O PAPEL VOADOR
Alcenor Candeira Filho
Passei o fim
de semana prolongado pelo feriado religioso-
Dia de Nossa Senhora Aparecida
- na praia de Maceió, no município de Camocim-Ce, duas horas de viagem a partir de Parnaíba.
Como em
outras ocasiões,hospedei-me na Pousada Recanto
do Mar, de propriedade de Judivan
Sousa e
Conceição Tomaz Sousa,
empresários que amam o trabalho, a família, os amigos, a música, as festas juninas,
a cerveja sem álcool e
sobretudo a Deus.
Eles
têm três filhos já adultos e bem encaminhados na vida -
Thiago, Thamires e Thalita
-; são católicos
e estudiosos da
Bíblia.
Nashoras de
diversão Judivan gosta de tocar o
instrumento predileto: uma bela sanfona vermelha que parece saber de
cor e salteado as músicas de Luís Gonzaga. De vez em quando executa músicas
compostas por ele mesmo.
Roberto
Silva, o Pilin, com a mulher Cristiany, os filhos Larissa, Luan e o neto
Lucas estavam também em Maceió. A turma toda sempre junta.
Conheci o
casal Judivan e Conceição através de Thiago Tomaz, jovem médico cardiologista
casado com a médica pediatra Intã Bruna,pais de um menino de um ano e dois
meses -
Gabriel - , neto de Roberto, Judivan, Ana Lúcia e
Conceição, figurando ainda nesse rol
Cristiany e eu,
também chamados de
“vovó/vovô”.
Faço essas
considerações iniciais para contar um episódio que me comoveu bastante lá em
Maceió, testemunhado pelas pessoas citadas e
por várias outras : encontrava-me
no terraço da pousada, à tarde,
escrevendo tranquilamente o fecho de um trabalho a que me vinha
dedicando há alguns dias sobre o livro
RIBAMAR, prêmio Jabuti de 2011 na categoria romance, de autoria do escritor carioca e amigo José Castello, quando repentinamente
forte ventania levou a leve folha de papel
com algumas linhas já redigidas.
Levantei-me às pressas a tempo de vê-la sendo varrida pelo vento. Lembrei-me do filme “E o Vento Levou”e sem pestanejar corri danado de raiva atrás do papel voador.
Percebendo a inutilidade da busca, “sem maior proveito/ que o da caça ao
vento” como diria Carlos Drummond de
Andrade, desisti logo:
afinal de contas o texto poderia
ser reconstruído ou reescrito ainda hoje
mesmo ou no máximo amanhã. O único senão era a possibilidade de confirmação
do conhecido axioma estético:“a emenda é pior do que o soneto”.
Aíé que entra
em cena o dr. Thiago, que, persistente, vasculhando aqui, ali, lá, acolá...
putf! encontra o papel. “Ai! Que
alívio!”Continuei então a escrever na voadora folha avulsa, de frente para o mar, cervejinha com
álcool ao lado, que ninguém é de ferro.
Com o texto praticamente concluído ,
nova rajada de vento e mais uma
vez lá se vai a folha pelos ares.
Procura-se aqui, procura-se ali, chega a noite e nada .
Por não acreditar que seria novamente
encontrado- o raio nunca cai duas vezes
no mesmo lugar - iniciei o espinhoso trabalho de reconstituição ou
reescrita do texto. Cansado,considerei a tarefa
como quase concluída, embora não gostando do resultado: “Amanhã, Dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, encerrarei de vez o trabalho. Falta tão
pouquinho!”
Antes de se
recolher para dormir, Judivan me disse com impressionante convicção: “Amanhã
cedo acharei o papel. Vou recorrer a São Longuinho, que nunca falha.”
Dia seguinte,
café da manhã, Judivan me entrega o papel voador, um pouco amassado,com o
pedido de que eu desse três pulos bradando a cada
salto: “Achei,
meu São Longuinho!”
Caríssimos amigos
Judivane Thiago: sei que São Longino, pelo povo e pelos padres chamado de São Longuinho, merece todo o respeito e devoção. Mas com sinceridade lhes digo:se não fosse a
sensibilidade de vocês, que entenderam o quanto aquele insignificante pedaço de
papel era importante para mim, não teria havido o resgate duas vezes.
Comparandoo
texto voador com o que tentei reconstituir e que não voou, deparei-me com o óbvio:
a emenda estava pior que o soneto.
Ao
chegar em Parnaíba fiz no computador os
ajustes finais no texto como um todo, logo enviado para o escritor José
Castello e para o blog do poeta Elmar Carvalho, que fez a postagem de imediato.
Àpágina
final do texto - O ROMANCE
“RIBAMAR” E A PARNAÍBA - é
que vocês, queridos amigos que presenciaram a história do “papel voador”, poderão
recorrer para saber o que nele estava escrito
e por que fiquei tão incomodado
com o seu desaparecimento. Cliquem no “poetaelmar.com.br” e boa leitura.
Parnaíba, outubro de
2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário