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MARIA MADALENA
Valério Chaves
Escritor, Jornalista e Desembargador inativo do TJPI.
Na busca da verdade sobre as evidências históricas e literárias ocorridas no mundo antigo, historiadores e biólogos retratam duas personalidades femininas, intrigantes e místicas, ligadas à religiosidade greco-romana existentes na época que antecedeu a crucificação de Jesus Cristo.
A primeira delas é a romântica Cláudia Prócola - mulher do Procurador Romano na Judeia, Pôncio Pilatos, a qual, apesar de ter representado papel importantíssimo como mediadora do mistério divino nos dias que antecederam o sofrimento e condenação do Cordeiro da Páscoa, ficou quase que completamente esquecida dos evangelistas, pois a Bíblia se refere a ela uma única vez no livro de Mateus (27:19).
A segunda é a polêmica Maria Madalena - fiel seguidora de Jesus no Calvário, e que era retratada no capítulo 7 do evangelho de Lucas como aquela mulher pecadora que ao entrar chorando na casa de um fariseu, Jesus disse-lhe: "Os teus pecados estão perdoados".
Porém, a partir de 1969, durante o papado de Paulo VI, essa versão história foi substituída no capítulo 20 do evangelho de João onde uma mulher chama a atenção de todos, não por ser uma suposta prostituta, como declarada na homilia do papa Gregório Magno em 591d.C, mas porque Jesus havia se revelado a ela em primeiro lugar na ressurreição, quando fez-lhe as seguintes perguntas: "Mulher por que Choras? A quem procuras? Maria Madalena, julgando que as perguntas eram de um jardineiro responsável pela guarda dos corpos das vítimas de enforcamento, disse-lhe: " Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei embora".
Quando o Vaticano, em 1969, deixou de reconhecer Maria Madalena como mulher impura e que a partir de então ela passaria a ser venerada como um discípulo, quis na verdade dizer ao mundo que havia passado 1,4 mil anos sem dar a essa mulher o destaque que merecia como testemunha da ressurreição - acontecimento que moldou o curso da história e da cultura da maior parte do mundo durante muito tempo.
O pesquisador e biólogo Michael Haag, que escreveu extensivamente sobre os mundos egípcios, clássico e medieval, levanta a seguinte questão: por que e de que maneira Maria Madalena, sendo uma figura maior do que qualquer texto bíblico, a Igreja católica preferiu representá-la como pecadora adúltera, enquanto Maria, mãe de Jesus, foi simbolizada como a Virgem? (in Biografia de mulheres que você precisa conhecer, Ed. Pequena Zahar, 2018).
Os relatam históricos dão conta de que durante o século primeiro, quando o judaísmo esteve mais ferozmente empenhado na luta para preservar sua identidade contra a influência da cultura helenista, a sociedade que habitava a região na Palestina era uma das mais patriarcais e conservadoras. As mulheres judias estavam restritas às tarefas domésticas e eram legalmente propriedades dos homens.
O certo é que os destinos dessas duas mulheres, tão diferentes e tão místicas, se cruzaram numa época politicamente efervescente do Império Romano onde a palavra feminina não era levada a sério nos assuntos políticos, familiares e governamentais, mas nem por isso deixaram de ter papel importantíssimo nos dias que antecederam a tragédia do Gólgota.
A romana Cláudia, por exemplo, embora pertencendo à classe alta das mulheres submissas aos maridos, não hesitou em interceder a favor de Jesus dando conselhos ao marido no sentido de que ele não se envolvesse na morte de um justo chamado "Jesus de Nazaré, rei dos judeus". Tanto que na noite em que Pilatos, depois de lavar as mãos publicamente, ia entregar Jesus à sanha da plebe rude e sanguinária para decidir qual destino deveria ser dado ao prisioneiro, ela, talvez angustiada por pesadelos, teria mandado um recado dizendo: "Não te envolvas na questão desse justo, porque muito sofri hoje em sonho por causa dele".
Em todo caso, não é preciso pesquisar nos evangelhos oficiais da Igreja católica para descobrir que Jesus, em meio às tradições judias do mundo antigo, escolheu uma mulher, Maria Madalena, como depositária de sua mensagem de amor, tão presente no coração da cristandade nesta época da Paixão e Morte do Cordeiro da Páscoa.
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