segunda-feira, 9 de maio de 2016

Brochar ou broxar?


Brochar ou broxar?

Antônio Gallas
Professor, jornalista e cronista

Não importa a grafia, mas esta pequenina e dissilábica palavra quando pronunciada apavora qualquer homem, até mesmo  um jovem em pleno vigor de  sua virilidade.
               Falar em broxar é como se o demo saísse das profundezas dos infernos pra espetar a bunda  dos homens com aquele seu ferrão quente.
               Os machões, os garanhões, nunca narram as broxadas que deram. Contam apenas vantagens, mesmo que não sejam verdadeiras. "Fulano disse que  deu três ontem a noite". Mas três o que?
               Muitos são os motivos que podem levar o homem a fracassar na hora H e passar um vexame, uma vergonha diante de sua parceira. O cansaço, o stress, a preocupação, o nervosismo podem estar relacionados ao nosso desempenho sexual, entretanto,  na minha opinião,  a principal causa é a ansiedade. Às vezes ficamos tão preocupados com nossa performance sexual que no momento exato  somos levados ao fracasso, o que é constrangedor, vergonhoso e deprimente para o homem. Aí vem a famigerada desculpa :  isso nunca aconteceu antes!...
               Ao ler o terceiro capítulo do romance Histórias de Évora de autoria do poeta e escritor Elmar Carvalho, quando Marcos,  um dos personagens do romance teria sua iniciação sexual com uma profissional do sexo da chamada ZBM (Zona do Baixo Meretrício) da cidade de Évora lembrei-me do meu sobrinho Prodamor quando broxou pela primeira vez.
               Nas décadas de 60 e 70 meu sobrinho Prodamor morava em Teresina. Na Rua da Estrela, hoje Rua Desembargador Freitas. Esquina da Rua Area Leão, no centro da capital piauiense. Nessa época menores de idade não tinham acesso aos cabarés ou boates da famosa rua Paissandu e imediações devido rigorosa vigilância das Polícias Militar, Civil e ainda tinha a Policia Estudantil comandada pelo Centro Estudantal Piauiense entidade que representava a classe estudantil à época.
Se algum menor fosse encontrado na ZBM era preso, comunicado aos pais, e o resultado  pode-se imaginar... A sova que levariam dos pais. Sim, naquela época os pais podiam punir seus filhos. Não era constrangimento. Era educação!
               Pra não ficar só na bronha,  a negradinha (como diz o professor Alprim Amorim) procurava  soluções alternativas, ou seja aqueles lugares  e horários em que a polícia não fazia ronda.
               Existiam em Teresina, nas proximidades da estação ferroviária e arredores do 25 BC, algumas profissionais do sexo e que recebiam menores em troca de um sabonete Gessy, um tubo de  pasta Kolynos, qualquer besteira ou até mesmo dinheiro, cédulas de pouco valor como a de dois cruzeiros, uma amarelinha.
               Adentrando-se à área da estação ia-se   até o "moi-de-vara" por trás dos muros do BEC. Era nesse cenário que meu sobrinho Prodamor procurava as mulheres para se satisfazer  sexualmente. Lembro-me bem das irmãs paraibanas que tinham o apelido de "as preciosas" e de dona Raimunda conhecida como pernambucana.  Existiam outras mas não recordo os nomes.
               Nessa época poder-se-ia andar em Teresina a qualquer hora do dia ou da noite sem receios de sermos assaltados.
               A pernambucana era a preferida do meu sobrinho Prodamor. Numa bela tarde de domingo, após retornar da sessão das 3 do Cine Rex, pegou sua bicicleta Caloi e foi fazer uma visita  a dona Raimunda ( a pernambucana) de quem já era um freguês bastante conhecido. Quando já estava nos preparativos iniciais, no momento da penetração alguém bate à ´porta e com voz alta e estridente bradou:
- Dona Raimunda, a senhora já foi advertida. Continua recebendo "de menor"! Vai preso  a senhora e o menor. Dona Raimunda disse ao Prodamor: - Aguarda aí menino. Eu sei o que ele quer. Em seguida voltou para continuar o serviço. Mas já era tarde e a Inês estava morta, ou seja o pintinho do meu sobrinho estava de crista baixa e não houve jeito de levantar. A pernambucana fez de tudo! Alisou, acariciou, fez bolo frito... e nada! Nem reza, magia ou hindu tocador de flauta  seria capaz de  levantar o pingulin do Prodamor!
               Nessa época o sexo oral era uma coisa nojenta, repugnante. Mas acho que diante do susto e o medo de ser preso nem isso resolveria. E o meu sobrinho Prodamor broxou mesmo!

               Foi a última vez em que visitou a pernambucana.

6 comentários:

  1. Meu caro Prof. Gallas,
    Espero que essa tenha sido a primeira, a única e a derradeira broxada do seu sobrinho, o bravo Prodamor.

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  2. Caríssimo Poeta,
    o nosso já famoso Marcos Azevedo está provocando uma verdadeira volta ao passado para os seus leitores. A crônica do Prof. Gallas é muito interessante e nos remete a dias que o tempo há muito havia sepultado. Mas o Marcos está ressuscitando essas lembranças perdidas nos desvãos da memória. Pelo menos isso ele tem o condão de levantar. O professor deixou de fazer referência nos Trilhos, famoso trecho ali próximo ao Cemitério São José.Lá havia uma dessas estrelas do sexo: a mulher de um famoso árbitro de futebol da época. Recebia os iniciantes em um bem decorada rede amarela, com o vistoso nome gravado em quase toda a sua extensão: Lembrança do Ceará. Foi professora de boa parte da meninada daquela época.

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  3. Tenho a impressão de que outras aventuras do Prodamor serão revelados pelo seu tio, que pelo visto é mui amigo, e nada deixa escapar.

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  4. Meu caro amigo e poeta Elmar,
    o conterrâneo maranhense José Pedro Araújo (Blog Folhas Avulsas) tem razão. De fato foram alguns desses locais deixaram de ser citados como por exemplo o Morro do Querosene na piçarra e também algumas profissionais famosas na época como a Maria Batalhão... Dizem que numa única noite, ela sozinha, deu conta de um regimento inteiro do 2º BEC.
    Certamente em outras (des)aventuras de meu sobrinho Prodamor poderão ser citados.
    Em tempo uma correção : quando digo "ao ler o terceiro capítulo do romance Histórias de Évora" na realidade queria dizer "quarto capítulo". Desculpe-me por esse lapso.

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  5. Essa Maria Batalhão pode ser tida e havida como uma legítima heroína.
    Afinal passar nas armas um batalhão, não é tarefa de pequena monta.

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