quarta-feira, 28 de março de 2018

A SAGA DE TRÊS VAQUEIROS

Foto meramente ilustrativa. Fonte: Google

A SAGA DE TRÊS VAQUEIROS

José Itamar Abreu Costa 
Acadêmico da ABRAMES(Academia Brasileira de Médicos Escritores) 
 
Agostinho Marques da Costa, o Dindim para a dezenas de netos e bisnetos, nasceu em 1898, na bucólica fazenda Buriti Só, município de Alto Longá. Os pais, Pedro e Maria Marques, formaram uma numerosa prole: Dedé, Barbosa, Cícero, Mariquinha, Joana, ........ 

Desde tenra idade se dedicou à lida do campo, demonstrando grande interesse e habilidade nas atividades de pega do gado. Ao casar-se com a jovem Ernestina foi cuidar da fazenda Piquizeiro, de propriedade do abastado Senhor Laurindo de Castro, também dono de extensas fazendas situadas no território longaense: Invejada, Pernambuquinho, Garcinha, Fundo do Canto, Santa Ermelinda, dentre outras. 

A fazenda Piquizeiro era cortada pela "Estrada Real Crateús-Teresina" e, sua sede encravada nas proximidades desse caminho, permitia acesso fácil e abrigo seguro aos muitos viajantes que por ali trafegavam. Tais características possibilitaram à localidade tornar-se cenários de acontecimentos históricos e pitorescos, que marcavam a vida pacata dos moradores em seu entorno. Um desses aconteceu em 1932, em meio a descontentamentos de parte da população teresinense que, insatisfeita com a administração pública local uniu-se, sob a liderança de Cabo Anselmo, com o objetivo de destituir do cargo o Governador Landri Sales. Na busca de solução para o conflito, as tropas do exército cearense foram convocadas. Caminho natural para o deslocamento das tropas, Piquizeiro se tornou o centro das atrações na época, visto que dentre os militares do exército cearense, estava Luis Gonzaga, o rei do baião, que naquela missão ocupava na cavalaria o cargo de cabo corneteiro. 

Chegaram no Piquizeiro ao entardecer, solicitaram arrancho e, prontamente, foram atendidos. Ernestina, convocou as mulheres dos vaqueiros para preparar o jantar, enquanto os viajantes descansavam da longa caminhada. Após o banho e acomodação dos animais nos brejos da fazenda, a tropa se dirigia à mesa do jantar, quando o Bicudo (como também era chamado Luis Gonzaga) avistou uma sanfoninha de oito baixos, perguntou: "quem toca Sanfona nesta casa?" Dindim respondeu: "tocar, talvez não; agora arranhar eu arranho!". Após o jantar os dois se postaram à porta da fazenda e passaram a se revesar, tocando melodias sertanejas, que fizeram daquele encontro acontecimento jamais esquecido daquela gente simples do Piquizeiro. Dindim não se cansava de contar a proeza de ter arranhado sua sanfoninha em companhia do Rei do Baião. No meu caso, sabendo de minhas andanças na cidade grande, Teresina, sempre que me encontrava perguntava pelo "Nigritin" que com ele tocara a sanfoninha. 

.... 



De outra sorte, conta-se que o seu patrão, Senhor Laurindo de Castro, comprou um gado da Holanda, trazidos ao Brasil em grandes navios comerciais e desembarcados no nosso litoral, Parnaíba. O patrão recomendou-lhe cuidados redobrados com aquele gado. 

No ano seguinte o patrão chegou de surpresa na fazenda. Ainda no pátio, foi logo gritando: "Agostinho, como está sendo tratado o meu gado de raça?". Dindim respondeu deu na bucha: "melhor do que meus filhos". Quando Laurindo desceu da montaria e avistou uma novilha amarrada em um mourão, tronco de madeira fincada nas fazendas para amarrar o gado, gritou com o vaqueiro-administrador, usando palavras de baixo calão. O pior é que foi na frente dos seus filhos, todos ainda bem pequenos. 

Dindim nada reclamou, procurou acomodar o patrão da melhor maneira possível. Ao deixar os animais no rodeio, pegou o seu cavalo possante e foi até o Buriti Só avisar o seu pai, Pedro Marques, sobre o acontecido. O pai ao vê-lo percebeu logo que havia algo errado: "o que aconteceu, meu filho?". Dindim respondeu: "Pai, vim lhe avisar que vou matar o meu patrão". Pedro Marques, imediatamente pegou o seu berrante, soprou e soltou foguetes com a finalidade de avisar ao seu compadre e fiel amigo Petrus de Area Leão, o qual ao perceber os sinais emitidos pelo amigo, já sabia do encontro na encruzilhada. O filho recebeu o conforto da mãe e ficou esperando pela volta do pai , que foi imediatamente encontrar com Petrus e iriam para o Pequizeiro conversar com o patrão. Quando chegaram eram muito clamor, choro da Dindinha e das crianças e o lamento do já dócil preocupado patrão. Em resumo: Pedro avisou ao dono da fazenda que seu filho já não era mais o vaqueiro-encarregado. 

Dindim voltou a trabalhar nas propriedades de Laurindo quando as mesmas foram entregue ao único herdeiro Dr Franklin de Castro Lima Filho. 

Dindim criou uma prole muito grande e educou todos no caminho do bem. Morou muito anos na aprazível fazenda Garcinha, que fica na estrada ligando Alto Longá a Pedra Branca, e esta a Beneditinos. 



ODE AO DINDIM 


"Um dia em Alto Longá, 

Dindim tentou entrar, 

Armado de uma peixeira, 

Que o delegado tentou tomar. 

O velho embrabeceu 

Foi um quibrocó danado. 

Foi preciso o Prefeito Cabral 

Acalmar o valente e o delegado.I 

Passado a confusão, Dindim, 

Tentou explicar: o motivo da, 

Tal arma. Era para espantar 

O guaxinim que o atacava 

Na passagem do Canabrava. 

II 

"Tocou sanfona com o Gonzaga. 

Pegou boi com seu Noé . 

Amarrou o Cícero Luiza, 

Na forquilha da cumieira 

Da fazenda Ladino do Azarias 

No bonito casamento 

Da Rosilda e Raimundo Tiago 

Armado de uma peixeira, 

Não deixava nada em pé, 

Botava pra correr do pátio 

homem, menino e mulher 

III 

"Nas moagens do Bonsucesso, 

Todos já sabiam, preparavam. 

As melhores parelhas de bois que havia, 

Seu Agostinho vai trabalhar 

Não ter noite, não ter dia 

O velho era uma fera.,De todos 

Os que aii trabalhavam, 

Era o que mais produzia" 



O SEGUNDO VAQUEIRO: 

José Marques da Costa, nasceu em 02 de fevereiro de 1932, na bucólica fazenda Pequizeiro, município de Alto Longá. Gêmeo com Manuel Marques da Costa, cresceu observando seu pai na lida do gado. Resolveram colocá-lo para morar e estudar em Teresina, onde residiu no bairro Barrocão, na residência do Senhor Virgínio, pai de Geraldo, Francisco, Paulo Marques dos Santos e da princesa Elizabeth. Estudava com Carlos said no Colégio Diocesano. 

Tinha muita saudade de casa, até que um dia bolou uma maneira de voltar para fazenda Garcinha. Sabendo que o vaqueiro Zé Vitor chegaria na casa dos seus protetores trazendo: queijo, carnes e outras iguarias, Zemarques redigiu uma carta como sendo de autoria do seu pai, Agostinho, destinada ao Senhor Virgínio solicitando o seu retorno porque a Dindinha estava doente precisando de sua companhia. Prometia, ainda, o seu retorno aos estudos tão logo melhorasse o estado de saúde de Ernestina. Esse fato aconteceu em plena Segunda Guerra Mundial. Zemarques, com apenas 15 anos, retornou a casa dos pais, no interior, que os aconselharam a ficar desempenhando as duras atividades da fazenda. 



Nesse ínterim, o Senhor Noé Fortes comprara um gado e precisava contratar quem pegasse aquelas reses bravas. Ao chegar na Garcinha, avistou aquele jovem destemido, em lombo de cavalos possante e logo o contratou. Ao final, todo o gado foi entregue ao fazendeiro, que o pagou e passou a ser o seu protetor. 

Naquele torrão, campeava, namorava com todas as morenas que apareciam, até que ao atravessar o Riacho Gameleira, que separa Alto Longá de Altos (atual Coivaras), em uma festa, encontrou a Francisca, por ela se apaixonou e aos 17 anos casou e aos dezoito já era pai. 

Foi morar em Alto Longá, onde montou uma vacaria, comprou uma quinta (Crioli) e montou uma bem sortida Mercearia/Bodega e tornou-se vereador, mesmo assim não esquecia o campo. Em 195,8 mudou-se de vez para o Bonsucesso e aí começou uma carreira de sucesso. As orientações sempre recebidas de Noé Fortes, culminaram com a compra das fazendas de propriedades da viúva de Juca de Castro, Dona Dorinha, que residia em Belo Horizonte. 

Em 1962 mudou-se para Teresina e o segundo empreendimento na capital foi montar uma vacaria que ficava no portal da Catarina. 

Assim continuou seu destino: fazendas, gado, comércio, empresas de ônibus e educação aos filhos: Itamar, Francyslene, Ismar e João de Deus. 

Até que em setembro de 2013, Deus o recebeu no Céu para ajudar a messe celestial, entregando-lhe a mais bela fazenda celestial. 



VAQUEIRO &GADO 

AO VAQUEIRO ZÉ MARQUES DA COSTA 


"Aos quinze anos de idade, 

Estudava em Teresina, e, 

Bateu-lhe no coração saudade! 

Ao sertão voltar e lida do gado. 

II 

"Seu Noé Fortes lhe entregou 

Fazenda inteira e o gado pegou! 

Ganhou fama de bom vaqueiro 

O jovem bonito e namorador! 

III 

"Logo conheceu: Antonias, Marias 

Isabel e se apaixonou pela Francisca 

Tornando-a esposa e fiel companheira. 

IV 

"Viveram sessenta e quatro anos, 

Um grande amor e compreensão. 

Tiveram quatro filhos, que emoção!". 



O TERCEIRO VAQUEIRO: 

José Marques de Araujo (Zezito) nasceu na fazenda Pequizeiro, em 08 de dezembro de 1920, faleceu em 17 setembro de 1997. 

Desde cedo resolveu dedicar-se à lida do gado. Sempre muito zeloso com os animais. Casou bem jovem com a Sra Maria Soares de Araujo, filha do cearense de Crateús, José Soares. Tiveram três filhos: Bismarck, Osmarina e Maria Núbia. Recebeu um convite irrecusável: ser o vaqueiro encarregado da bonita Fazenda Lagoa Redonda, situada às margens do Riacho Cais (São João da Serra/Castelo do Piauí), pertencente ao Senhor Roland Jacob, proprietário do Grupo Marc Jacob. 

Zezito passou a administrar esta fazenda que produzia muito leite, queijo, muita carne e couro. Nasciam em média 200 bezerros e bezerras/ano. O Jovem que se transformou em exímio administrador, passou anos e anos na luta do gado, ganhando do seu patrão e familiares muitos elogios e respeito, até o dia da separação. O vaqueiro ficou triste, chorou, porém não tinha como recuar. Foi bem indenizado, restando-lhe deixar a fazenda e montar a fazenda Salobro, no município de São João da Serra. Antes tinha colocado os filhos para estudar em Teresina, sob a orientação da esposa Mariinha. 

Zezito, era moreno com as mesmas características de "Charles Bronson", meticuloso ao falar e perfeccionista em tudo que fazia. Vendeu o Salobro e transferiu suas belas rezes para a fazenda Alívio, município de Alto Longá. Um dia avistei meu tio sentado na porta da casa da tia Baeta (irmã do do vaqueiro-encarregado). Tomei a benção e observei lágrimas nos olhos do velho vaqueiro. Perguntei-lhe qual o motivo da tristeza e das lágrimas. Ele prontamente respondeu: "meu filho já não tenho mais estímulo e força para fazer a cansativa viagem Teresina/Alto Longá/Alívio todos os sábados". Tomei uma atitude e convidei-o para levar os seus animais para o Allegre, fazenda situada no Km 30 da Estrada Motorista Waldemir Melo (Altos/Beneditinos). Dias depois ao visitar a fazenda encontrei-o disposto, cuidando do que mais gostava: quebrando mandioca para as reses que já não tinham dentes, e aboiando, ordenhando as paridas e levando o balde de leite para casa. 

Naquele sábado a tardinha ele fazia tudo sempre igual: pegava o ônibus, descia na fazenda, e passava a fazer as atividades, dava comida ao gado(eles vinham comer bem próximo do protetor), quebrava a mandioca para a vaquinha sem dentes,. Aboiava etc. 

Resolve tomar banho, e ao voltar o gadinho ainda estava ruminando, quando o grande trabalhador teve morte súbita bem ao lado de suas protegidas. 

O grande sonho do vaqueiro Zezito era morrer em uma fazenda sentindo o berrar do gado e o cheiro de suas vaquinhas, 

Assim aconteceu! 

ZEZITO 


"Zezito o bom Vaqueiro , 

Zeloso, amigo e companheiro. 

O seu gado era o melhor, 

Seu cavalo era o maior. 

II 

"Na Lagoa Redonda trabalhou, 

Na pega do gado se destacou. 

Seu Roland Jacob o adorava, 

O bom vaqueiro se destacava. 

III 

"Deixou a fazenda triste, 

Quando partiu pro Salobro. 

O gado tocando; era o consolo. 

IV 

"Já no final da jornada foi pro Allegre, 

Cuidava do seu gadinho com dedicação! 

Deus o levou, silenciando a aboiação!"    

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