terça-feira, 4 de agosto de 2020

CANINDÉ CORREIA, EU E O JORNAL INOVAÇÃO

Canindé e Tânia
Canindé a desmontar um suculento crustáceo


CANINDÉ CORREIA, EU E O JORNAL INOVAÇÃO

Vicente de Paula Araújo Silva
Escritor e historiador 
   
Hoje, o amigo Canindé Correia, estaria completando 77 anos de vida. Em alusão a data natalícia não vista por ele aqui na terra, fui buscar na lembrança alguns fatos de nossa saudável convivência, registrada em artigo inédito escrito em 16 de fevereiro deste ano. 

Antes, bem antes de conhecer Canindé Correia, os nossos antepassados já tinham contatos, pois, meu avô Clarindo Honorato prestara serviços às empresas dos seus avós, bem como, posteriormente, meu pai Ição trabalhou na Indústria Moraes até ir para a Estrada de Ferro Central do Piaui, enquanto, o tio Leonel desenvolveu, até a sua aposentadoria,  atividades mecânicas na empresa Moraes Importação, ambas da família Moraes Correia.

     A nossa aproximação ocorreu através das peladas de bola existentes nas proximidades do então Colégio São Luiz Gonzaga, as quais eram comandada pelo saudoso Carlos Alberto Correia, e delas participavam outros membros de sua família como Chico e Paulo do Sr. Joaz, os gêmeos João Silva Neto e José Silva. Daí, surgiu o time da Portuguesa que chegou a disputar o campeonato infanto-juvenil no campo da Santa Casa, onde os atletas atuavam calçados de chuteiras, tal e qual, na Liga Parnaibana de Futebol.

   Já em 1961, fazíamos o 1º ano científico em Recife, estudando em colégios diferentes, mas, sempre a gente se encontrava para atualizar as notícias de Parnaíba, tendo inclusive participado de alguns momentos juntos, como na vigília pró-Cuba, ocorrida na sede das Ligas Camponesas de Pernambuco, quando da invasão da Ilha dos Porcos por mercenários enviados pelo governo americano.  

  Estava eu no Rio de Janeiro a partir de 1965, quando ele foi fazer o vestibular para Ciências Econômicas na famosa Universidade Estadual da Guanabara, e logrando êxito fixou-se como estudante indo morar no Flamengo, onde residia um razoável número de parnaibanos, entre eles este escriba. 

Diante essa reaproximação, nos finais de semana passamos a frequentar às sessões de cinema à meia-noite no Cine Paissandu, tomar chopinhos na madrugada em bares do bairro Flamengo, frequentar a praia e nos domingos a tarde assistir aos jogos de futebol no Maracanã, principalmente, quando jogavam o meu Vasco da Gama ou o Fluminense, clube de sua paixão.    

   Concluído seu período acadêmico, retornou à Parnaíba, onde passou a exercer com dedicação, altas funções profissionais na FIEPI e SESI, enquanto, eu fui trabalhar no Maranhão no exercício de minha profissão no âmbito da Eletrotécnica.

  Os nossos caminhos mais uma vez se cruzaram, quando, em 1977, a trabalho, estive implantando a eletrificação rural da região do Baixo Parnaíba maranhense, e já casado resolvi em 1979, fixar residência na nossa PHB.

 Sabendo ele da minha participação política em movimentos nacionalistas a partir da luta contra o fechamento do restaurante de estudantes “Calabouço”, no Rio de Janeiro, que culminou na morte do estudante Edson Luiz, no ano de 1968, intimou-me a colaborar com o INOVAÇÃO, um jornal combatente que reunia na cidade alguns jovens idealistas, defensores do retorno do país ao regime democrático e de novos rumos para o desenvolvimento da Parnaíba. Eram editores do pasquim os jovens Reginaldo Costa, Franzé Ribeiro e Olavo Rebelo, enquanto, Canindé Correia, era o guru do grupo. 

Dada a nossa amizade e atendendo ao seu chamamento, iniciei como “DE PAULA” , uma correspondência imaginária com Simplício Dias, que era meio-irmão de Antonino Ferreira de Araújo e Silva, que, segundo fontes orais, teria sido antepassado de Mariano Ferreira de Araújo, meu avô. E assim, na sua 13ª edição, surgiu nas páginas do Jornal Inovação, a série  de artigos em bilhetes   “ Missivos para Simplício Dias” , que na realidade passaram ser missivas.

Foi através do INOVAÇÃO que participamos de grandes jornadas em favor da Parnaíba e da nação, salientando-se entre elas :  Lutas Contra a Grilagem de Terras, Campanhas Pró-Teatro , Consolidação da Fundação Assis Brasil , Solidariedade às Lutas dos Índios, Mulheres e Classe Trabalhadora em Geral, Consolidação dos Tabuleiros Litorâneos,  bem como, RECONSTRUÇÃO DA PRAÇA DA GRAÇA e participação ativa nas Iniciativas de âmbito nacional por DIRETAS JÁ e ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE. 

Ainda, dentre outras participações, estivemos juntos na organização do célebre comício na área do Balão da Guarita, quando, a nossa cidade recebeu em 1980, o líder classista Luiz Antônio da Silva, o Lula, para a fundação do PT-Partido dos Trabalhadores, bem como, da estratégia para a escolha do candidato José Hamilton Furtado Castelo Branco à Prefeitura Municipal de Parnaíba , indicado pelo então Prefeito Francisco de Assis Moraes Souza , o Mão Santa.  E aí me vem a lembrança do nosso manifesto distribuído do dia da convenção nas dependências da Escola Simplício Dias, quando, devido ao clima divergente ao nome de Zé Hamilton, promovido por alguns membros da coligação que se formaria, lançamos um manifesto, redigido e impresso em mimeógrafo sob autoria do anônimo “Potência”, pseudônimo logo identificado pelo saudoso Antônio José Moraes Souza, um dos patronos  na escolha e eleição  de Zé Hamilton a Prefeito de nossa PHB.      

Há pouco tempo, precisamente em 25/08/2019 , alguns remanescentes do Inovação, moradores na PHB, coordenados por Reginaldo Costa, resolveram lançar uma edição especial alusiva aos 40 anos da queima dos tapumes da Praça da Graça, naquela noite memorável em 31 de agosto do ano de 1979, quando, através da auto estima e brio , o povo participou ativamente da quebra e queima dos tapumes de uma obra que não se efetuava, e dia após dia, desafiava a paciência da gente parnaibana.  A reunião , para tal fim,  foi em sua residência e ele mesmo já alquebrado pela doença que o consumia, participou ativamente da pauta em que estiveram presentes os colaboradores Airton Meneses, Airton Porto, Edinólia Fontenele, Helder Fontenele , Elmar Carvalho , Paulo Couto e este escriba. 

Realmente,  em 31 de agosto de 2019, sábado pela manhã, aconteceu o evento de lançamento da edição especial do Inovação, mas, tal e qual,  aconteceu  no pré-lançamento na residência do poeta Paulo Couto, ele não se fez presente. 

 O fato de suas ausências nos dois últimos eventos do Inovação , foi que o meu colega, companheiro, compadre e verdadeiramente amigo, após uma bem sucedida cirurgia, dada a sua especial e cuidadosa convalescença,  agregou à sua enfermidade um elevado grau depressivo, que mesmo tendo todo o aconchego familiar, aos poucos foi debilitando o seu estado físico, levando-o  à morte. 

Canindé, na sua discreta, mas, atuante vida cidadã, colaborou com muitas instituições governamentais e não governamentais, ajudou e orientou muitos jovens humildes, os quais, atualmente, exercem funções destacadas na cidade e em outras lugares no país, mas, todos reconhecedores da sua importância para os seus sucessos como profissionais nas mais variadas atividades laborais. 

Também, em seus momentos de lazer, foi um amante da romântica, mas, pura “Doce Vida”, quando, em noites boêmias na Beira-Rio, deleitava-se ouvindo uma boa música, vendo o balançar das palhas das carnaubeiras sob o açoite do vento forte que vem do mar da Pedral-Pedra do Sal, sua grande paixão litorânea. 

Antes do seu passamento para a eternidade, conversávamos pessoalmente ou pelo telefone quase que diariamente, tratando de assuntos em geral, com ênfase a assuntos pertinentes à nossa PHB , ao Piaui , ao Brasil,  e ao encaminhamento na vida dos nossos filhos e netos nas trilhas do mundo atual.   A nossa amizade era leal ,  respeitosa e cúmplice, pois dividíamos desde a juventude, sonhos, realizações e naturalmente, cada um,  algumas metas não alcançadas, que não nos impediram de viver  em parceria,  muitos momentos felizes que estarão sempre comigo em vida, através de lembranças e saudade do amigo que se foi para a eternidade.  

PHB, 16/02/2020 – Vic.

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