Heróis, vilões e safadões. E
você?
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Cantores forrozeiros viram
popstars e showmans da noite para o amanhecer, graças a safadas letras, de
apologia à bebedeira e ao erotismo esculachado. Shows que ultrapassam 300 mil
reais e seduzem o público jovem, engalanado pela beleza, requebrados e letras
de pura alienação e mediocridade. Prefeituras não acodem a educação e a saúde
do povo, mas se esfolam por um porre musical para engabelar a fome cultural da
galera. E o país se arrasta por uma trilha filosófica de hierarquia confusa de
valores, em que fica difícil calcular os danos do pesadelo no futuro. E haja
heróis de araque na praça.
Quem são os verdadeiros heróis ou
mitos, em torno dos quais se juntam multidões de admiradores ou fanáticos?
Grupo de cientistas internacionais decidiu realizar uma pesquisa para
determinar quais personagens da História são considerados os maiores heróis e
vilões em todo o mundo. O estudo, que teve o resultado publicado na revista
científica PlosOne, foi feito com base na
entrevista de 6.904 universitários, com média de 23 anos de idade e
provenientes de 37 países, entre os quais Argentina, Brasil, Colômbia, México,
EUA, Austrália, Paquistão, Coreia do Sul, Índia, Tunísia, Espanha, Itália,
China e Japão. Claro que a pesquisa fora realizada em ambiente universitário,
portanto de pessoas mais esclarecidas. Foram citados Albert Einstein, Nélson
Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Thomas Édson, Buda e Jesus Cristo, entre
cientistas, escritores, líderes religiosos. Entre vilões, encontraram Adolf
Hitler, Osama Bin Laden, Saddam Hussein, Napoleão Bonaparte, Stalin, Lenin.
Fico imaginando se fanáticos
comissionados, pendurados em folhas de lagartas estatais, elegessem seus heróis
e semideuses. Ou eleitores empanzinados de fajutas promessas e discursos
messiânicos. Ou papagaios de piratas, colados à aba do paletó do governante
para se destacar na reportagem. Ou os negociadores de cargos públicos. Ou
falsos heróis do Big Brother. Ou carnudos bumbuns desfilando na mídia, ganhando
fortuna só para desfilar em eventos festivos. Os pesquisadores saíram felizes
com o resultado da pesquisa em ambientes universitários. Mas se observassem a
cultura de muitos políticos? Se descessem aos guetos e comunidades manobradas
por chefões do tráfico, quais heróis encontrariam?
A esquerda tupiniquim elegeu Che
Guevara, Lampião, Fidel Castro, Hugo Chaves como heróis populares, dignos de
registros em livros de exposições artísticas. Há uma disparidade de opinião
sobre vilões e heróis, de acordo com a região, o tempo e corrente filosófica.
Bin Laden, um terrorista estigmatizado pelo Ocidente, porém tornou-se herói
festejado em grande parte do Oriente Médio. Jesus Cristo é mais divino que
herói no cristianismo; perde para Buda em expressiva parte do Oriente. Tudo é
relativo, defendeu Albert Einstein, apontado por universitários que estudam
suas teorias. Admirar e curtir o talento de grandes artistas, como Caetano e
Gilberto Gil, só para a população que conhece arte culta, lê, afina-se com
recursos estilísticos. Os menos afiados na cultura têm de se acomodar com arroz
com feijão. E aí aparecem os vilões e safadões enchendo os bolsos de grana e
pousando de heróis.
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