Edison Rogério
Eu queria fazer um poema do amor infeliz
Mas não consigo ser realista, menos ainda modernista da
segunda geração.
Não me vêm à cabeça meia-dúzia de palavras a esmo. Como
conseguir então,
meia-dúzia de palavras adequadas a um verso livre?
O que pretende um jumento escrevendo um poema?
Ah! vieram-me três palavras inspiradoras como resposta: ser
apenas um jumento.
Ué, mas surgiram quatro palavras!
Bem, digamos que o um é apenas metade de um morfema...
Melhor não incursionar sobre as regras da língua culta, sob
pena de não passar de um jumento.
Empreguei o melhor amor que tive para viver um grande amor
Mas o amor burocratizou, sentiu medo... de mim! De mim? De
mim, sim senhor!
Logo de mim, que sempre fui amoroso, espirituoso, amante,
galante.
Fiz-me capacho, distribuidor de gentilezas, realizador de
sonhos... Deixemos por menos esta última assertiva.
Exerci um amor romântico, poético até. Ou patético? Laborei
nas carícias, nos afagos
Morri de êxtase, paixão, amor incontido. Amor amado até a
última gota. Amor pra vida inteira.
Fui honesto, fiel. Andei nas pradarias douradas do céu. Mas
pisei o solo ferruginoso, pútrido e escaldante do inferno.
Mesmo assim resistia; não seriam as incongruências do amor,
nem as forças ocultas do tinhoso, que me fariam desistir de amar.
Surgiu porém, uma síndrome da moderna medicina para
atrapalhar o meu poema:
O pânico surgiu e fez de mim o seu algoz.
Fui menoscabado, odiado, desprezado, arrostado ao degredo do
coração adorado.
Senti mágoa, chorei. E enquanto chorava só me lastimava de
não ter inspiração para exprimir esse tão grande amor!
O poema acabou. Não conheço a inspiração.
Mas o amor não morreu; não quero que morra.
Sofro como um condenado!
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