sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O PAPEL VOADOR


       
  O PAPEL VOADOR

  Alcenor Candeira Filho

          Passei o fim de semana prolongado pelo feriado religioso-  Dia de Nossa Senhora Aparecida  -  na  praia de Maceió,  no município de Camocim-Ce,  duas horas de viagem a partir de Parnaíba.
          Como em outras ocasiões,hospedei-me  na Pousada Recanto do Mar,  de propriedade de Judivan Sousa  e  Conceição Tomaz Sousa,  empresários que amam o trabalho, a família, os amigos,  a música, as festas  juninas,  a cerveja  sem álcool  e  sobretudo  a  Deus.
          Eles têm três  filhos  já adultos e bem encaminhados na vida  -  Thiago, Thamires  e   Thalita  -;  são  católicos  e  estudiosos  da  Bíblia.
          Nashoras de diversão  Judivan gosta de tocar o instrumento  predileto:  uma bela sanfona vermelha que parece saber de cor e salteado as músicas de Luís Gonzaga. De vez em quando executa músicas compostas por ele mesmo.
          Roberto Silva, o Pilin, com a mulher Cristiany, os filhos Larissa, Luan e o neto Lucas  estavam também em Maceió.  A turma toda sempre junta.
          Conheci o casal Judivan e Conceição através de Thiago Tomaz, jovem médico cardiologista casado com a médica pediatra Intã Bruna,pais de um menino de um ano e dois meses  -  Gabriel  -  , neto de Roberto, Judivan, Ana Lúcia e Conceição, figurando ainda nesse rol  Cristiany  e  eu,  também  chamados  de  “vovó/vovô”.
          Faço essas considerações iniciais para contar um episódio que me comoveu bastante lá em Maceió, testemunhado pelas pessoas citadas e  por várias outras :  encontrava-me no terraço da pousada,  à  tarde,  escrevendo tranquilamente o fecho de um trabalho a que me vinha dedicando há alguns dias sobre o livro  RIBAMAR,  prêmio Jabuti de 2011  na categoria romance,  de autoria do escritor carioca  e amigo José Castello, quando repentinamente forte ventania levou a leve folha de papel  com algumas linhas já redigidas.    Levantei-me às pressas a tempo de vê-la sendo varrida pelo vento.  Lembrei-me do filme “E o Vento Levou”e  sem pestanejar corri  danado de raiva atrás do papel  voador.  Percebendo a inutilidade da busca, “sem maior proveito/ que o da caça ao vento”  como diria Carlos Drummond de Andrade,  desisti  logo:  afinal de contas o texto poderia  ser reconstruído ou reescrito ainda hoje  mesmo ou no máximo  amanhã.  O único senão era a possibilidade de confirmação do conhecido axioma estético:“a emenda é pior do que o soneto”.
          Aíé que entra em cena o dr. Thiago, que, persistente, vasculhando aqui, ali, lá, acolá... putf!  encontra o papel. “Ai! Que alívio!”Continuei então a escrever na voadora folha avulsa,  de frente para o mar, cervejinha com álcool  ao lado, que ninguém é de ferro. Com o texto praticamente concluído ,  nova  rajada de vento e mais uma vez lá se vai   a folha pelos ares. Procura-se aqui, procura-se ali, chega a noite e nada .
          Por não acreditar que seria novamente encontrado-  o raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar -  iniciei  o espinhoso trabalho de reconstituição ou reescrita do  texto.   Cansado,considerei  a tarefa  como  quase concluída,  embora não gostando do resultado:  “Amanhã, Dia de Nossa Senhora Aparecida,  a Padroeira do Brasil,  encerrarei de vez o trabalho. Falta tão pouquinho!”
          Antes de se recolher para dormir, Judivan me disse com impressionante convicção: “Amanhã cedo acharei o papel. Vou recorrer a São Longuinho, que nunca falha.”
          Dia seguinte, café da manhã, Judivan me entrega o papel voador, um pouco amassado,com o pedido  de     que eu desse três pulos bradando a cada salto: “Achei,
meu São Longuinho!”
          Caríssimos amigos Judivane  Thiago:  sei que São Longino, pelo  povo e pelos padres  chamado de São Longuinho,  merece todo o respeito e devoção.  Mas com sinceridade lhes digo:se não fosse a sensibilidade de vocês, que entenderam o quanto aquele insignificante pedaço de papel era importante para mim, não teria havido o resgate duas vezes.
          Comparandoo texto voador com o que tentei reconstituir e que não voou, deparei-me  com o óbvio:  a emenda estava pior que o soneto.
                   Ao chegar em Parnaíba  fiz no computador os ajustes finais no texto como um todo, logo enviado para o escritor José Castello e para o blog do poeta Elmar Carvalho, que fez a postagem de imediato.
                Àpágina final do texto  -  O ROMANCE  “RIBAMAR” E  A PARNAÍBA  -  é que vocês,  queridos  amigos que presenciaram  a história do “papel voador”, poderão recorrer para saber o que nele estava escrito  e  por que fiquei tão incomodado com o seu desaparecimento. Cliquem no “poetaelmar.com.br”  e boa leitura.


                                        Parnaíba, outubro de 2015.

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