sábado, 29 de julho de 2017

A leitura constrói inteligências mágicas

Fonte: Google
A leitura constrói inteligências mágicas

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
  
         Paulo Vítor Prudêncio, 7 aninhos, reside frente à minha residência. Vítor ganhou uma bicicleta da mãe, mérito das boas notas no primeiro semestre. Em férias, Vítor diverte-se pedalando: “Mãe, a corrente está desconectada e a bicicleta não me permite circular!”

         Hum! Bonito português: DESCONECTADA, NÃO ME PERMITE CIRCULAR, vocabulário de adulto. “Vítor gosta de ler”, diz mamãe, de olho nos carros que passam raspando o garoto. Zelosa, também, com a evolução da inteligência emocional de Vítor, estimulando-o à leitura: “Ele adora ler”, envaidece-se.

         Eis a fórmula de se adquirirem bonitas e raras palavras, desde cedo. Com o passar do tempo, dedicando-se à leitura de selecionados textos de jornais, revistas e livros, ninguém segurará Vítor, no universo das conquiatas. Por enquanto, importa a leitura compartilhada com os pais e com professores e colegas de escola. Leituras construtivas, exemplos de virtudes cristãs, sem ranços de ideologia política, espasmos genéricos e descontrução da família. O hábito de ler que liberta as frases surradas, mesmices, sem criatividade . Arte não é só fazer, mas criar.

         O idioma português possui mais de duzentos mil verbetes. Milhões de brasileiros sem leitura dominam somente cinco a dez mil palavras, uma fortuna para entender certos programas televisivos de entretenimento, comentários esportivos, colunas sociais e policiais, forrozeiras safadinhas e refrões fuleros. Com tamanho repertório vocabular, em inglês, qualquer brasileiro não passaria fome no exterior. Também aqui, se vira, se come, se embebeda com as mesmices do cotidiano. Voar, nunca. Infelizmente, expressiva camada social anda tão miserável e rasteira, no falar, ler e escrever quanto políticos que elegem. Estudantes de nível superior incapazes de entender e interpretar uma música da MPB. Permanecem iludidos com balacubacos de pura mediocridade. A Rádio Senado apresenta repertório de primeira. Só filé mignon da MPB, nomes consagrados e populares. Ligue 104.5 e me diga depois.

         Machado de Assis, neto de escravoss, feio, epiléptico, negro, paupérrimo, gago, oriundo de favela. Frequentou pouco a escola, barrado pela cor. Quase não saía de casa, temendo crise de epilepsia na rua. Qual o segredo da genialidade de Machado? O hábito de ler textos nas gráficas (tipografias), onde trabalhava desde a adolescência, visitas a bibliotecas. Autodidata, aprofundou-se em francês e literatura, conquistou emprego público e elevação social como escritor. Machado lembra outro herói, Joaquim Barbosa,  também negro, pobre,  filho de pedreiro e empregada doméstica, na periferia de Brasília, engraxate, estudante de escola pública. Cursou Direito, doutorou-se na França. Jurista, ex-magistrado, ministro do Supremo Tribunal Federal, por indicação do presidente Lula. Não se dobrou aos caprichos do presidente no rumoroso caso do Mensalão, ao enfrentar desafetos do PT.


         O exercício da leitura produz e consagra talentos. Nicolau Maquiavel, político perseguido, torturado, preso em calabouço, em 1513.  Na prisão, aprofundou-se nos estudos, escreveu a famosa obra O Príncipe. Também, por perseguição política, Graciliano Ramos sofreu em presídios, onde escreveu romances imortais. Porque leitura é um dos prazeres que ganhamos, embora nas agruras. Vítor percebeu cedo quanto é bom estudar, mesmo com a bicicleta desconectada

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