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DEPOIMENTO SOBRE DANILO DE MELO
SOUZA
Alcenor
Candeira Filho
De 1982 a 1984 fui professor de Danilo de Melo Souza no curso científico
da Unidade Escolar Alcenor Candeira (Cobrão), período em que pude observar seu
grande interesse pela literatura e pelo jornalismo. Nessa época produziu os
primeiros poemas e foi um dos principais colaboradores do jornal estudantil O
IMPACTO.
Destemido e dinâmico líder estudantil,
capaz de trazer dores de cabeça a dirigentes escolares, o jovem Danilo Melo
desempenhou em Parnaíba intensa atividade nas áreas social, política,
educacional e cultural:
- presidente do Diretório Acadêmico 03 de
Março (CMRV/UFPI);
- presidente do diretório municipal do
Partido dos Trabalhadores-PT;
- idealizador e coordenador do grupo de
poesia “A Veiz do Ônzimo”;
- membro fundador da Associação dos
Artistas e Técnicos de Parnaíba – ASATERP;
- apresentador do programa “Rádio Rock-‘N-Roll”, na Rádio Educadora de
Parnaíba;
- editor e fundador do jornal LITORAL
NEWS, primeiro jornal de turismo de Parnaíba;
- editor do jornal universitário O TETEU,
órgão de divulgação do Diretório Acadêmico 03 de Março;
- colaborador do jornal INOVAÇÃO;
- integrante de POEMARÍT(I)MOS, antologia
de poetas piauienses editada em 1988 pela secretaria de cultura do Estado
do Piauí;
- membro da Academia Parnaibana de Letras
_APAL aos 24 anos de idade;
- secretário de cultura de Parnaíba na
primeira administração de José Hamilton Furtado Castelo Branco (1993-1996).
Na vitoriosa trajetória de vida, Danilo Melo concluiu em
1989 na Universidade Federal do Piauí/Campus Ministro Reis Velloso o curso de
Licenciatura Plena em Pedagogia, tendo sido o orador da turma. O discurso por ele proferido na solenidade de formatura
é rico de conteúdo e de largo sentido utilitarista, questionando a prática do
saber na universidade, a crise deste saber, o ofuscamento da razão e o
relativismo que de maneira alienante estabeleceu uma cumplicidade, uma ausência
de cobrança mais rígida do papel dos alunos e dos professores no contexto
universitário:
“Desejávamos
uma reforma profunda na maneira de se
pensar e administrar a nova
universidade. Tivemos êxitos e derrotas,
amadurecemos
na luta. Desejávamos participar de um centro
de
excelência e
fomos abandonados num centro onde se privilegiou
atuação dos
currículos ultrapassados, longe da realidade
que
nos cerca e –
por que não dizer? - demasiado
tecnicista em
detrimento da
reflexão do aprofundamento do debate e
da
livre
circulação das ideias.
O saber na universidade e a difusão do conhecimento
puro estão
comprometidos pelo caráter gerencial, excludente e
privatista
que esta instituição adquiriu, por conta da intervenção
autoritária
das políticas governamentais, que protegeram a
ascensão do
ensino privado, o sucateamento da escola pública
e o
afastamento das classes populares do ensino superior”.
Danilo Melo cultivou o jornalismo em Parnaíba
de forma amadorística mas com a garra e a responsabilidade peculiares aos
grandes profissionais da imprensa. Sabedor
da importância do jornal como veículo de comunicação social, nele ocupou
espaço não para fazer promoção pessoal ou para ser simpático à burguesia
sonolenta, mas para lutar pela democracia e pela dignidade da pessoa humana.
Jornalismo livre, sem peias, sem medo, sem qualquer subordinação a grupos
econômicos ou a facções políticas; jornalismo sem propinas, sem puxa-saquismo,
sem cargos públicos; jornalismo limpo,
transparente, atraente.
Como poeta, Danilo Melo reuniu seus
principais versos na antologia POEMARÍT(I)MOS (1988), prefaciada por Renato
Castelo Branco, e no livro (IN)CERTOS VERSOS E ALGUMA (P)ROSA (2010), editado
em Palmas-TO. Desse livro, em cujo lançamento em Parnaíba tive a honra de
fazer a apresentação, diz o autor na
contra-apresentação:
“Em 1981,
comecei a escrever prosa poética. Eram
escritos de
adolescente com pouca imaginação, exagerado
romantismo, e de
um passadismo que anunciava tardiamente o
'mal do século’
oitocentista.
Alguns anos depois, junto a um grupo
de jovens
subversivos (o
11º ou o ‘ônzimo’) saímos por aí com a ideia
maluca de mudar
o mundo por intermédio da purificação da
palavra. Fazíamos poemas coletivos, nos reuníamos para
percorrer
bares e
restaurantes e participávamos de saraus literários nem
sempre bem
compreendidos.
Descobrimos na inspiração dos
poetas marginais dos
anos 70 e dos
Beatinics que a literatura deveria
‘desafinar o coro dos
contentes’. Uma
vanguarda poética mais panfletária que
propriamente
proletária, numa privíncia de frente para o mar.
Arrotávamos
Maiakosvski, Breton, Ginsberg, Torquato, Mário
Faustino e Chacal
com uma intimidade duvidosa..
(...)
Assim deve ser a poesia, uma arte, que ao contrário do
que se imagina
requer dedicação, empenho e paciência. Ninguém
haverá de deitar
sadio e acordar poeta. Poesia não é dor de cotovelo,
nem declaração desajeitada de
apaixonados. Poesia é também uma
arte de
solitários, é o reino da concisão”.
Pelo teor de sua produção, constata-se que
efetivamente o poeta não crê na poesia a que baste a beleza para justificar-se.
Ao contrário, acredita na poesia que concorra para o desenvolvimento da
consciência humana, na poesia enfim que sirva à sociedade, - testemunhando-a,
observando-a, analisando-a, interpretando-a, para que o poema seja um documento
vivo e expressivo de um povo, em certo momento histórico. Poesia não é
instrumento de deleite, nem analgésico para dores de cotovelo. Poesia é o que
conscientiza emocionando, ou, se preferirem, o que emociona conscientizando.
Poesia ativa, útil, solidária, poesia que, na síntese drummondiana, “...faça
acordar o homem/e adormecer as crianças”.
E porque acredita na natureza utilitarista
da poesia, é que Danilo Melo escreve versos como estes:
“Piso as mesmas pedras
com o mesmo tênis e
ninguém reparou nos meus pés.
Sei onde piso.
Piso na águia
americana, na suástica nazista e
nos monumentos a
Somoza.
Faço parte dos que
pisam diariamente,
tive a lúcida ideia de pisar.
A oportunidade de
pisar deve ser única,
a não ser que se faça
corpo mole.
Pisar é uma ideia, uma lâmina..
Em se pisando
machuca um pouco.
- Qual o corte não
doloroso?
- Qual a vida não
sofrida?
E será mesmo sina
pisar um pouco em tudo e em todos?”
Diversos poetas em diferentes momentos
produziram poemas inspirados na cidade de Parnaíba. Via de regra, são poemas
laudatórios e cívicos, estruturados nos moldes clássicos, passadistas, ora em
forma de soneto, ora em forma de ode. Dentre os poemas que li sobre Parnaíba,
nenhum me comoveu tanto quanto o de Danilo Melo, denominado “Parnahyba”,
importante trabalho de re-criação poética resultante do desenvolvimento
parafrástico do poema “América”, de Allen Ginsberg, reconhecido como o maior
poeta da geração beat.
Os saudosistas de velhas escolas
literárias insurgem-se não raro contra a poesia espontânea, irreverente e
contestatória que rompeu com as barreiras acadêmicas da poesia tradicional.
É preciso, porém, deixar dito o seguinte:
essa gente que, por ingenuidade ou má-fé, contesta e detesta poesia não passadista, não acomodada a
preceitos e preconceitos estéticos, - essa gente está de fato é fazendo o
papel dos reacionários da arte, dos
autores e/ou consumidores de uma poesia que já nasce ultrapassada e, assim, não
admitem versos como estes:
“Parnaíba, vi de uma só vez: 50
favelas sem água, luz, piso, almoço,
[café
da manhã
e porra nenhuma.
(...)
Parnaíba, estão corrompendo um
ciclo histórico.
Não deixe o rio secar, tenho de
pular da ponte
E um monte de malinação.
Parnaíba, intervirei em teu
coração.
Meu lado burguês pragmático
conquistará teu terreno, teus olhos...
Pois o amor é o final de nossas
contas.
E você me perdoará, estou certo
Parnaíba, curral ontem, curral
hoje, curral sempre”.
Depois de realizar excelente gestão na secretaria municipal de cultura, Danilo
Melo teve que deixar Parnaíba em razão de perseguição política, passando a
residir na capital de Tocantins, onde fez mestrado em educação, ingressou no
quadro docente da Universidade Federal de Tocantins e exerceu os cargos de
secretário de educação e cultura do município de Palmas e em seguida de
secretário estadual de educação e cultura, reconduzido em 2014 ao cargo de
secretário de educação e cultura de Palmas.
Filho de Alípio Firmino de Souza e de
Isabel Melo, Danilo nasceu em Parnaíba-PI em 1965 e é casado com Christina
Rosa, com quem tem os filhos Victor e Daniel.
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