segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Advinha a idade dele?!


Advinha a idade dele?!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

         Passagem de ano novo, abraços, beijos, felicitações e foguetório, música, bebidas e deliciosos pratos. Em momentos assim, parece que a matéria se sobrepõe à reflexão sobre nosso destino diante da inexorável travessia do tempo nos corpos e de algo para além das esferas terrestres. Eu me sentia um misto de prazer com os meus familiares e amigos, um êxtase de dependência ao Criador, senhor do meu destino. Demo-nos as mãos, fechamos os olhos, invocamos o Santo Espírito, agradecemos “as marcas do que se foi e dos sonhos que vamos ter”. Céus iluminavam esperanças e perguntas existenciais: “Quanto tempo, natais e anos novos ainda me restam?!”

         Dia desses, uma criança perguntou a um senhor: “Quantos anos você tem?” O cidadão filosofou: “Quando eu nasci, Teresina só dispunha de uma ponte sobre o Parnaíba, outra no Poti. A cidade acabava na Vermelha, no Aeroporto, na Piçarra, na Praça do Marquês, na ponte do Poti.

         Nasci antes da televisão no Brasil, vacinas contra pólio, comidas congeladas, fotocopiadoras, lentes de contato, pílulas anticoncepcionais, radares, cartões de crédito, conquistas espaciais, homem na Lua, secadores de roupa (só no varal), ar condicionado, raios laser, fotografia colorida, que exigia revelação, cara, e só recebia dias depois.

         Gay era uma palavra inglesa para pessoa contente e divertida; não para homossexual ou lésbica. Rapazes só pensavam em casar-se com virgens. As não-virgens eram expulsas de casa, residiam em cabaré, não circulavam na Praça Pedro II, proibidas de entrar nos clubes sociais. Tirar a virgindade, tinha de casar, ou morria, às vezes.

         Estudantes circulavam, livremente. na escola, com canivete. Ninguém se feria. Ensinavam-se condutas de respeito aos mais velhos, chamando-os de senhor ou senhora, cedendo-lhes o assento, tomando-lhes a bênção, se parentes. Ensinava-se a diferenciar o bem do mal,  honrar os dez mandamentos. À entrada do professor na sala de aula, todos de pé. Hino nacional todo dia. Ia-se, às 5 da manhã, à escola, para educação física, e não era molestado.

         Não existia rádio FM, só AM, capaz de alcançar milhares de km, como o Repórter Esso ou BBC de Londres. Ainda se rodavam discos de 78 rotações, sem CD, DVD, máquina de escrever elétrica, calculadora mecânica portátil, música estéreo, fitas K7. Só relógio de corda, nada digital, microondas, videocassete, Mac Donald’s, filmadora de vídeo, pizza, made in China; made in Japan, sim, ou Suíça. Não se falava à distância por telefone. Rapidez só por telegrama.

         Por centavos, pagava-se a passagem de ônibus, refrigerante. Erva nos jardins e pastos, não como droga. Mulher precisava de marido para gerar filhos. Qualquer evento social exigia terno, inclusive no cinema”.

         -Quantos anos eu, tenho?

         - 200!

         - Tenho apenas 60 anos!

         Ano novo tem dessas coisas: o tempo anda tão veloz que perdemos a conta dos avanços.   

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