Expedição (espacial e histórica) ao
Igaraçu
Elmar Carvalho
No dia 13 de maio, novamente naveguei
o Velho Monge a bordo do indômito Tremembé. Saímos, por volta das onze horas da
manhã, do Sítio Filomena, na Várzea do Simão, em direção à barra ou boca do
Igaraçu. Natim Freitas era o comandante, coadjuvado pelo imediato Carlos
Eduardo Coutinho, tendo como grumete ou recruta 000 este que escreve estas mal
traçadas linhas.
Ao passar pela estação de captação e
tratamento d’água de Parnaíba não pude deixar de evocar as várias pescarias de
que participei, em suas imediações, na minha já distante juventude do final dos
anos 1970. Pescar, pescar já seria uma estória de pescador, porque na verdade
eu apenas tomava banho e umas boas talagadas de pinga.
Depois, comia uma caldeirada feita
com os mais diferentes tipos de peixes, dos mais diversos formatos e tamanhos,
pescados na hora pela tarrafa de hábil pescador que nos acompanhava. Quase
sempre participavam da pescaria o Canindé Correia, o Vicente Potência de Paula,
eu e outros eventuais convidados. De volta para casa, lavávamos o peritônio com
uma cerveja bem gelada no bar do Careca, localizado na estrada do Rosápolis.
Cerca de um quilômetro após,
encontramos a embocadura do Igaraçu. Era o nosso destino e meta. Contudo,
resolvemos adentrar esse rio, que na verdade é uma espécie de braço do
Parnaíba, como adiante explicarei. Fomos até aproximadamente dois mil metros em
direção à cidade de Parnaíba, margeando a estrada que se dirige ao Céu, de nome
tão bem-posto, por ser um local de paradisíaca beleza.
Vimos belas e frondosas árvores que
ornam a mata ciliar, nem sempre bem conservada. Todavia, causou-nos pena
constatar que, mesmo antes do término da estação chuvosa, o outrora grande rio
dos tapuias já estivesse em estado deplorável; pois, embora o Tremembé seja um
casco de pequeno calado, ainda assim roçava o fundo em bancos de areia, o que
nos forçava tê-lo de rebocar durante pequenos trechos.
O Igaraçu, ao que tudo indica, era
apenas um pequeno riacho ou Igarapé, nascido na região de Rosápolis. Creio
fosse apenas um pequeno braço do Parnaíba. Leiamos o que diz Cláudio Bastos, no
seu importante Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí: “Resolução
provincial nº 244, de 30-8-1849, autoriza a abertura de seu canal com a
finalidade de aproximar o porto da cidade de Parnaíba do litoral e atrair
navios de curso marítimo. Uma tentativa de abertura foi feita por Evaristo da
Silva Meneses, em 1853, que a retoma no ano seguinte. Em 1856 o 1º tte. engº
Alfredo de Barros e Vasconcelos, encarregado das obras públicas da província, é
enviado a Parnaíba para verificar o andamento dos trabalhos.” Desconheço o
resultado prático dessa verificação e se o engenheiro produziu algum relatório
a respeito. Tampouco sei se ainda existem vestígios da tentativa de Evaristo.
A ideia de se construir esse canal,
que jogaria maior volume d’água no Igaraçu, foi retomada na primeira metade do
século XX pela Associação Comercial de Parnaíba, tendo como um dos principais
líderes o grande capitão de indústria José de Moraes Correia, seu presidente. O canal de São José foi construído e isso
revitalizou a navegabilidade, seja em direção a Amarração, seja com destino ao
porto de Tutoia – MA.
Creio seja lógico supor que, mesmo
com a influência das marés, o volume d’água do Igaraçu no século XIX não
permitisse a navegação de grandes embarcações. Portanto, suponho que os navios
de Domingos e Simplício Dias da Silva devessem ficar fundeados em Tutoia ou em
Amarração, hoje Luís Correia. As mercadorias seriam conduzidas até esses navios
em embarcações menores, de pequeno calado. Ou, então, os navios não seriam
propriamente navios. Mas, como já deixei bem claro, estou apenas levantando
hipóteses. Deixo que os historiadores lancem luzes sobre esse assunto.
Feita essa viagem na história, retomo
o meu pequenino e ousado Tremembé, faço a curva e me dirijo ao porto de origem,
que será também o final. Não sem antes uma parada logística na churrascaria do
Conrado, para uma rápida libação e degustação, como coroamento de nossa
aventura fluvial.
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