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O CULPADO É O CRIADOR
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Para
os extremistas, os maria vai com as outras, como são alguns defensores
ferrenhos da ideia de que somos, naturalmente, destrutivistas, destrucionistas,
não eles, mas outros de nós, por os trazermos para nosso meio, os centros
urbanos ou mesmo rurícolas, tirando-os de seus habitats, seríamos responsáveis
pela proliferação ou mutação de microrganismos como os vírus, as bactérias e os
fungos; assim como, pela quase domesticação das capivaras que vimos, já nestes
dias pandêmicos, graças à placidez e calmaria de algumas grandes cidades
isoladas pelo coronavírus, enfileiradas, em passeios matinais e vespertinos
pelas ruas, olhando as vitrines – talvez, nada comprando por falta de
vendedores -; dos saguis, os macacos-prego, aves como as rolas (conheço-as por
rolinhas), o canoro e bravo canário amarelo – sê bem-vindo, amigo! -, os
bem-te-vis, os pombos, e tantos outros indivíduos da fauna, para dentro de
nossos lares, a dividir conosco os alimentos; as cobras, também, já são de
casa, ou nossas vizinhas, como os escorpiões e as lacraias. As baratas e os
ratos, esses não nos largam nunca: somos unha e carne com eles, desde sempre.
As abelhas, sou obrigado a admitir que, com elas, estamos, de fato, sendo
deveras irresponsáveis, tratando-as muito mal, enxotando-as para o mais longe
possível, levando-as ao caminho da extinção; se isso acontecer, aí, sim, vamos
comer o pão que o diabo amassou, e que não vai ser suficiente para todos.
Também
somos acusados, graças à poluição que produzimos, de contribuir para esburacar
a camada de ozônio; também por conta da danada poluição e outras coisinhas
mais, como o assoreamento das margens dos mananciais fluviais, por levar esses
a secarem; pelo degelo dos icebergs e de outras plataformas geladas, o que faz
aumentar o nível dos oceanos e mares, que, por conseguinte, inundam regiões
situadas abaixo de seu nível ideal. Pela loucura, enfim, do clima, temos uma
participação absurda de culpa. Por conta de nossa busca desenfreada para ocupar
espaço onde pretendemos instalar essas metáforas humanas que chamamos progresso
e desenvolvimento, ainda que objetivando proporcionar melhoria existencial na
vida de tantos, acusam-nos, contrariamente, de, com isso, levarmos males e
perrengues a muitos irmãos.
Para
os que insistem em pensar assim, tão malevolamente, sobre o homem, melhor
dizendo, a respeito das ideias e decisões que tomamos, e que causam tanta
desgraça aos habitantes da terra, quiçá, não ao universo conhecido e por
conhecer, possivelmente, somente não seríamos invasores, depredadores ou
destruidores em poucos lugares terrestres. À África não deveríamos ter ido, eis
que, antes de nossa chegada, já lá se encontravam o leão, o rinoceronte, a
girafa, a zebra, os tigres, leopardos, gnus, hipopótamos, outros antílopes, os
grandes macacos e as cobras famosas. Na Oceania, Austrália e/ou Nova Zelândia,
nem pensar: quem defenderia de nós animais precursores como os ornitorrincos,
os cangurus, o coala, o diabo da tasmânia, o elefante-marinho? Nas Américas,
descobertas e habitadas depois dos outros continentes, na do Norte, cercados de
cuidados, algumas porções territoriais do Canadá, Estados Unidos e México,
habitadas ou pouco ocupadas por seus ursos, salmões, lobos, onças, os
aligátores, poderíamos ocupar. Na Central, talvez desse para convivermos com
papagaios, tucanos e outros pássaros, desde que não mexêssemos com peixes e
anfíbios. Na América do Sul, como cá já estavam muito tempo antes de nós, os
condores, as onças-pintadas, as sucuris, os búfalos, florestas gigantescas,
intocadas, intocáveis, sagradas; índios, rãs minúsculas, salamandras,
borboletas multicoloridas, pernilongos; honestamente? também não seria lugar
para nós. A Europa, o velho continente, lá, provavelmente, fosse um bom
habitat; tartarugas, veados, texugos, lontras, lobos, morcegos, existem em
quase toda a terra; com uma logística adequada, poderíamos transportá-los ou os
transplantarmos, por exemplo, na América do Sul: por aqui, há climas e
ecossistemas parecidos com os europeus. Desculpem-me os que acharem que estou
exagerando ou sendo irônico. Nem tanto, mestre. Ou será que toda essa
perfumaria que somos obrigados a aspirar, tanta gororoba para engolir, tanto
barulho para ouvir, somente a mim incomodam?
Ainda bem que o criador – para os crentes, aos evolucionistas, a natureza; para os céticos ou agnósticos, o que quiserem – não pensou sobre nós como muitos de nós pensam: que seríamos predadores, destruidores do tipo mais louco e demente: autofágicos. Deu-nos a Terra e o universo para cuidarmos e nos fez superiores às árvores, peixes e demais seres ao nos dotar de inteligência, raciocínio, livre-arbítrio, discernimento; obviamente, impôs-nos restrições ou cerceamentos: disse que deveríamos fazer tudo de forma a não o decepcionar. E quase concluiu: não matem nem se matem.
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