sábado, 28 de julho de 2018

Nove dias em Assunção com a moeda “guaranis”, cultura, mitologia e história

Fonte: Google


Nove dias em Assunção com a moeda “guaranis”, cultura, mitologia e história

Sílvia Melo
Professora universitária e escritora

Sim, com este dinheiro/moeda de belas cédulas que me fizeram sentir milionária. Em primeiro lugar, milionária sentimentalmente pois a motivação da viagem ao Paraguay sempre foi a de participar da “defesa” de mestrado “Maestria” do Demerval que graças a Deus foi vitoriosa e quero crer exitosa para Educação de Jovens e Adultos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Piauí, Campus Teresina- Central. Em segundo lugar o que me fez “estar milionária” foi ao cambiar... ter tomado posse do tal um milhão... dois milhões, simples assim: estar mui passageiramente milionária. Veio então o desafio de planejar as compras... os passeios turísticos... Ah! O Lago Azul de Ypacaray! Desenhado na minha imaginação no romantismo ou na utopia da juventude.

Revivo agora com o mesmo peso emocional o relato do Guia Turístico Sr. Molinas, sobre a história, o berço do Paraguay, esta bela bacia hidrográfica tão cobiçada, sua alma indígena “guarani” de múltiplas etnias. Sua independência do domínio espanhol sem derramamento de sangue. Sua luta em prol do reconhecimento político junto as nações vizinhas, seus “ditadores” que escreveram as páginas memoráveis da sua história inicialmente ao liderar o movimento que resultou na divisão de riqueza, (terras férteis) no primado do trabalho, na dignidade humana e na soberania nacional.

Contraditoriamente as baixas temperaturas, meu coração foi aquecido com autêntica a história do Paraguay, bem diferente da versão que nos bancos escolares ouvimos e lemos. Já foi dito que para saciar a sede, deve beber na fonte e não há apenas a história, são histórias.

Na retrospectiva chegamos a José Gaspar Rodrigues de Francia, que na independência, após o final do governo triunvirato, sagrou-se Presidente no regime ditatorial. Feita a distribuição das terras e rendas, incentivou o crescimento econômico com base na mentalidade: que o País produzisse bens e serviços ou seja, tudo que precisasse. Respeitando os costumes indígenas, valorizando capital e trabalho. Dom Gracia jamais recebeu um salário sequer, privilégio ou vantagem pessoal ou familiar. Seu propósito era acima de tudo o bem do Paraguay.

O Museu Mitológico, o primeiro da América do Sul, um dos poucos do mundo. É uma atração à parte. Lá a imaginação vai muito longe... Vê-se em grandes esculturas: Tau y Kerana, seres mitológicos que da sua união carnal nasceram sete monstros sobreviventes que assustam “ninos” crianças e espalham maldição. Entre elas, o Lobsomen que amaldiçoa o sétimo varão do casal, precisando ser abençoado por outras entidades mitológicas, como Tupã deus sol, para ter no caso, grande poder. Por exemplo ser Presidente. Há quem diga que aconteceu com Francisco Solano Lopes, um dos grandes nomes da história do Paraguay.

O Museu é um misto de Mitologia e História, destaque para as Missões dos Padres Jesuítas. Imagens e relatos que provocaram em mim, expressar meu entendimento/sentimento em relação ao marco histórico lá existente, qual seja, tudo sobre a guerra da Tríplice Aliança que dizimou o Paraguay. Da sua população cerca de 90% foi morta. Dos 10% restantes, 90% eram mulheres. Muitas e muitas crianças e adolescentes deram suas vidas... há monumentos com esses dados. O heroico povo “guarani” viu ser morto Solano Lopez ... que resistiu bravamente aos interesses das elites. Lopez para os paraguaios é reverenciado, figura humana notável, de alma sensível, poeta que dominava sete idiomas. Já o brasileiro Duque de Caxias para os paraguaios é persona “non grata” e o Conde D`Eu aquele conhecido “comandante sanguinário” é a personificação da crueldade, do infanticídio.... Como dói nos “el manos” O Brasil nunca lhe ter feito oficial pedido de desculpas (perdão).

Vê-se assim que o Paraguay renasceu como nação forte, altiva e destemida no ombro no colo feminino, no pulsar do coração fiel às suas tradições, valente, telúrico, indígena...Hoje este pequeno, grandioso Paraguay é um dos maiores exportadores de carne e soja do mundo. Produz quase tudo que consome. Tem 13 Universidades renomadas do sul americano, onde milhões de brasileiros e africanos se formam, inclusive em mestrados e doutorados nas mais diversas áreas do saber humano.

Importante lembrar a despedida dos turistas ao som da inconfundível Harpa, belas guarãneas: Recuerdo de Ypacaraí, Galoupera, Beja-me mucho... e canções do Roberto Carlos, quanta amabilidade. Há de se lembrar sempre da Virgem de Caacupe, seus milagres, todos contados com fortes sentimentos de religiosidade. Belas Igrejas. Suas ervas medicinais, o “terere” sua mística. O magnífico Rio Paraguay, sereno, navegável, a flutuar sonhos e transportar riquezas. Suas encantadoras cidades: São Lourenço, São Bernardino, Luque. Seu artesanato, seus trabalhos em filigrana, inclusive ouro e prata. Como não reconhecer que é “milionário” quem vai ao Paraguay. Quem conhece o Paraguay, ama o Paraguay!

Teresina, 25 de julho de 2018

Um comentário:

  1. Caros Demerval e Sílvia,
    Qualquer dia apareço para ouvir o bravo maestro Demerval cantar com o seu fôlego de sete gatos a Galopeira ou então a guarânia Recuerdos de Ypacaraí.
    Parabéns por mais esta importante conquista do Demerval, o seu título de Mestre, coisa que ele já era, com ou sem diploma.
    Abraço,
    Elmar

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