A química das paixões, do amor e da razão
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Quando as
emoções e atitudes ultrapassam as fronteiras da razão, podem revelar paixão
patológica. A palavra PAIXÃO origina-se do latim, PASSUS, PASSIONIS, sentimento
forte a uma pessoa, objeto, religião, filosofia, partido, esporte. PAIXÃO
lembra, outrossim, termo grego PATOS, excitação descontrolada, idealismo
exacerbado. Nada tem a ver com AMOR, que surge de atitudes sadias e virtudes.
Os meios de comunicação e redes sociais vêm exibindo,
diariamente, cenas grotescas do absurdo emocional e moral. Um parlamentar cospe
no rosto de companheiro, em plena sessão da Câmara, em Brasília. Outro desafia
o adversário que o chamara de mentiroso, também na Câmara, a resolver o caso
“lá fora”. Uma bela moça levanta a saia, acocora-se, em via pública, urina e defeca
sobre a foto de parlamentar da oposição. Empresário assassina a namorada, no
apartamento, esconde o corpo no bagageiro de luxuosa mercedes. Mais de quarenta
mil homicídios em 2015, no Brasil, alguns por fúteis motivos. O noticiário se
transformou em assombrosas descargas emocionais, irracionais, sangrentas.
A cultura do “olho por olho, dente por dente” é tão ancestral
quanto a necessidades de comer, dominar território, multiplicar a espécie,
defender o corpo e a honra. Encontra-se em passagens sangrentas da Bíblia e do
Alcorão, no paganismo romano, nos ritos religiosos dos ameríndios primitivos,
no hino nacional de países, inclusive do Brasil.
Nem Jesus Cristo, pregando o maior paradigma de amor de todos
os tempos, conseguiu transformar consciências, dentro de sua própria Igreja,
apesar dos excelentes avanços da educação cristã, especialmente nos últimos
séculos.
As definições de amor se multiplicam, de acordo com
princípios filosóficos e religiosos
adotados e interpretados. Parece-me que o mais acertado encontra-se no segundo
mandamento divino: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”, traduzido na tradição
popular: “Não faças a outrem o que não queres que te façam”. Você gostaria de
receber uma cusparada na cara, embora merecendo? De tratamento ofensivo em
público? Uma bala no coração por avançar em cônjuge alheio, ou furtar nas
caladas da noite? Não vale mais o princípio da tolerância, acompanhada de
punição à luz da legalidade?
A história humana mostra: quem condena a violência,
praticando violência, aprova o exercício da violência. Escarrar, desafiar
adversário para luta corporal - por essas e outras irracionalidades - só refletem a falta de educação dos sentidos,
e, principalmente, das faculdades mentais. A razão das causas e efeitos da
nossas atitudes.
A educação atual exalta, demasiadamente, o vigor físico e
atlético como fórmula mágica de saúde. Falta, porém, destacar a educação das
faculdades mentais, especialmente a razão. Aquela que analisa causas e efeitos
da nossa conduta, seja nas relações sociais, amorosas e sexuais. A
irracionalidade deve ser banida das estúpidas e vergonhosas reações na família,
nas assembleias, nos estádios, no trânsito, na alcova. Enfim, viver com amor no
amor, na misericórdia, perdão e tolerância com a desigualdade.
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