sábado, 13 de fevereiro de 2016

Lançamento de "Estação Saudade" em Oeiras

Fonte da foto: Mural da Vila


LANÇAMENTO DO LIVRO: “ESTAÇÃO SAUDADE” DE DAGOBERTO CARVALHO EM OEIRAS

Moises Reis

                                Da certeza de que outro de reconhecido calibre intelectual deveria estar aqui para a apresentação desta obra literária, ESTAÇÃO SAUDADE - não tenho a mínima dúvida. Afinal, cada qual no seu canto. Quem é mais capaz de entender a alma deste amigo escritor, historiador  e poeta, Dagoberto Carvalho, que não guarda para si os seus tesouros e os reparte com os outros, que não aquel’outro da mesma estirpe, que se distingue do cidadão comum pela imaginação inspirada, pela profundidade intelectual e pelo devaneio?

                               Caros amigos! Este é um momento de vívida e intensa emoção, próprio para ser conduzido, sobretudo, por alguém que, como dizia Cervantes, faz da pena a língua da alma: o escritor, o poeta. Sim, são eles os únicos capazes de interpretar, com fidelidade, a alegria e o prazer de outro escritor e poeta. Estes últimos, os poetas, são profundos filósofos e somente eles são dimensionados para sentir as emanações prazerosas do esforço poético do outro.

                               Como veremos, “Estação Saudade”, um misto de artigos, crônicas, discursos acadêmicos, atinge a sublimação com as poesias ali colacionadas, que o autor chama de “Canto da lembrança da Província”. Valerá a pena seguir o voo das ideias, para, certamente, ouvir a melodia interior das palavras e sentimentos expressados do âmago do coração do autor. Ao final o leitor haverá de concluir que “Estação Saudade” nada mais é do que a revelação de um estado de existência, desnudando segredos, denunciando acendrado amor telúrico e confirmando a preocupação do autor com a proteção da memória de sua terra, do seu povo. 

                               De indiscutível razão a assertiva do grande vate francês, Vitor Hugo: “os poetas possuem em si um condensador, a emoção. Daí os grandes feixes luminosos que saem de seu cérebro e que vão brilhar para sempre sobre a tenebrosa muralha humana”.

                               Sem os dotes apropriados, e sem talento para tanto,  reconheço a ousadia de aceitar o encargo de apresentar esta  obra literária produzida por este oeirense, cujo telurismo é o distintivo maior de sua personalidade.

                               Moveu-me, no entanto, para investir-me na missão delegada pelo autor de “Estação Saudade” um sentimento maior e único, qual seja o de que é possível adquirir a condição de escritor e poeta, na medida em que sejamos idealistas e sonhadores.

                               E foi exatamente com esta sensação e compenetrado de um só ideal, o de servir sempre que possa às boas causas, que resolvi estar aqui nesta Terra tão querida de todos nós.

                               De fato. Não escondo desta distinta platéia que também o fato de poder estar em Oeiras, foi outro motivo encorajador de exercer, nesta noite engalanada em que se respira ar de profundo civismo pelo dia de amanhã, 24 de Janeiro, o papel de analista da alma do Autor que, tal qual rouxinol solitário, com grande sensibilidade e poético saudosismo, canta sua terra e seu povo defendendo a preservação da cultura local.

                               Senhoras e Senhores,

                               Mesmo abrigando tanto seres humanos, marcados pela volúpia do querer mais, do ter mais o mundo continuará reservando um lugar especial para os escritores e poetas. É que a necessidade de usar da pena para exprimir sentimentos, de escrever para posteridade; a necessidade do recolhimento, do voltar-se para si mesmo, de abrigar-se na sua interioridade é mais forte no homem do que a busca do ter e do poder. É assim o Autor.

                               É vital para o cidadão separar o mundo exterior, onde se sobressai o indivíduo, do mundo interior, onde reina o fluxo espontâneo de poderosos sentimentos. É a sensibilidade interior, de quem não guarda para si os seus tesouros que dá vida e alma ao ofício de quem, como o Autor, escreve para o mundo.

                               Com razão e perfeitamente justificada a presença distinta dos poetas neste mundo globalizado, marcado, cada vez mais, pela violência, e pela simples busca do poder pelo poder. É que a vida não se limita a isto. É preciso também sonhar. O homem há que, de quando em vez, sair por aí a contar estrelas, revivendo tempos passados, como fazem os poetas. Como fez Dagoberto nesta obra.

                               Não é sem razão que devemos nos apressar em agradecer ao Dagoberto por mais esta contribuição em favor da cultura piauiense e especialmente pelas manifestações e defesa dos valores culturais de nossa cidade, “vivendo o presente, não de costas para o passado – mas tendo-o como inspiração para novas conquistas e de frente para o futuro”, com está dito por ele em documento registrado neste livro, apresentado no 8º Festival de Cultura de Oeiras.

                               Cantemos em uníssono, nesta noite, cantando em sincero canto, uma ode à criação do escritor\historiador e também poeta que não fez da poesia um caminho para a eloqüência e a retórica. É verdade! Os poemas do Conde de Oeiras, no dizer de Nilo Pereira, são de evocação e saudade. Sejamos percucientes na leitura e descobrir-se-á cântico de saudades; de esperança; de anseios vagos, desejos inexprimíveis, como nestes versos pinçados do poema:

“ INSONIA”
“Madrugada insone de lembranças e desejos;
Acorda a noite secular da Praça;
O Riacho, a ponte;
Os fantasmas do “Sobrado”.
Procissão do tempo,
Flores do “Passo” e de saudade”

                               “Estação Saudade” é mais uma das inúmeras contribuições literárias do historiador em homenagem aos cem anos da Academia Piauiense de Letras. A rigor, a obra não precisaria de apresentação. Discípulo do grande mestre português, Eça de Queiroz, tanto tem sido marcante sua presença no mundo da intelectualidade, que seus livros são recebidos com a certeza de conteúdo rico de boa prosa, daquela que eleva o espírito e inspira sentimentos nobres.

                               Bem disse outro poeta da Academia Piauiense de Letras, autor do célebre poema “Noturno de Oeiras”, Elmar Carvalho, ao referir-se à obra: “As crônicas e os poemas são entranhados de suave saudosismo telúrico e lirismo. Ele é um mestre da prosa bem trabalhada, e nos faz lembrar os mestres do classicismo português, porém, como não poderia deixar de ser, temperada de contemporâneas “especiarias”.

                               Senhores! Os livros são os abençoados clorofórmios do espírito, especialmente quando são feitos com alegria e  prazer. E as obras escritas com prazer, são quase sempre as melhores, assim como os filhos do amor são os mais belos.

                               Todos já nos acostumamos à leitura dos livros de Dagoberto. São obras literárias merecedoras de indiscutíveis encômios. Sua preocupação, como de outras vezes, com a cidade mafrensina, desejoso de assegurar aos pósteros em registro de suave pena, a verdade histórica da Primeira Capital do Piauí, mais uma vez se repete neste livro. Dagoberto tomou boa nota da lição de Eça de Queiroz, segundo a qual “só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo” E este “chão glorioso, encravado em sertão bruto, onde jazem heróis verdadeiros, no dizer de Arimatea Tito, necessita ter sua história resguardada. 

                               Consciente dessa verdade é um obstinado por contribuir, através de seu lirismo, de suas emoções, para que fiquem nos anais da história, os feitos e passagens da “capital perene das tradições do Piauí”.

                               John Ruskin, britânico, crítico de arte, poeta e desenhista,  realçava a verdade de que “Os livros dividem-se em duas classes: livro do momento e o livro de todo momento. Aqueles podem ser lidos ora na sala ora na cozinha; já os livros de todo momento, como verdadeira prova de seu valor, são lidos tanto na sala quanto na cozinha”.

                               Não titubeio em afirmar, categórico, que esta obra certamente merecerá de todos nós que a leiamos pela casa inteira, porque se trata de um bom livro, mais um legado precioso que Dagoberto deixará para a posteridade.

                               Na primeira parte da obra estão os artigos e ensaios, em que o historiador explora temas diversos, com o seu já conhecido estilo, próprio, perfeito, definido e sempre denunciador do sentimento de “filho extremado e amante da terra em que nasceu”.

                               Os Discursos Acadêmicos emolduram a obra com o refinamento intelectual de seus conteúdos. De sua vez, as “Crônicas Reencontradas”, pinceladas com as cores vivas do respeito a piauienses de escol e a notáveis oeirenses  – Possidônio Queiroz, Costa Machado, Balduíno Barbosa – é resultado da inspiração do Autor ao prestar homenagens à memória de pessoas que muito serviram ao Piauí e especialmente a Oeiras.

                               Extremamente engenhoso na arte de versejar, o livro se completa coroado pelos poemas em o que autor explorando sutilmente a natureza, o telúrico, a angústia existencial do homem moderno e recordações pessoais, divaga saudosamente, como neste poema:

NATAL
Alegres noites de dezembro
Demoram-me na lembrança
Que não passa
Natal de outros natais.
Promessas de vida nas luzes da festa,
Reflexos de sonhos nas cores da praça.

                               Parabéns ao amigo oeirense, Dagoberto Carvalho, por mais este presente que dá a Oeiras e ao Piauí. Sob a inspiração do mestre Paulo Nunes, digo que a “Estação Saudade” não é obra para ser lida, apenas, mas para ser degustada.

Oeiras, invicta, 23 de Janeiro de 2015.   

Um comentário:

  1. Ler Moisés Reis é um deleite para a alma. Ele lega a língua portuguesa a sublime arte lapidar das belas letras. Fiquei encantado como sempre me encanta ler os seus escritos. Muito bom, boníssimo. Soarinho

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