domingo, 7 de abril de 2019

Seleta Piauiense - José Henrique Licurgo de Paiva

Fonte: Google


Queixas

José Henrique Licurgo de Paiva (1842 - 1887)

Não me queixo dos outros só gozarem
Os prazeres do mundo encantador,
Nem maldigo a ninguém, de inveja infame,
Por no baile inspirar a muito amor.

Não me queixo da vida que outros levam,
Nem de nunca num baile delirar;
Não me queixo! Talvez até dou graças!
Gosto mesmo já pouco de bailar!

Só me queixo do fado que me segue,
Negro fado, meu Deus! Que não tem fim!
Que me arranca na vida as longas penas
Da esperança gentil do serafim.

Não me queixo, meu Deus! Do mundo inteiro
Ser feliz, quando eu sofro em solidão!
Não me queixo! Só sinto é que, tão moço,
Viva em gelo meu pobre coração!

Dá, Senhor, que esta vida não perdure,
Que eu não morra no ermo a que me impus;
Seja embora depois sacrificado,
Chore ao peso depois de imensa cruz!     

4 comentários:

  1. Chico Acoram Araújo7 de abril de 2019 às 11:05

    “Na escarpa de um morro bem deserto,
    A paz da viração da gente ingrata,
    De murtas povoado;
    Eu quero que meu leito seja aberto
    Descansem meu corpo democrata
    Na vida abandonado.”
    (L. de Paiva)

    Licurgo, grande poeta piauiense, foi encontrado morto em uma estrada no antigo termo de Jerumenha.

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  2. Caro Acoram,
    Em meu discurso de posse na Academia Piauiense de Letras, tive a oportunidade de dizer sobre ele que é o patrono de minha cadeira de nº 10: "Licurgo José Henrique de Paiva, cuja carreira literária foi inicialmente tão auspiciosa, tão plena de esperança, foi depois gradativamente declinando até o seu trágico e melancólico crepúsculo, através de uma série de vicissitudes, em sua vida particular e profissional, sobretudo ocasionadas pela dipsomania, que frustrou todos os bons augúrios com que os astros lhe acenavam. Na derrocada final do sol negro da desgraça, terminou sendo enterrado numa sepultura por muitos considerada ignota, em lugar remoto do Piauí. (...) O acadêmico, advogado e valoroso pesquisador de nossa história Reginaldo Miranda, referindo-se à sepultura de Licurgo, conta-nos que o vate, do alpendre da casa-grande da fazenda Santo Antônio, em que se encontrava em busca de cura para a tuberculose que o consumia, apontando para um morro que havia em frente, pediu fosse sepultado no seu cume. O seu anfitrião lhe fez ver que não seria possível tal escalada fúnebre. Licurgo pediu então para ser enterrado à sombra de uma frondosa pitombeira que até pouco tempo existia."
    Abraço,
    Elmar

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  3. Chico Acoram Araújo7 de abril de 2019 às 13:39

    Licurgo José Henrique de Paiva escolhido como Patrono da Cadeira nº 10; cadeira que teve como seu 1º ocupante o eminente poeta Celso Pinheiro. Depois, sucessivamente, Monsenhor Antônio Monteiro de Sampaio, o 2º; Como 3º, o grandioso escritor e poeta H. Dobal. Hoje, a Cadeira é ocupada por um dos maiores poeta piauiense da atualidade, o ilustre beletrista Elmar Carvalho, autor do romance “Histórias de Évora” e dos livros de poesias “Rosa dos ventos gerais” e “Lira dos Cinquentanos”.
    Essas foram minhas considerações finais de uma crônica que escrevi em homenagem a esse grande poeta piauiense, com o título LICURGO DE PAIVA, A DESVENTURA DE UM BRILHANTE POETA, que tive a honra de ser publicado aqui no seu blog e também em Folhas Avulsas.

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  4. Mestre Acoram,
    Seu comentário acima me desvaneceu, como diriam os doutos e apedeutas (palavra divulgada pelo grande Carlos Said, em seus antológicos comentários na Rádio Pioneira de Teresina, nos áureos tempos do futebol piauiense). Valeu!

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