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Nove dias em Assunção com a moeda
“guaranis”, cultura, mitologia e história
Sílvia Melo
Professora universitária e escritora
Sim,
com este dinheiro/moeda de belas cédulas que me fizeram sentir milionária. Em
primeiro lugar, milionária sentimentalmente pois a motivação da viagem ao
Paraguay sempre foi a de participar da “defesa” de mestrado “Maestria” do
Demerval que graças a Deus foi vitoriosa e quero crer exitosa para Educação de
Jovens e Adultos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Piauí, Campus
Teresina- Central. Em segundo lugar o que me fez “estar milionária” foi ao
cambiar... ter tomado posse do tal um milhão... dois milhões, simples assim:
estar mui passageiramente milionária. Veio então o desafio de planejar as
compras... os passeios turísticos... Ah! O Lago Azul de Ypacaray! Desenhado na
minha imaginação no romantismo ou na utopia da juventude.
Revivo
agora com o mesmo peso emocional o relato do Guia Turístico Sr. Molinas, sobre
a história, o berço do Paraguay, esta bela bacia hidrográfica tão cobiçada, sua
alma indígena “guarani” de múltiplas etnias. Sua independência do domínio
espanhol sem derramamento de sangue. Sua luta em prol do reconhecimento
político junto as nações vizinhas, seus “ditadores” que escreveram as páginas
memoráveis da sua história inicialmente ao liderar o movimento que resultou na
divisão de riqueza, (terras férteis) no primado do trabalho, na dignidade
humana e na soberania nacional.
Contraditoriamente
as baixas temperaturas, meu coração foi aquecido com autêntica a história do
Paraguay, bem diferente da versão que nos bancos escolares ouvimos e lemos. Já
foi dito que para saciar a sede, deve beber na fonte e não há apenas a
história, são histórias.
Na
retrospectiva chegamos a José Gaspar Rodrigues de Francia, que na
independência, após o final do governo triunvirato, sagrou-se Presidente no
regime ditatorial. Feita a distribuição das terras e rendas, incentivou o
crescimento econômico com base na mentalidade: que o País produzisse bens e
serviços ou seja, tudo que precisasse. Respeitando os costumes indígenas,
valorizando capital e trabalho. Dom Gracia jamais recebeu um salário sequer,
privilégio ou vantagem pessoal ou familiar. Seu propósito era acima de tudo o
bem do Paraguay.
O
Museu Mitológico, o primeiro da América do Sul, um dos poucos do mundo. É uma atração
à parte. Lá a imaginação vai muito longe... Vê-se em grandes esculturas: Tau y
Kerana, seres mitológicos que da sua união carnal nasceram sete monstros
sobreviventes que assustam “ninos” crianças e espalham maldição. Entre elas, o
Lobsomen que amaldiçoa o sétimo varão do casal, precisando ser abençoado por
outras entidades mitológicas, como Tupã deus sol, para ter no caso, grande
poder. Por exemplo ser Presidente. Há quem diga que aconteceu com Francisco
Solano Lopes, um dos grandes nomes da história do Paraguay.
O
Museu é um misto de Mitologia e História, destaque para as Missões dos Padres
Jesuítas. Imagens e relatos que provocaram em mim, expressar meu
entendimento/sentimento em relação ao marco histórico lá existente, qual seja,
tudo sobre a guerra da Tríplice Aliança que dizimou o Paraguay. Da sua
população cerca de 90% foi morta. Dos 10% restantes, 90% eram mulheres. Muitas
e muitas crianças e adolescentes deram suas vidas... há monumentos com esses dados.
O heroico povo “guarani” viu ser morto Solano Lopez ... que resistiu bravamente
aos interesses das elites. Lopez para os paraguaios é reverenciado, figura
humana notável, de alma sensível, poeta que dominava sete idiomas. Já o
brasileiro Duque de Caxias para os paraguaios é persona “non grata” e o Conde
D`Eu aquele conhecido “comandante sanguinário” é a personificação da crueldade,
do infanticídio.... Como dói nos “el manos” O Brasil nunca lhe ter feito
oficial pedido de desculpas (perdão).
Vê-se
assim que o Paraguay renasceu como nação forte, altiva e destemida no ombro no
colo feminino, no pulsar do coração fiel às suas tradições, valente, telúrico,
indígena...Hoje este pequeno, grandioso Paraguay é um dos maiores exportadores
de carne e soja do mundo. Produz quase tudo que consome. Tem 13 Universidades
renomadas do sul americano, onde milhões de brasileiros e africanos se formam,
inclusive em mestrados e doutorados nas mais diversas áreas do saber humano.
Importante
lembrar a despedida dos turistas ao som da inconfundível Harpa, belas guarãneas:
Recuerdo de Ypacaraí, Galoupera, Beja-me mucho... e canções do Roberto Carlos,
quanta amabilidade. Há de se lembrar sempre da Virgem de Caacupe, seus
milagres, todos contados com fortes sentimentos de religiosidade. Belas
Igrejas. Suas ervas medicinais, o “terere” sua mística. O magnífico Rio
Paraguay, sereno, navegável, a flutuar sonhos e transportar riquezas. Suas
encantadoras cidades: São Lourenço, São Bernardino, Luque. Seu artesanato, seus
trabalhos em filigrana, inclusive ouro e prata. Como não reconhecer que é
“milionário” quem vai ao Paraguay. Quem conhece o Paraguay, ama o Paraguay!
Teresina,
25 de julho de 2018
Caros Demerval e Sílvia,
ResponderExcluirQualquer dia apareço para ouvir o bravo maestro Demerval cantar com o seu fôlego de sete gatos a Galopeira ou então a guarânia Recuerdos de Ypacaraí.
Parabéns por mais esta importante conquista do Demerval, o seu título de Mestre, coisa que ele já era, com ou sem diploma.
Abraço,
Elmar