas da Terra. Via Láctea, milhões de astros geminados, traçando luminoso caminho de leite derramado.

Encantador contemplar o firmamento, à noite, só possível, hoje, nas regiões distantes das encandecentes cidades. Noites de luar, romantismo, poesia amorosa: “Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo! (Luís Gonzaga). “Aquele beijo que te dei / nunca, nunca mais esquecerei. / A noite linda de luar / Lua, testemunha tão vulgar!” (Roberto Carlos). Ainda o rei: “Eu vou perguntar / Se na Lua há / Brotinho legal pra mim namorar”. Ou refletindo um mundo de poluição, guerras e carência afetiva, a era espacial também serviu de fonte inspiradora ao romantismo: “Será que os amores já morreram / Um astronauta eu queria ser / Para ficar sempre no espaço / Desligar os controles da nave espacial / Pra ficar sempre no espaço sideral”.  Cantor Raul Seixas pergunta: “Por que a solidão vem sempre junto com o luar?” Poeta Álvares de Azevedo: “Nas noites de luar, sempre descanso aqui, / E a Lua enche de amor a minha esteira”.

Só há uma explicação para tanto envolvimento com as drogas: o embrutecimento da vida moderna, que não permite horário sequer para o afeto familiar, as relações saudáveis, inclusive com  a natureza. Convivência que se traduz em sonhos. Basta um instante de contemplação do firmamento, de Lua Cheia, do cultivo de plantas, da assistência aos animais ou das generosidades desinteressadas.

Em tempo de intensa preocupação com o meio ambiente, vale a pena pais e educadores incentivarem nas crianças o contato com jardins, parques e animais. Enquanto redijo esta crônica, dezenas de sibites não param de cantar, próximos à minha janela, para sugarem água açucarada ou beliscarem frutas. Não param, mesmo. Lindos, pequenininhos, dóceis, a dois metros de mim. Lá vêm beija-flores cobrando-me também carinho. Não há droga que entorpeça, como as criaturinhas que me trazem sorrisos do Criador. Quanto mais olho pros céus, mais me encanta a terra, inclusive a chuvinha desta quarta-feira.    

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