UMA CONVERSA
INTERESSANTE
Elmar Carvalho
Estive, na
parte da manhã, com o professor Paulo Nunes. Fui conhecer as novas instalações
do Conselho Cultural do Estado, que ele preside com muita dedicação e
competência. Foi ele um dinâmico e profícuo presidente da Academia Piauiense de
Letras. Mostrou-me o amplo e bem dividido prédio, inclusive a sala de reunião
do Conselho, o auditório/teatro e uma sala que está destinada às aulas de
computador. Falou-me de seus projetos e metas.
Aproveitei para
lhe dar duas sugestões: que as aulas de informática não sejam apenas sobre o
básico, mas que ensinem também computação gráfica, editoração de livro, manejo
de fotografia, criação de blog etc., e reivindiquei a promoção de um sarau,
talvez poético e musical, nas noites de plenilúnio, para usar uma palavra tão
do gosto dos simbolistas, no amplo espaço aberto do prédio, que bem se presta a
essa finalidade. Nessa visita revi o poeta Jonas Piauí, que me deu o mais
recente número da revista Presença, editada pelo Conselho, que por sinal foi criada
pelo professor Paulo, em sua curta, porém profícua gestão de secretário de
Cultura do Estado.
Disse ao poeta,
em tom de blague, que ele era o mais piauiense dos piauienses, pois trazia o
nome do Estado em seu próprio nome. Quando estávamos em meio à conversa, chegou
meu velho conhecido e amigo Fonseca Neto, meu futuro confrade na APL. Na
agradável conversa, o mestre Paulo nos contou que o seu pai, Francisco de Paulo
Teixeira Nunes, era um verdadeiro ecologista, pois, como prefeito de
Regeneração, combatia a prática das queimadas, tão praticada pelos nossos
rurícolas. Só que, para minha tristeza, vejo hoje grandes empresários da
chamada agroindústria destruindo vastas glebas de floresta, da noite para o
dia, para transformar tudo em carvão, na ganância desmedida do lucro fácil e
imediato, sem nenhuma criatividade e empreendedorismo.
Contou-nos
Paulo Nunes que um caboclo, de nome Mariano, um pernóstico inocente e bisonho,
dissera ao alcaide que, por não conhecer a ordem do prefeito, fizera uma grande
queimada “aritmética portuguesa areoplana”, o que nos provocou boas
gargalhadas. Dina, mulher desse homem simplório, foi convidada para a
inauguração do campo de aviação, construído pelo pai do professor Paulo,
oportunidade em que um avião pousou e decolou. Perguntada sobre o que achara da
operação aeronáutica, disse que não achara vantagem alguma, pois o avião
descera e subira inteiriço, sem bater as asas. Sem dúvida, essa mulher simples
tinha um olhar de poeta, e viu o aeroplano como uma grande ave metálica e de
asas duras. Novamente, gargalhamos a valer.
Na conversa, o
professor Fonseca Neto contou-nos que ontem, domingo, em Parnaíba, o secretário
estadual da Educação, Antônio José Medeiros, disse para o ex-ministro José
Dirceu que em 1979 o presidente Lula estivera naquela cidade, em sua luta para
criação do Partido dos Trabalhadores, hóspede do Reginaldo Costa, que
juntamente com Franzé Ribeiro, fundara o combativo jornal Inovação, de que
fizemos parte Canindé Correia, Vicente de Paula (o Potência), Bernardo Silva,
Danilo Melo, Mário Carvalho, Jonas Carvalho, Ednólia Fontenele, este escriba e
vários outros intelectuais.
Aliás, foi o
grupo desse jornal, mormente o Reginaldo e o Canindé, que organizou o comício, realizado no bairro Guarita, na
carroceria de um caminhão, no qual discursei, na qualidade de presidente do
Diretório Acadêmico “3 de Março”, Campus Ministro Reis Velloso, Universidade
Federal do Piauí. Naqueles idos, tirar fotografia não tinha a facilidade
oferecida pelas máquinas digitais de hoje, cujas imagens logo podem ser
transmitidas pela internet e até mesmo por telefone celular. Por esse motivo e
também porque não soubemos adivinhar que
o Lula, um torneiro mecânico, iria chegar à presidência da República, não
registramos o comício em fotografia.
Assim também
não ficou registrada fotograficamente a minha participação no grande comício do
retorno de Chagas Rodrigues ao Piauí e à política, após dez anos de ausência no
Distrito Federal, que acontecera um pouco antes, no coreto da bela Praça da
Graça, onde morei por vários anos. Fui convidado igualmente pelo fato de ser o
presidente do diretório acadêmico, pois nunca fui filiado a nenhum partido
político, porquanto sempre achei que um poeta não deveria pertencer a nenhuma
agremiação política, devendo ser um franco atirador, a fustigar as mazelas da
sociedade e da política, sem tomar partido de nenhum partido, para fazer um
trocadilho cretino.
Contou-nos
Fonseca Neto que o Lula visitou oito cidades nessa viagem ao Piauí, e que
pernoitou, numa dessas visitas, em Campo Maior. Por essa razão, ele foi,
juntamente com o Antônio José Medeiros e Altino Dantas, vereador de São Paulo,
buscá-lo nessa cidade, para ele embarcar no aeroporto de Teresina, de volta à
paulicéia. Quando o fusquinha estava a 20 quilômetros de Teresina, já se
aproximando do posto da Polícia Rodoviária Federal, um dos pneus estourou,
terminando o veículo por fazer o chamado “cavalo de pau”, ao girar sobre si
mesmo.
Lula se propôs
a trocá-lo e foi retirar o estepe. Lamentavelmente, para surpresa dos
passageiros, o pneu estava vazio. Mas o professor Fonseca Neto foi reconhecido
por um seu aluno, que ia passando, e deu carona ao Lula. Ironicamente, esse
aluno foi repreendido severamente por seu pai, por ter dado carona a um estranho.
Um estranho que hoje é o presidente da República Federativa do Brasil.
1º de fevereiro de 2010
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