Poema
Almir Fonseca (1918 – 1972)
Nasci em berço macio e quente,
Como a árvore no bosque
silencioso e calmo;
Alimentei-me de leite materno,
Como a árvore se alimenta da
seiva no seio da terra;
Tive o aconchego no colo morno de
minha mãe
E a doçura dos seus carinhos revigorantes,
Como a árvore recebe o calor do
sol e a frieza do luar,
Que lhe mantém o equilíbrio da
vida;
Recebi os bafejos e os beijos de
minha mãe querida,
Como a árvore recebe as carícias
brandas
Da brisa perfumada e mansa;
Fui cercado de todos os cuidados
e proteções
Contra as intempéries,
Como a árvore recebe da Natureza
Os meios peculiares à sua defesa;
Senti, por certo, caírem sobre o
meu rosto inocente
As lágrimas quentes dos olhos de
minha mãe
Quando chorava de contentamento
Ao apertar-me contra o seio,
Como a árvore sente correrem
sobre os seus galhos verdes
As gotas de orvalho caídas do céu
Quando a Natureza lhe abraça com
o véu da noite.
Cresci, tornei-me jovem,
Alegre e brincalhão, feliz da própria
vida,
Como a árvore cresce, robusta e
ereta,
E balança ao passar do vento
forte.
E hoje, homem feito
Vivo exposto aos rigores da sorte
avara
E do destino impiedoso,
Como a árvore, frondosa e
altaneira,
Vive exposta aos golpes da foice
afiada
E do machado bronco.
Eu morrerei,
Como a árvore morrerá,
E então nós nos encontraremos:
Eu feito defunto
E a árvore transformada em
caixão,
– Iremos à última morada...
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