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GULLAR
Weliton Carvalho
Juiz de Direito e poeta
É
quando a vida se imiscui do humano
que
todas as cores cintilam inteira luz
e se alumiam os porões mais íntimos do
existir
tal fachos de relâmpagos sobre as
tempestades
loucas
do desejo de sentir o vulcão da beleza
transbordando
o puro na impureza do feto
que traz consigo placenta, soluços e
esperança.
Quando
não há mais limite entre o horrendo e o belo:
ambos
siameses da poesia esmerilada em amarelo-girassol:
fogo escorrendo em larvas grossas na
temperatura exata
em que os metais se fundem em danação e
total doçura.
E
o vento é tanto que se abrem portas, baús, memória:
se arrebentam lençóis e cheiro de
alfazema,
na maresia dentro de uma ilha para além de rios
e mares
a desembocar no insólito e
indizível,
onde
mesmo a voracidade da poesia diz tão pouco,
mas
só ela pode penetrar com tanta cumplicidade
e tentar, uma vez mais, iluminar o
humano:
eis o reino a descobrir: tudo é tão
novo:
o
que se tem é a fala, a prosa, o vulgar, a vida menor a pulsar:
a matéria-prima com que a poesia há de
construir o belo.
Neste
lençol encardido, nestes dias de nódoas profundas,
nesta
sujeira entranhada, nascerá o sublime, o cristal,
uma sinfonia límpida soprando
alucinada
e reinventando o mundo.
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