A vida
Antônio Chaves (1883 - 1938)
Dizem que a vida é um favo bem pequeno
Que às vezes tem dulçor e às vezes, travo...
Se assim é, sorve o teu com espírito sereno,
Sim, o teu, que é de mel,
Sem ao menos pensar que desse favo
Possa a última gota ter veneno
E amargar com fel.
A vida é triste, minha amiga! A vida,
Em sendo, como é, uma noite comprida,
E também a assassina da ilusão...
Não há quem, no melhor dos seus caminhos
Não encontre o pior de todos os espinhos...
Mas, não te importes, não!
Goza-a, sem procurares, todavia,
Tenta saber se, porventura, um dia,
Ela venha sangrar teu coração.
Goza-a, crendo no amor!
E se em teu peito
Um sonho, pálido e desfeito,
Cair ferido pelo sofrimento,
Reage com o fulgor da tua graça,
Sê forte para que não se desfaça
O belo encantamento.
Encara a vida como se ela fosse
Eternamente doce,
Como um beijo do Céu que te bendiz;
A vida tem odor?
Aspira-o se puderes,
Sê a mais otimista das mulheres
E serás sempre feliz.
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